terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

4ª feira de Cinzas


AS CINZAS

Quando recebemos os ramos no Domingo de Ramos, os levamos para as nossas casas e as colocamos junto aos nossos crucifixos de parede e/ou junto aos nossos oratórios, mas com o tempo eles secam. Quando secam, não devemos jogá-los fora, pois foram bentos pelo presbítero. Por isso, devemos entregá-los na igreja para que sejam queimados e transformados em cinzas, a fim de serem usadas no dia de Quarta-Feira de Cinzas do ano seguinte.

O RITUAL

Na Quarta-Feira de Cinzas, os fiéis são marcados na testa com as cinzas em forma de cruz ou a recebem um pouco sobre as suas cabeças, quando o presbítero pronuncia a seguinte frase, à sua escolha: - "Lembra-te que és pó e que ao pó voltarás!" ou "Convertei-vos e crede no Evangelho!"

PREPARAÇÃO PARA A PÁSCOA

Começa na quarta-feira de cinzas a nossa preparação para a Páscoa.  Colocando cinza sobre a nossa cabeça, como sinal de penitência, isto é, como sinal de que estamos dispostos a nos alinharmos no caminho de Deus com seu projeto de justiça e paz para todos. Além disso, passamos esse dia fazendo jejum, também como sinal de penitência. Serão então quarenta dias de preparação: Quaresma…
 

O QUE CELEBRAMOS

 Quarta-feira de cinzas! Celebramos neste dia o mistério do Deus misericordioso que acolhe nossa penitência, nossa conversão, isto é, o reconhecimento de nossa condição de criaturas limitadas, mortais, pecadoras. Conversão que consiste em crer no Evangelho, isto é, aderir a ele, viver segundo o ensinamento do Senhor Jesus. Numa palavra, trata-se de entrar no caminho pascal de Jesus. “Convertei-vos, e crede no Evangelho”: é o convite que Jesus faz (cf. Mc 14,15). Esta palavra, a gente ouve, recebendo cinzas sobre a nossa cabeça. Por que cinzas? É para lembrar que, de fato somos pó!  Mas não reduzidos a pó!…

A fé em Jesus ressuscitado faz com que a vida renasça das cinzas. Quando o ser humano reconhece sua condição de criatura realmente necessitada da ação de Deus, em Cristo e no Espírito, então Jesus Cristo faz brotar vida de nossa condição mortal. Reconhecer-se assim, é entrar numa atitude pascal, isto é, de passagem com Cristo da morte para a vida.

Esta páscoa, a gente vive na conversão, através dos exercícios da oração, do jejum e da esmola ou partilha de bens e gestos solidários, no espírito do Sermão da Montanha. Páscoa que celebramos na Eucaristia, pela qual aclamamos Deus como aquele que, acolhendo nossa penitência, corrige nossos vícios, eleva nossos sentimentos, fortifica nosso espírito fraterno e, assim, nos dá a graça de nos aproximarmos do seu jeito misericordioso de ser, e nos garante uma eterna recompensa.


SIGNIFICADO DAS CINZAS

Desde a antiguidade, existe o costume de cobrir a cabeça com cinzas, para expressar a submissão a Deus e a decisão de mudar de vida. Foi assim que Davi se cobriu com cinzas para pedir perdão de seu adultério e mudar de vida. Foi assim que os Ninivitas se cobriram com cinzas para mostrar sua mudança de vida, após os 40 dias de pregação de Jonas. Foi assim que a Igreja exigia que os penitentes públicos – que tinham cometido homicídio, um pecado público – passassem os 40 dias da Quaresma, cobertos de cinzas, nas portas das igrejas.

A Quarta-Feira de Cinzas existe desde o século VIII, com imposição das cinzas na cabeça do cristão, para que se reconheça limitada, fraca e imperfeita, convertendo seu comportamento para Deus e mudando sua vida.

Os ramos passam pelo fogo purificador do sofrimento, do aniquilamento do egoísmo e orgulho. Essa passagem pelo fogo é Páscoa, mudança de vida e transformação de comportamento. Assim aqueles ramos ‘vitoriosos’, que simbolizaram a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, iniciando o caminho da cruz para o calvário, estão reduzidos a cinzas. Essas cinzas lembram que Deus se reduziu à morte de cruz, para nos dar a vida eterna, a libertação da morte.

As cinzas significam também, que devemos tomar consciência de nossos limites para motivar a mudança e a purificação de nossa vida. A imposição das cinzas em nossa cabeça significa, ainda, que a comunidade quer nos proteger, nos cobrir de energia e nos dar todas as forças e bênçãos de Deus.

Por isso, o rito das cinzas não pode ser para o povo uma cerimônia vazia ou de caráter mágico. Esse rito quer colocar a pessoa humana em seu verdadeiro lugar diante de Deus, dos outros e da natureza.

O rito das cinzas quer nos deixar com o coração purificado, com a cabeça despojada e desprendida, e com a vontade disposta e decidida.

O tempo, como o fogo, reduz a cinzas nossa vida exuberante. Tudo o que tem vida, com o tempo, envelhece, enfraquece, enruga, murcha, se torna pó. O grão, colocado na terra, morre para frutificar. A mortificação dos sentidos para fortalecer o espírito e o despoja-se da ambição para se voltar aos irmãos e a Deus, é o sentido das Cinzas hoje.


QUARESMA E CELEBRAÇÕES NA QUARTA-FEIRA DE CINZAS

O período da Quaresma corresponde aos quarentas dias anteriores à Semana Santa. Começa na Quarta-feira de Cinzas e vai até o sábado anterior ao Domingo de Ramos. O primeiro dia da quaresma chama-se assim, Quarta-feira de Cinzas, por causa do rito em que se deposita um pouco de cinzas (as cinzas usadas no ritual são provenientes da queima de ramos do ano anterior) na cabeça ou na fronte dos cristãos.

Para os cristãos, a Quaresma é a lembrança dos 40 dias e 40 noites que Cristo passou no deserto e também dos 40 anos que os judeus caminharam até chegarem à Terra Prometida. É o período de penitência e preparação para a Páscoa.

 
SIMBOLISMO DAS CINZAS

Cinzas: são símbolo de penitência, de luto e da finitude da matéria passada pela prova de fogo.
 
Representam simultaneamente o pecado e a fragilidade humana (livro da Sabedoria 15,10; profeta Ezequiel 28,18; profeta Malaquias 3,21). Se cobrir de cinzas é sinal público de arrependimento e forma concreta de colocar-se à prova. É manifestação pública da consciência do pecado e sua abjuração (Judite 4, 11-15; Ezequiel 27, 30), na esperança do perdão misericordioso de Deus.


NOS PRIMEIROS SÉCULOS DO CRISTIANISMO os membros da Igreja que tivessem cometido pecados gravíssimos, motivo de grande escândalo, estavam sujeitos à uma penitência pública, que podia durar semanas ou mesmo anos, segundo a gravidade da culpa.

Vinham estes descalços até a Catedral, no primeiro dia da quaresma. O bispo da cidade depois de exortá-los ao arrependimento dos pecados, os cobria com um cilício, pequena túnica com cinto ou cordão, de material áspero ou grosseiro, trazido diretamente sobre a pele e atirava-lhes uma porção de cinzas na cabeça dizendo ao mesmo tempo: "Lembra-te, ó humano, que és pó e que a pó serás reduzido." Eram jogados então fora da Igreja e não podiam mais entrar nesta enquanto não fosse cumprida a sua penitência.

No século XI, quiseram padres e leigos seguir esta prática de humilhação e penitência, reservada outrora aos pecadores públicos e notórios, e assim no Ocidente a partir do século XII o costume expandiu-se em todas as Igrejas quando os fiéis na Quarta-feira antes da Quadragésima iam receber cinzas em suas frontes.

Hoje a fórmula permanece a mesma : "Lembra-te que és pó, e ao pó hás de voltar.(Gênesis 3,19)", ou diz-se o texto do Evangelho de Jesus segundo Marcos 1,15: "Convertei-vos e crede no Evangelho".


Fontes:
Frei José Ariovaldo da Silva, OFM
Mons. Arnaldo Beltrami
Pe. Fernando Altemeyer Júnior


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