AS CINZAS
Quando recebemos os ramos no Domingo de
Ramos, os levamos para as nossas casas e as colocamos junto aos nossos
crucifixos de parede e/ou junto aos nossos oratórios, mas com o tempo eles
secam. Quando secam, não devemos jogá-los fora, pois foram bentos pelo
presbítero. Por isso, devemos entregá-los na igreja para que sejam queimados e
transformados em cinzas, a fim de serem usadas no dia de Quarta-Feira de Cinzas
do ano seguinte.
O RITUAL
Na Quarta-Feira de Cinzas, os fiéis são
marcados na testa com as cinzas em forma de cruz ou a recebem um pouco sobre as
suas cabeças, quando o presbítero pronuncia a seguinte frase, à sua escolha: -
"Lembra-te que és pó e que ao pó voltarás!" ou "Convertei-vos e
crede no Evangelho!"
PREPARAÇÃO PARA A PÁSCOA
Começa na quarta-feira de cinzas a nossa
preparação para a Páscoa. Colocando
cinza sobre a nossa cabeça, como sinal de penitência, isto é, como sinal de que
estamos dispostos a nos alinharmos no caminho de Deus com seu projeto de justiça
e paz para todos. Além disso, passamos esse dia fazendo jejum, também como
sinal de penitência. Serão então quarenta dias de preparação: Quaresma…
O QUE CELEBRAMOS
A fé em Jesus ressuscitado faz com que a vida
renasça das cinzas. Quando o ser humano reconhece sua condição de criatura
realmente necessitada da ação de Deus, em Cristo e no Espírito, então Jesus
Cristo faz brotar vida de nossa condição mortal. Reconhecer-se assim, é entrar
numa atitude pascal, isto é, de passagem com Cristo da morte para a vida.
Esta páscoa, a gente vive na conversão,
através dos exercícios da oração, do jejum e da esmola ou partilha de bens e
gestos solidários, no espírito do Sermão da Montanha. Páscoa que celebramos na
Eucaristia, pela qual aclamamos Deus como aquele que, acolhendo nossa
penitência, corrige nossos vícios, eleva nossos sentimentos, fortifica nosso
espírito fraterno e, assim, nos dá a graça de nos aproximarmos do seu jeito
misericordioso de ser, e nos garante uma eterna recompensa.
SIGNIFICADO DAS CINZAS
Desde a antiguidade, existe o costume de
cobrir a cabeça com cinzas, para expressar a submissão a Deus e a decisão de
mudar de vida. Foi assim que Davi se cobriu com cinzas para pedir perdão de seu
adultério e mudar de vida. Foi assim que os Ninivitas se cobriram com cinzas
para mostrar sua mudança de vida, após os 40 dias de pregação de Jonas. Foi
assim que a Igreja exigia que os penitentes públicos – que tinham cometido
homicídio, um pecado público – passassem os 40 dias da Quaresma, cobertos de
cinzas, nas portas das igrejas.
A Quarta-Feira de Cinzas existe desde o
século VIII, com imposição das cinzas na cabeça do cristão, para que se
reconheça limitada, fraca e imperfeita, convertendo seu comportamento para Deus
e mudando sua vida.
Os ramos passam pelo fogo purificador do
sofrimento, do aniquilamento do egoísmo e orgulho. Essa passagem pelo fogo é
Páscoa, mudança de vida e transformação de comportamento. Assim aqueles ramos
‘vitoriosos’, que simbolizaram a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém,
iniciando o caminho da cruz para o calvário, estão reduzidos a cinzas. Essas
cinzas lembram que Deus se reduziu à morte de cruz, para nos dar a vida eterna,
a libertação da morte.
As cinzas significam também, que devemos
tomar consciência de nossos limites para motivar a mudança e a purificação de nossa
vida. A imposição das cinzas em nossa cabeça significa, ainda, que a comunidade
quer nos proteger, nos cobrir de energia e nos dar todas as forças e bênçãos de
Deus.
Por isso, o rito das cinzas não pode ser para
o povo uma cerimônia vazia ou de caráter mágico. Esse rito quer colocar a
pessoa humana em seu verdadeiro lugar diante de Deus, dos outros e da natureza.
O rito das cinzas quer nos deixar com o
coração purificado, com a cabeça despojada e desprendida, e com a vontade
disposta e decidida.
O tempo, como o fogo, reduz a cinzas nossa
vida exuberante. Tudo o que tem vida, com o tempo, envelhece, enfraquece,
enruga, murcha, se torna pó. O grão, colocado na terra, morre para frutificar.
A mortificação dos sentidos para fortalecer o espírito e o despoja-se da
ambição para se voltar aos irmãos e a Deus, é o sentido das Cinzas hoje.
O período da Quaresma corresponde aos
quarentas dias anteriores à Semana Santa. Começa na Quarta-feira de Cinzas e
vai até o sábado anterior ao Domingo de Ramos. O primeiro dia da quaresma
chama-se assim, Quarta-feira de Cinzas, por causa do rito em que se deposita um
pouco de cinzas (as cinzas usadas no ritual são provenientes da queima de ramos
do ano anterior) na cabeça ou na fronte dos cristãos.
Para os cristãos, a Quaresma é a lembrança
dos 40 dias e 40 noites que Cristo passou no deserto e também dos 40 anos que
os judeus caminharam até chegarem à Terra Prometida. É o período de penitência
e preparação para a Páscoa.
SIMBOLISMO DAS CINZAS
Cinzas: são símbolo de penitência, de luto e da
finitude da matéria passada pela prova de fogo.
Representam simultaneamente o pecado e a
fragilidade humana (livro da Sabedoria 15,10; profeta Ezequiel 28,18; profeta
Malaquias 3,21). Se cobrir de cinzas é sinal público de arrependimento e forma
concreta de colocar-se à prova. É manifestação pública da consciência do pecado
e sua abjuração (Judite 4, 11-15; Ezequiel 27, 30), na esperança do perdão
misericordioso de Deus.
Vinham estes descalços até a Catedral, no primeiro dia da quaresma. O bispo da cidade depois de exortá-los ao arrependimento dos pecados, os cobria com um cilício, pequena túnica com cinto ou cordão, de material áspero ou grosseiro, trazido diretamente sobre a pele e atirava-lhes uma porção de cinzas na cabeça dizendo ao mesmo tempo: "Lembra-te, ó humano, que és pó e que a pó serás reduzido." Eram jogados então fora da Igreja e não podiam mais entrar nesta enquanto não fosse cumprida a sua penitência.
No século XI, quiseram padres e leigos seguir
esta prática de humilhação e penitência, reservada outrora aos pecadores
públicos e notórios, e assim no Ocidente a partir do século XII o costume
expandiu-se em todas as Igrejas quando os fiéis na Quarta-feira antes da
Quadragésima iam receber cinzas em suas frontes.
Hoje a fórmula permanece a mesma : "Lembra-te
que és pó, e ao pó hás de voltar.(Gênesis 3,19)", ou diz-se o texto do
Evangelho de Jesus segundo Marcos 1,15: "Convertei-vos e crede no
Evangelho".
Fontes:
Frei José Ariovaldo da Silva, OFMMons. Arnaldo Beltrami
Pe. Fernando Altemeyer Júnior
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