Na Páscoa, nós cristãos renovamos
uma alegria antiga de dois mil anos. Uma alegria narrada no evangelho,
prorrompida diante de um túmulo procurado e encontrado vazio.
Aquele dia longínquo parecia destinado à tristeza e ao luto,
por causa da morte do Senhor Jesus. De repente se encheu de alegria!
Maria Madalena, de manhã muito
cedo, foi ao sepulcro para chorar um morto, e não o encontrou. Pedro e João
correram também eles e encontraram faixas dobradas em um ângulo, o sudário bem
dobrado, e de Jesus nenhum traço. Então se lembraram quando Jesus os tinha
advertido sobre a sua ressurreição.
Daquele momento começou a se
realizar o programa do Salvador, o seu projeto, a Boa Notícia que ele nos
trouxe. Nós sabemos, o seu projeto é a resposta de Deus aos pessimistas e aos
sem coragem. É o projeto sobre o homem que Deus elaborou e Jesus nos revelou: o
Reino de Deus. Algo que começa a realizar-se aqui e agora, está presente já, mas
ainda não se completou, pois ele se prolonga e completará fora do tempo e do
espaço, no mistério de Deus.
A notícia é: Deus é Pai e nos ama
como filhos. O projeto é: Jesus veio para nos salvar, como irmão e amigo, porque
“amigo é aquele que dá a vida pelo amigo”. O programa para nós é um estilo de
vida novo, que ele veio inaugurar e nos ensinar. E nós cristãos somos
solicitados a fazer nosso.
Jesus veio ao mundo para suscitar
um movimento de pessoas orientadas ao bem, a Igreja, e há dois mil anos solicita
sobre a terra a cooperação dos homens. Convoca em torno de si os seus
discípulos, nós os cristãos. E nos confia uma missão no mundo. Mas muitos
cristãos não vivem sempre no modo cristão.
Há os que com certa freqüência
tomam distância da Igreja. Participam da vida da comunidade eclesial talvez
somente nas grandes ocasiões, Natal, Páscoa, núpcias.
Às vezes certos cristãos tomam
distância também de nosso Senhor. O Senhor Jesus nos convidou à amizade com
ele, a uma intimidade profunda, que consiste em querer-lhe bem, senti-lo
vizinho, falar-lhe com a oração. E nós nos esquecemos.
Às vezes entre nós e Deus se ergue
um muro que parece insuperável: o pecado. Assim Jesus veio ao mundo para
suscitar um movimento de pessoas orientadas ao bem; encontra a boa vontade de
alguns; a frieza, a não-disponibilidade de tantos outros. Como é humano tudo
isso. A Igreja o sabe desde sempre. Ela se auto-define “santa e pecadora”, Santa
e sempre necessitada de perdão e de correção. Esta é a verdadeira Igreja. E
assim também somos nós, cada um de nós. Por isso a festa da Páscoa é precedida
de um tempo de preparação, a Quaresma, que consiste em primeiro lugar em um
sério exame de consciência.
O cristão olha dentro de si e se
descobre pecador. Certamente, não um Hitler com milhões de delitos. Mas talvez
tenhamos feito sofrer quem está perto de nós, talvez sejamos superficiais,
egoístas, preguiçosos. E nós, quem sabe, quantas vezes nos dispomos ao bem e
depois deixamos que sejam os outros a partir e realizá-lo.
A preparação para a Páscoa passa
através do arrependimento e o perdão. Pedir perdão é um ato de sinceridade e de
verdadeiro amor a Deus. E daí revigorados, dispostos, decididos a ocupar com
amor o próprio lugar na comunidade cristã. O próprio lugar em meio aos outros,
aos próprios caros, aos amigos, no trabalho. Levando a sério a Páscoa, a alegria
de ter encontrado o Cristo ressuscitado contagia nossas existências. Através do
perdão ressurgimos com ele que nos perdoa, prontos para uma nova vida.
Eis a novidade do túmulo vazio: com
a morte de Jesus nada está terminado. Com sua ressurreição tudo recomeçou e
recomeça. Hoje, como ha 2000 anos passados, toma consistência o programa, o
projeto, a Boa Notícia que Jesus nos trouxe com sua vida e sua Palavra.
O cristão que vive em si a
ressurreição do Senhor chega a ter, sobre si e sobre as pessoas que o circundam,
um olhar diverso, original, que em vão procuraremos em outras concepções de
vida. É uma visão rica de valores, dignificante, enobrecida pelo saber que somos
todos irmãos porque filhos do único Pai celeste.
Desejamos uma santa Páscoa,
portadora de muita paz interior, na sua família e no meio de todos com os quais
convivem.
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