quinta-feira, 13 de outubro de 2011

AS BODAS DE CANÁ - Jo 2,1-12

“O episódio de Caná é uma espécie de resumo daquilo que vai acontecer através de toda a atividade de Jesus: com sua palavra e ação, Jesus transforma as relações dos homens com Deus e dos homens entre si” (BÍBLIA, Pastoral. 2006, p.1293).

O Evangelho de João foi escrito nos anos 90 e define teologicamente quem é Jesus. Mostra o que os outros Evangelhos não tinham dito. É menos histórico e muito mais teológico do que os sinóticos. A divindade de Jesus é inquestionável. É um Evangelho espiritual, uma montagem teológica, que acontece em duas semanas.

João pega o que tem da velha aliança e dá o vinho da nova e eterna aliança que acontecerá na hora da cruz (sangue e água). Em Caná, Jesus manifestou a sua glória ao transformar a água em vinho, e os seus discípulos creram nele. João nunca usa a palavra milagre, ele usa sinal. Sinal não é um simples milagre; sinal é um gesto do Senhor Jesus, carregado de sentido profundo, que revela sua pessoa, sua missão e sua obra de salvação.

É no sexto dia de João, que a nova humanidade, a humanidade em Cristo, começa a aparecer. Assim como o Pai só descansou no sétimo dia, quando tinha terminado tudo, Jesus só descansará quando terminar tudo (Jo 19,30).

As bodas em Caná acontecem no 6º dia, da primeira semana, é o início dos sinais no evangelho de João e o primeiro sinal (Jo 2,1-12) é o casamento em Caná. Todos os outros sinais acontecem dentro de um sexto dia simbólico.

O primeiro sinal realizado por Jesus acontece no sexto dia da semana. De fato, a expressão “no terceiro dia” (2,1) significa “três dias após o quarto dia”, isto é, o sexto dia. De acordo com Gênesis 1,26-31, nesse dia Deus criou a humanidade. Portanto, o primeiro sinal realizado por Jesus mostra o surgimento da nova humanidade, ou seja, o grupo daqueles que aderem a Jesus pela fé. Todos os outros sinais que Jesus realizará no evangelho de João acontecem dentro desse “sexto dia” (BORTOLINI, 2008, p.32).

As bodas representam a substituição da aliança antiga (2,1); as talhas de “pedra” para a purificação representam a Lei (2,6) (MATEOS; BARRETO, 1999, p.15), transformam a lei dos judeus em graça. A palavra “Caná” significa “adquirir”. Jesus vai adquirir para si um povo com o qual realizará a nova aliança. Maria representa a parte da antiga aliança que não está contente com a religião petrificada pelas 613 leis. Aqui surge a nova humanidade, formada pelos que dão sua adesão a Jesus pela fé.

Não sabemos o nome dos noivos. O que sabemos é que havia uma festa de casamento num lugarejo pobre e esquecido, situado na parte montanhosa da Galiléia, chamado Caná. Os noivos são pobres, pois se fossem ricos, provavelmente, não faltaria o vinho. Quem aparece em primeiro plano é “a mãe de Jesus”. O evangelista João não fala seu nome: - “Maria”, como fazem os outros evangelistas, mas utiliza outros dois termos, tais como: “a mãe de Jesus” e “mulher”. Ela abre o cenário desta narrativa. Ela abre o caminho para que Jesus possa realizar o primeiro sinal. O evangelista João diz que Jesus e seus discípulos foram convidados para esta festa, porém não diz o mesmo de Maria, pelo contrário; afirma que “a mãe de Jesus estava lá” (BROWN, 1975, p.34).

São João inicia seu evangelho narrando, dia após dia, a primeira semana do ministério público de Jesus. Com isso ele já quer transmitir uma idéia importante: Jesus vem para recriar todas as coisas. A sua ação recapitula a ação do Pai ao criar tudo. Depois, o Evangelista monta a narração de tal modo a terminar esta semana inaugural com a expressão “terceiro dia”, que tem um sentido claro: é o Dia da Ressurreição! “No Terceiro dia houve um casamento”... de Cristo com a Igreja: Narrando as bodas de Caná o Evangelista está pensando na ressurreição, quando Cristo desposou sua Igreja.

É interessante também observar que o texto inicia com a ordem: a Mãe de Jesus, Jesus e seus discípulos. Ao final, veremos que esta ordem será invertida: Jesus, sua Mãe, seus irmãos e seus discípulos.

O vinho que faltou no casamento tem um significado importante. O casamento é símbolo da aliança de Deus com Israel: O vinho é símbolo da alegria messiânica, símbolo também do Espírito Santo, é como se a Mãe de Jesus olhasse toda a antiga aliança, todo o povo de Israel, a quem o Senhor desposou pela aliança do Sinal, e dissesse: “Eles não têm mais vinho”. Isto é, falta-lhes o Espírito; a antiga aliança esgotou-se pelas infidelidades de Israel. Deus tinha prometido que, com a vinda do Messias seria selada uma nova aliança com Israel e o povo de Deus, é este vinho que falta a Israel, o vinho bom e novo do Espírito, que somente o Messias pode trazer.

A “hora”, a qual se refere na resposta a sua mãe, é a hora da morte e ressurreição, hora da glória, que somente aparecerá de modo claro ao final, na Páscoa. Nesta hora, a Mãe de Jesus estará novamente presente (BROWN, 1975, p.34). “A “hora” de Jesus é a hora de sua glorificação, de sua volta à direita do Pai” (BÍBLIA de Jerusalém. 2008, p.1847).

Importante também é a referência às talhas de pedra: elas serviam para os ritos de purificação da religião judaica. Vão perder a utilidade pois, com a ressurreição, a nova aliança chegará e os velhos ritos do Antigo Testamento estarão superados. Elas transbordarão não mais a água da Lei de Moisés, mas o vinho novo do Espírito Santo, dom pascal do Ressuscitado à sua Igreja.

As medidas das talhas são um exagero, mas aqui, João quer aludir ao dom do Espírito, derramado em abundância. É este o “bom vinho”, vinho do Espírito, que Deus guardou para o final da festa, para a nova aliança! Esta idéia da abundância do Espírito, que é sem medida, aparece também no fato de encherem as talhas “até à borda” (BROWN, 2006, p.204).

Os participantes da festa não conheciam o verdadeiro vinho, aquele que Jesus daria gratuitamente. É só por meio de Jesus que obterão o vinho novo, que se opõe ao vinho velho, que é a “lei dos judeus”, já ultrapassada. Jesus muda a água destinada à purificação dos judeus. Esta água desaparece para dar lugar ao vinho novo. Os ritos judaicos já não têm nenhum valor para a liberdade do povo e devem desaparecer. Jesus chegou nesta festa de casamento de uma forma discreta, se misturando com os demais convidados. A atenção dos convidados, voltada para os noivos, aos poucos, se volta para a pessoa de Jesus. A presença de Jesus vai pôr em movimento a cena e a festa pode assim continuar. Todos podem permanecer na festa.

Agora Maria se dirige aos serventes. Temos aqui a segunda palavra de Maria no evangelho de João. Aqui ela dá uma ordem. É um imperativo e uma determinação: - “Fazei tudo o que ele vos disser”. Ela nos coloca de novo voltados para seu Filho Jesus. É preciso olhar para ele. Escutá-lo atentamente. Por em prática aquilo que ele nos pede. É preciso abertura às suas propostas novas (BORTOLINI, 2008, p.33).

Jesus chegou nesta festa de casamento de uma forma discreta, se misturando com os demais convidados. A atenção dos convidados, voltada para os noivos, aos poucos, se volta para a pessoa de Jesus. A presença de Jesus vai pôr em movimento a cena e a festa pode assim continuar.

Maria, como boa mãe, conhece perfeitamente o valor da resposta de seu Filho, que para nós poderia resultar ambígua ("que queres de mim, mulher?"), e não duvida que Jesus fará algo para resolver o apuro daquela família. Por isso indica de modo tão direto aos serventes que façam o que Jesus lhes disser, indicando a importância da docilidade no cumprimento da Vontade de Deus, mesmo nos pequenos pormenores.

Maria vai ao encontro de Jesus. Não pede nada. Apenas apresenta o fato. Faz uma afirmação plena de fé, que parece mais um pedido confiante do que comunicar o que se passa na festa. Jesus fica sabendo o que está acontecendo. Um pequeno diálogo se estabelece entre os dois. A necessidade é urgente. O problema precisa de uma solução imediata.

“O versículo final define o fato: é o primeiro sinal, portanto deve ser lido como cabeça de uma série; é manifestação da glória de Jesus” (BÍBLIA do Peregrino. 2005, p.248).

REFERÊNCIAS


BÍBLIA, N.T. Evangelho segundo são João. Português. Bíblia Sagrada: edição Pastoral. Trad. STORNIOLO, Ivo; BALANCIN, Euclides Martins. 59ª impressão. São Paulo: Paulus, 2006.


BÍBLIA, N.T. Evangelho segundo são João. Português. Bíblia de Jerusalém. Trad. ZAMITH, Joaquim de Arruda. 5ª impressão. São Paulo: Paulus, 2008.


BÍBLIA, N.T. Evangelho segundo João. Português. Bíblia do Peregrino. Trad. SCHÖKEL, Luís Alonso. 2ª edição. São Paulo: Paulus, 2005.


BORTOLINI, José. Como ler o Evangelho de João: O caminho da vida. 8. ed. São Paulo: Paulus, 2008.


BROWN, Raymond E. Evangelho de João e Epístolas. São Paulo: Edições Paulinas, 1975.


BROWN, Raymond E. A Comunidade do Discípulo Amado. 5. ed. São Paulo: Paulus, 2006.


MATEOS, Juan; BARRETO, Juan. O Evangelho de são João. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1999.


QUEIROZ, Antônio Celso de. Tua Palavra é vida: Seguir Jesus: os Evangelhos. 5. ed. São Paulo: Loyola, 1997.

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