Texto extraído do livro “Caminhando
com Jesus” série A Palavra na Vida – Edição 182/183
Autores: Carlos Mesters e Mercedes
Lopes
Páginas 34 a 37
CEBI Publicações
Nos versículos 16 a 45 do
primeiro capítulo, Marcos descreve o objetivo da Boa Nova e a missão da
comunidade, apresentando oito critérios para as comunidades do seu tempo
poderem avaliar a sua missão. Tanto nos anos 70, época em que Marcos escreveu,
como hoje, época em que nós vivemos, era e continua sendo importante ter diante
de nós modelos de como viver e anunciar o Evangelho e de como avaliar a nossa
missão.
COMENTANDO
Mc 1, 40-42: Acolhendo e
curando o leproso, Jesus revela um novo rosto de Deus
Um leproso chega perto de
Jesus. Era um excluído. Devia viver afastado. Quem tocasse nele ficava impuro
também! Mas aquele leproso teve muita coragem. Transgrediu as normas da
religião para poder chegar perto de Jesus. Ele diz: "Se queres, podes
curar-me!" Ou seja: "Não precisa tocar-me! Basta o senhor querer para
eu ficar curado!" A frase revela duas doenças: 1) a doença da lepra que o
tornava impuro; 2) a doença da solidão a que era condenado pela sociedade e
pela religião. Revela também a grande fé do homem no poder de Jesus.
Profundamente compadecido, Jesus cura as duas doenças. Primeiro, para curar a
solidão, toca no leproso. É como se dissesse: "Para mim, você não é um
excluído. Eu o acolho como irmão!" Em seguida, cura a lepra dizendo:
"Quero! Seja curado!" O leproso, para poder entrar em contato com
Jesus, tinha transgredido as normas da lei. Da mesma forma, Jesus, para poder
ajudar aquele excluído e, assim, revelar um rosto novo de Deus, transgride as
normas da sua religião e toca no leproso. Naquele tempo, quem tocava num
leproso tornava-se um impuro perante as autoridades religiosas e perante a lei
da época.
Mc 1, 43-44: Reintegrar os
excluídos na convivência fraterna
Jesus não só cura, mas também
quer que a pessoa curada possa conviver. Reintegra a pessoa na convivência.
Naquele tempo, para um leproso ser novamente acolhido na comunidade, ele
precisava ter um atestado de cura assinado por um sacerdote. É como hoje. O
doente só sai do hospital com o documento assinado pelo médico de plantão.
Jesus obrigou o fulano a buscar o documento, para que ele pudesse conviver
normalmente. Obrigou as autoridades a reconhecer que o homem tinha sido curado.
Mc 1, 45: O leproso anuncia
o bem que Jesus fez e ele e Jesus se tornam excluídos
Jesus tinha proibido o
leproso de falar sobre a cura. Mas não adiantou. O leproso, assim que partiu,
começou a divulgar a notícia, de modo que Jesus já não podia entrar
publicamente numa cidade. Permanecia fora, em lugares desertos. Por quê? É que
Jesus tinha tocado no leproso. Por isso, na opinião da religião daquele tempo,
agora ele mesmo era um impuro e devia viver afastado de todos. Já não podia
entrar nas cidades. Mas Marcos mostra que o povo pouco se importava com estas
normas oficiais, pois de toda a parte vinham a ele! Subversão total!
O duplo recado que Marcos dá
às comunidades do seu tempo e a todos nós e este: 1) anunciar a Boa Nova é dar
testemunho da experiência concreta que se tem de Jesus. O leproso, o que ele
anuncia? Ele conta aos outros o bem que Jesus lhe fez. Só isso! Tudo isso! E é
este testemunho que leva os outros a aceitar a Boa Nova de Deus que Jesus nos
trouxe. 2) Para levar a Boa Nova de Deus ao povo, não se deve ter medo de
transgredir normas religiosas que são contrárias ao projeto de Deus e que
dificultam a comunicação, o diálogo e a vivência do amor. Mesmo que isso traga
dificuldades para a gente, como trouxe para Jesus.
ALARGANDO
O Anúncio da Boa Nova de
Deus feito por Jesus
A prisão de João fez Jesus
voltar e iniciar o anúncio da Boa Nova. Foi um início explosivo e criativo!
Jesus percorre a Galiléia toda: as aldeias, os povoados, as cidades (Mc 1,39).
Visita as comunidades. Ele muda de residência, e vai morar em Cafarnaum (Mc
1,21; 2,1), cidade que fica no entroncamento de estradas, o que facilita a
divulgação da mensagem. Ele quase não para. Está sempre andando. Os discípulos
e as discípulas com ele, por todo canto. Na praia, na estrada, na montanha, no
deserto, no barco, nas sinagogas, nas casas. Muito entusiasmo!
Jesus ajuda o povo prestando
serviço de muitas maneiras: expulsa maus espíritos (Mc 1,39), cura os doentes e
os maltratados (Mc 1,34), purifica quem está excluído por causa da impureza (Mc
1,40-45), acolhe os marginalizados e confraterniza com eles (Mc 2,15). Anuncia,
chama e convoca. Atrai, consola e ajuda. É uma paixão que se revela. Paixão
pelo Pai e pelo povo pobre e abandonado da sua terra. Onde encontra gente para
escutá-lo, ele fala e transmite a Boa Nova de Deus. Em qualquer lugar.
Em Jesus, tudo é revelação
daquilo que o anima por dentro! Ele não só anuncia a Boa Nova do Reino. Ele
mesmo é uma amostra, um testemunho vivo do Reino de Deus. Nele aparece aquilo
que acontece quando um ser humano deixa Deus reinar, tomar conta de sua vida.
Pelo seu jeito de conviver e de agir, Jesus revelava o que Deus tinha em mente
quando chamou o povo no tempo de Abraão e de Moisés. Jesus desenterrou uma
saudade e transformou-a em esperança! De repente, ficou claro para o povo: “Era
isso que Deus queria quando nos chamou para ser o seu povo”!
Este foi o começo do anúncio
da Boa Nova do Reino que se divulgava rapidamente pelas aldeias da Galiléia.
Começou pequena como uma semente, mas foi crescendo até tornar-se árvore
grande, onde o povo todo procurava um abrigo (Mc 4,31-32). O próprio povo se
encarregava de divulgar a notícia.
O povo da Galiléia ficava
impressionado com o jeito que Jesus tinha de ensinar. "Um novo
ensinamento! Dado com autoridade! Diferente dos escribas!" (Mc 1,22.27).
Ensinar era o que Jesus mais fazia (Mc 2,13; 4,1-2; 6,34). Era o costume dele
(Mc 10,1). Por mais de 15 vezes o Evangelho de Marcos diz que Jesus ensinava.
Mas Marcos quase nunca diz o que ele ensinava. Será que não se interessava pelo
conteúdo? Depende do que a gente entende por conteúdo! Ensinar não é só uma
questão de ensinar verdades novas para o povo decorar. O conteúdo que Jesus tem
para dar transparece não só nas palavras, mas também nos gestos e no próprio
jeito de ele se relacionar com as pessoas. O conteúdo nunca está desligado da
pessoa que o comunica. Jesus era uma pessoa acolhedora (Mc 6,34). Queria bem ao
povo. A bondade e o amor que transparecem nas suas palavras fazem parte do
conteúdo. São o seu tempero. Conteúdo bom sem bondade é como leite derramado.
Marcos define o conteúdo do
ensinamento de Jesus como "Boa Nova de Deus" (Mc 1,14). A Boa Nova
que Jesus proclama vem de Deus e revela algo sobre Deus. Em tudo que Jesus diz
e faz, transparecem os traços do rosto de Deus. Transparece a experiência que
ele mesmo tem de Deus como Pai. Revelar Deus como Pai é fonte, o conteúdo e o
destino da Boa Nova de Jesus.
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