A Igreja possui uma série de verdades de fé, conhecidas como dogmas, em que os católicos devem crer.
No total, são 44 dogmas subdivididos em 8 categorias diferentes: sobre Deus; sobre Jesus Cristo; sobre a criação do mundo; sobre o ser humano; sobre o Papa e a Igreja; sobre os sacramentos; sobre as últimas coisas; sobre Maria. |
Segundo o doutorando em Mariologia pela Universidade Católica de Dayton (EUA) e membro do Instituto Secular dos Padres de Schoenstatt, Alexandre Awi de Mello, os dogmas na Igreja são verdades salvíficas. "Muitas vezes utiliza-se a palavra dogma como se fosse algo pesado, difícil, mas, na realidade, é uma grande bênção, um presente. São verdades da fé em que cremos e que a Igreja sente necessidade de esclarecer. São verdades que trazem salvação e mensagem de esperança", salienta.
Os dogmas marianos são alguns dos que levantam as discussões mais acaloradas. Eles são quatro:
- Maria, Mãe de Deus
Maria é verdadeiramente Mãe do Deus encarnado, Jesus Cristo. Já nos primeiros três séculos, os Padres da Igreja utilizaram as definições Mater Dei (em latim) ou Theotókos (em grego), que significam Mãe de Deus, tais como Inácio (107), Orígenes (254), Atanásio (330) e João Crisóstomo (400). Essa doutrina foi definida dogmaticamente pelo Terceiro Concílio Ecumênico, realizado em Éfeso, em 431.
"Jesus é plenamente homem e plenamente Deus. Maria foi Mãe deste Deus feito homem, que é Jesus; assim, Maria é Mãe de Deus. É uma realidade que dá fundamento a todas as outras. É uma verdade, em primeiro lugar, sobre Cristo, pois é preciso afirmar que Jesus é verdadeiramente Deus para que possamos falar que Maria é Mãe de Deus", explica padre Alexandre.
- Perpétua Virgindade de Maria
Ensina que Maria é virgem antes, durante e depois do parto. É o dogma mariano mais antigo das Igrejas Católica e Oriental Ortodoxa, afirmando a "real e perpétua virgindade mesmo no ato de dar à luz o Filho de Deus feito homem" (Catecismo da Igreja Católica, 499). Essa doutrina foi definida dogmaticamente pelo Concílio de Trento, em 1555, embora já fosse um dogma no cristianismo primitivo, como indicam escritos de São Justino Mártir e Orígenes.
"É uma crença que já está na sagrada Escritura e defende que Maria concebeu Jesus virginalmente, deu à luz virginalmente e assim permaneceu até o final da vida", ressalta padre Alexandre.
- Imaculada Conceição de Maria
Defende que a concepção de Maria foi realizada sem qualquer mancha de pecado original, no ventre da sua mãe. Dessa forma, ela foi preservada por Deus do pecado desde o primeiro momento da sua existência, como apontam as palavras do Anjo Gabriel - "sempre cheia de graça divina" - kecaritwmenh em grego. Essa doutrina foi definida dogmaticamente pelo Papa Pio IX na Constituição Ineffabilis Deus em 8 de dezembro de 1854.
A festa da Imaculada Conceição de Maria é celebrada em 8 de Dezembro, definida inicialmente em 1476 pelo Papa Sixto IV. Também neste caso, muitos escritos dos Padres da Igreja já defendiam a Imaculada Conceição de Maria, pois era adequado que a Mãe do Cristo estivesse completamente livre do pecado para gerar o Filho de Deus.
- Assunção de Maria
Indica que a Virgem Maria, ao fim de sua vida terrena, foi elevada em corpo e alma à glória dos céus. Essa doutrina foi definida dogmaticamente pelo Papa Pio XII na Constituição Munificentissimus Deus em 1º de novembro de 1950.
"Depois de elevar a Deus muitas e reiteradas preces e de invocar a luz do Espírito da Verdade, para glória de Deus onipotente, que outorgou à Virgem Maria sua peculiar benevolência; para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e vencedor do pecado e da morte; para aumentar a glória da mesma augusta Mãe e para gozo e alegria de toda a Igreja, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que a Imaculada Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, terminado o curso da sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma à glória do céu", indica o Papa. "É uma verdade em que a Igreja acredita desde os séculos 5 e 6, quando já havia uma celebração da então chamada Dormição de Maria", complementa padre Alexandre.
noticias.cancaonova.com - Padre, o senhor afirmou que os dogmas são uma bênção para o católico viver a sua fé. Mas há quem questione que os dogmas são apenas uma construção da Igreja ao longo da história. Frente a isso, quais são os principais fundamentos (bíblia, tradição, magistério) a que a Igreja se reporta para proclamar um dogma?
Em primeiro lugar, o fundamento de toda a verdade é a própria Sagrada Escritura, que contém as verdades fundamentais da fé e de onde se podem deduzir os dogmas e verdades que a Igreja foi acreditando ao longo dos séculos. Quem acredita são os fiéis e o que o Magistério faz é declarar o que já está na fé do povo. São verdades que são vivas, em primeiro lugar, na fé e na crença do povo cristão. Não é uma invenção da Igreja, mas a explicitação daquilo em que o povo já crê. Os primeiros fundamentos estão na Sagrada Escritura, pois cremos que Deus prometeu o Seu Espírito para guiar a Igreja, que vai confirmando as verdades de fé à medida que se aprofunda o seu conteúdo. Logo no início da Igreja, toda a atenção estava voltada para Cristo, mas, desde muito cedo, também se pergunta sobre de onde veio esse Cristo, o que faz parte do próprio pensamento semita de perguntar sobre a identidade de alguém indo a sua origem. Assim, despertou-se o interesse para se saber de onde Ele veio, onde nasceu, e quem é aquela de onde veio o Cristo. No Evangelho de Lucas há muitos elementos - inclusive ele mesmo poderia ter perguntado isso à Mãe de Deus. E isso foi sendo transmitido ao longo da tradição da Igreja, essas verdades que foram sendo descobertas a respeito de Maria.
A própria Sagrada Escritura tem muitos desses fundamentos: basta citar as Bodas de Caná (Jo 2), que indica o poder intercessor de Maria, a possibilidade que o próprio Jesus lhe dá de interceder pelo bem dos fiéis. No final do texto aparece a menção de que, logo após o milagre das Bodas de Caná, os discípulos creram nele. Esse é o único interesse da intercessão de Maria: que os discípulos creiam n'Ele, no Seu filho, para fazer a vontade d'Ele. Então, se as pessoas, de alguma maneira, desprezam essa possibilidade que Deus está dando, quem tem a perder são elas próprias.
Dentro do plano de Deus, essa verdade é para a nossa salvação e está assegurada pela tradição e pelos 2000 anos de história da Igreja, que experimenta essa intercessão, esse exemplo e presença de Maria conduzindo a Jesus. Não acolher este dom, que o próprio Jesus deu aos pés da Cruz (cf. Jo 19, 25-27), é justamente perder uma verdade salvífica, um dom de salvação que o próprio Deus nos oferece.
noticias.cancaonova.com - O senhor faz parte do Movimento Apostólico de Schoenstatt, que prima muito pela devoção mariana. Por que podemos afirmar que essa devoção não faz o cristão se aproximar menos de Jesus, mas, ao contrário, auxilia no caminho de encontro com Cristo?
Padre Alexandre - Em primeiro lugar, pela própria experiência. Aqueles que conhecem pessoas que são verdadeiramente marianas, que têm um forte amor a Nossa Senhora, experimentam que o amor a Ela conduz mais fortemente ao coração de Jesus. Maria é aquela que ajuda a formar Cristo em nós, intercede junto a Deus e ao Espírito Santo para que se possa gerar, em nossa vida, a imagem de Jesus, nos fazer pequenos Jesus, como diz o fundador do nosso Movimento, o padre Joseph Kentenich.
Acreditamos que, quanto mais nos assemelhamos a Maria, mais temos condição de viver em união com Cristo. Essa é nossa experiência, como salienta São Luís Maria de Montfort - Maria é o caminho mais próximo, direto e imediato para encontrar-se com Jesus.
Na prática, quando as pessoas chegam à intimidade com Maria, não se dirigem a Ela por Ela mesma, mas para que possam chegar a Jesus. Pelo amor a Maria, pela vinculação a Ela, chegam a uma vinculação mais profunda e perfeita com Jesus. Porque imitar as atitudes e virtudes de Maria é fazer o que todo o cristão deve fazer, já que Ela foi pessoa mais próxima de Jesus, que mais aprendeu d'Ele.
Por outro lado, Jesus não quer um cristianismo cristomonista, exclusivo só para Ele. Na sua forma de atuar, Jesus sempre integra o número maior possível de pessoas, de mediadores, para chegar até Ele, que é Mediador com maiúscula por excelência. Por isso existem os sacramentos, os padres, a própria Igreja, Maria, os santos, e tantos outros mediadores com minúscula que conduzem ao Mediador com maiúscula, que é Jesus.
Essa é a forma de atuar de Deus, que quis agir na Sua Igreja e quer continuar atuando até hoje. Por isso, a vinculação a Maria leva a uma vinculação mais profunda com o próprio Cristo e com o Deus Trino.
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