domingo, 13 de março de 2011

Amigos da Bíblia 4

O evangelho de Marcos

Quando abrimos a Bíblia no Novo Testamento nos deparamos, logo no início, com o evangelho de Mateus. Mas não foi este o primeiro evangelho escrito. O primeiro evangelho escrito foi Marcos, cuja redação deve ser dos anos 70. Ele é o primeiro que escreve um evangelho, portanto, inaugura este gênero literário.

Ao ler o evangelho de Marcos é bom ter presente que não se trata de um livro de atas que pode ser lido como se lê um livro de história. Marcos, antes de ser um historiador, é um teólogo. Mais do que transmitir detalhes da vida pessoal de Jesus, quer testemunhar a mensagem do Reino de Deus, trazida por Jesus. Assim sendo, no evangelho de Marcos, podemos perceber a mão do redator, bem como o testemunho da comunidade que transmitiu o conteúdo de Marcos. Ou seja, Marcos e sua comunidade apresentam Jesus a sua maneira. Jesus fez muito mais do que está nos evangelhos. Cada evangelista selecionou aquilo que no momento precisava para sua comunidade em vista de preservar a verdadeira fé. Foi assim que Marcos buscou na tradição, o que no momento convinha para as comunidades onde ele anunciava Jesus.

Linhas mestras do evangelho de Marcos

Marcos é o evangelista do Segredo Messiânico. Talvez o leitor já tenha percebido que em Marcos, quando Jesus faz algo interessante, ele proíbe de dizê-lo. Ora são os demônios que devem calar, ora são os agraciados que devem calar, ora são os discípulos que devem calar (Mc 1,25.34-44; 3,11; 5,43; 7,36; 8,26.30; 9,9, etc.). Ou seja, sempre que Jesus age e de sua ação se poderia concluir que ele de fato é o Cristo, deve-se calar. Só quando ele morre como um fracassado na cruz, então é que se pode dizer quem ele é: “de fato este homem era o Filho de Deus” (Mc 15,39). Quando Jesus pergunta aos discípulos quem ele seria e Pedro responde, dizendo: “tu és o Cristo” (Mc 8,27-30), também ele deve calar, pois Jesus irá até Jerusalém, lá será flagelado, crucificado, morto e ressuscitará (Mc 8,30ss; 9,30ss; 10,32ss). Por que Marcos insiste tanto no silêncio e no anúncio da cruz?

Nos tempos da redação de Marcos, por volta do ano 70, havia uma cristologia festiva. Muitos daqueles cristãos que não conheceram o Jesus histórico de Nazaré, mas apenas receberam o anúncio do ressurreição e dos milagres, olhavam para Jesus como uma espécie de super-herói. Facilmente esqueciam da cruz. Isto causava um transtorno na mentalidade dos seguidores. Desta forma Jesus, mais do que um modelo a seguir, tornava-se um suposto remédio para qualquer problema. Antes de levar os discípulos a tomar sua cruz e seguir Jesus e assim transformar a história, pretendia-se fazer dele um quebra-galho para qualquer problema. Não é difícil perceber que os discípulos se tornavam passivos, sem compromisso com a história. Diziam: “por que se preocupar, se Jesus pode resolver todos os nossos problemas?”

Marcos quer evitar este tipo de mentalidade. Jesus não faz milagres por sensacionalismo. Só pode entender Jesus quem, com ele for até a cruz (Mc 15,39). Quem, como o centurião, não viu nada de extraordinário, a não ser o fracasso de um condenado, e mesmo assim acredita, este é apto a ser cristão. Quem, pelo contrário, espera milagres, nunca entenderá Jesus.

Frei Bruno Glaab

http://www.esteditora.com.br/textos/amigos.htm


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