terça-feira, 5 de julho de 2011

Martini, o cardeal com Milão no coração

Hoje [15/02] o cardeal Martini completa 84 anos. Festeja a ocorrência em seu retiro de Galarate,


A reportagem é de Marco Garzonio e publicada pelo jornal Corriere della Sera, 15-02-2011. A tradução é de Benno Dischinger.


Circundado pelos cuidados amoráveis e generosos de quem o está acompanhando na fadigosa, diuturna batalha para controlar os efeitos do mal, o Parkinson. Não obstante, sempre atentíssimo, curioso em saber de quanto acontece na Itália, no mundo, na Igreja, na cultura e na vida comum. Sabem disso os leitores do Corriere.


Aqueles que cada dia lhe escrevem confiando-lhe preocupações, dúvidas e também angústias. E, os que não ousam pegar papel e caneta, mas, em todo caso são atentos a qualquer palavra sua, a ponto de esperar o último domingo do mês para ir imediatamente ler a página central com cartas e respostas. O diálogo à distância (agora reproduzido em volume, O comum sentir, editado por Rizzoli) é a continuação ideal do estilo episcopal inaugurado por Martini em Milão e prosseguido pelos mais de 22 anos em que foi arcebispo.


Pouco após os inícios de seu ministério havia redescoberto e reintroduzido no uso litúrgico uma antiga prece: “Dá sempre ao teu povo pastores que perturbem a falsa paz das consciências”.


E sempre se mostrou fiel àquelas palavras, praticando, ele professor e estudioso de fama internacional, virtudes como a escuta, o serviço, a prece, a busca jamais paga de um sentido a dar à existência: nas escolhas fortes, importantes, sobre a vida (início e fim, bioética) e naquelas cotidianas, às voltas com as alegrias e as dificuldades, os afetos e o trabalho na cidade.


Um misto de realismo e de fé, de aposta no homem e nos destinos comuns que, no final do mandato por ter atingido os limites de idade, em 2002, lhe deram a oportunidade de confiar dois registros: aos jovens e aos administradores públicos.


Encorajou os primeiros a “atravessarem a cidade”, sem medo, como fazia Jesus, a viverem até o fundo os incômodos, as dificuldades, mas também as esperanças e os ideais, a vontade de mudar e de ser protagonistas.


Aos segundos, no discurso de agradecimento no Palácio Marino pela medalha de ouro do Município, reservou um acurado e conciso apelo na esteira do predecessor e inspirador, Santo Ambrósio. Incitou a política a “dar força e amabilidade a uma existência vivida no respeito das regras”; admoestou que “enquanto a nossa sociedade prestigiar mais os “espertos” que têm sucesso, uma água lamacenta continuará alimentando o moinho da ilegalidade”, “tolhendo estima social à honestidade” e enfraquecendo “o senso cívico”. Ele estava para partir a Jerusalém, mas a governantes, a toda a cidade, ao País deixou o empenho: “Tarefa cultural urgente é acionar um movimento de restituição de estima social e de prestígio ao comportamento honesto e altruísta, embora austero e pobre”. Como admoestação citou Ambrósio: “Quão afortunada é aquela cidadania que tem muitíssimos justos!”


Em Galarate, embora entre fadigas e impedimentos, Martini continua sendo aquele ponto de referência que não só aos milaneses, mas a toda a Igreja e à Itália ensinaram a amar e, é inútil escondê-lo, a contestar porque em seu estilo e em sua ação continuou e continua recolhendo consensos, mas também dissensos.


Recorda o papel dos Profetas do antigo Israel que estiveram entre os pontos de força do Martini cientista da Palavra bíblica, bispo, pregador de apaixonados exercícios espirituais nos ângulos mais longínquos da catolicidade. Uma Igreja profética é aquela pela qual sonhou por anos e para a qual, como confiou ao padre Georg Sporschill em Conversações noturnas em Jerusalém (editado por Mondadori), na velhice decidiu orar. Por que: qual é hoje a profecia proferida na Igreja? A resposta de Martini está em sua escolha orante.


Em solicitar a Deus e em recordar aos coirmãos e a todos que a profecia não é algo de abstrato ou para poucos, mas, na esteira precisamente do Israel da Escritura, é procurar o ponto de encontro entre o projeto de Deus e as urgências da história. Um testemunho radical, sem atender às solicitações dos poderosos nem às tentações de se deixar perder mortificados pelas dificuldades, aceitando ser pequena grei (isto é, minoria) e grão de mostarda e levedo, dispostos a pagar um preço também salgado em seguir a via de Jesus.


Como lema episcopal Martini escolheu Pro veritate adversa diligere, pela verdade amar as adversidades. Na verdade, o lema completo, tomado de São Gregório Magno, tem outro par de palavrinhas: “e ser cautelosos em relação ao sucesso”.


Em suma, uma perspectiva para ele e uma indicação de caminhada para todos. E, portanto, a ocasião para unir-se às fileiras de fiéis e de estimadores ao dizer: obrigado e muitas felicidades, Eminência!



Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=40724

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