quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Frei Jaime Spengler fala sobre suas expectativas após a nomeação como bispo auxiliar de Porto Alegre

O frei Jaime Spengler concedeu entrevista especial para a Pastoral da Comunicação da Arquidiocese de Porto Alegre na última segunda-feira, 29/11. Ele foi nomeado bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre no dia 10 de novembro de 2010. Sua ordenação acontecerá no dia 05 de fevereiro de 2011, na cidade de Gaspar, Santa Catarina, sua terra natal.

Como foi receber a notícia de que foi escolhido como novo bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre?

A notícia da nomeação para bispo me tomou de surpresa, e para auxiliar de Porto Alegre foi uma surpresa maior ainda. Jamais imaginei que um dia seria mandado a exercer um ministério dessa envergadura numa capital. Porto Alegre tem uma história marcante, e isso não só a nível regional, mas também nacional. Trata-se de uma Igreja Particular de importância singular.

Estive em Porto Alegre três vezes. A primeira foi quando terminei meus estudos na Europa e precisei reconhecer meu título aqui no Brasil. A PUC de Porto Alegre através do prof. Urbano Zilles conferiu tal reconhecimento. À PUC e ao prof. Zilles sou grato por isso. A segunda vez que estive na cidade foi quando da Beatificação de Barbara Maix. Naquela data já sabia de minha nomeação, embora não fosse pública ainda. Dom Dadeus já tinha ciência da nomeação. Ele me recebeu de uma forma muito bonita e simpática. Marcou-me o seu jeito de ser! Aqueles dois dias em Porto Alegre foram singulares. Um e outro achou estranha minha presença no arcebispado naquele dia, além disso, a familiaridade com D. Dadeus, D. Remídio e Núncio Apostólico creio que tenha chamado a atenção. No entanto, uma pessoa, de forma muito simples, já quando estava de partida, chegou ao meu ouvido e disse baixinho: “Seja bem-vindo! Não tenha medo!” Retribuí o abraço, sem dizer nada.

A cerimônia de beatificação foi muito bonita marcada pela alegria, mas sobretudo pela fé. Chamaram-me a atenção alguns aspectos da vida da Beata Bárbara: Fé, determinação, caridade. Das irmãs, filhas de Barbara Maix, chamou-me a atenção a decisão de abrirem uma casa em Manaus com o objetivo de fazer frente ao desafio de tráfico humano; trata-se de uma realidade desafiadora, triste e da qual poucos tem coragem de falar. Diria que faz parte de algo inerente ao próprio Evangelho: a dignificação e defesa da vida, seja em que situação esta se encontrar. Oxalá as irmãs possam levar a termo a obra inaugurada!

A terceira vez que estive na Capital foi quando da reunião dos bispos do Regional Sul 3 da CNBB. Viajei para Santa Maria com D. Remídio. Foi uma oportunidade para conversarmos e também nos conhecermos. Durante a reunião tive a oportunidade de conhecer os bispos do Rio Grande do Sul, suas preocupações, mas sobretudo suas alegrias e esperanças . Quando retornamos a Porto Alegre fui conhecer um pouco mais a cidade. Chamou-me a atenção sua extensão, como toda cidade grande, ela oferece tantas possibilidades, mas também apresenta muitos desafios. Encontrei pessoas no corre-corre do cotidiano, que trabalham, lutam pelo pão de cada dia; encontrei jovens, adolescentes, crianças, estudantes; encontrei idosos. Mas também vi delinquência, vi pobreza, vi situações de fratura social. Tudo isso fala de um desafio! Fala do desafio de ser presença evangelizadora no meio de uma realidade complexa!

Diante de tudo isso, diria o seguinte: estou indo para Porto Alegre com boa disposição! Pronto para ‘o que der e vier’. Gosto do que sou e gosto do que faço. Encontrei pessoas nessa nova realidade, muito acolhedoras. Creio que tudo isso concede o necessário para um bom trabalho. No mais, que o bom Deus nos ajude!

Como está sua preparação para o dia da ordenação, em 05 de fevereiro de 2011?

A preparação está andando. Na verdade, estou sobrecarregado. Fui nomeado bispo auxiliar, mas continuo como superior do Convento e pároco aqui em Curitiba, além de professor e das atividades junto à Associação Franciscana de Ensino Senhor Bom Jesus – entidade mantenedora da Rede de Colégios Bom Jesus. Minha agenda está tomada até o dia 22 de dezembro. Na noite de Natal pretendemos inaugurar o restauro do presbitério da matriz aqui em Curitiba. Depois disso pretendo ir me liberando.

Em janeiro pretendo ir novamente a Porto Alegre; pretendo estar presente na celebração do dia 01 de janeiro de 2011 – solenidade da Mãe de Deus. Quero me preparar para a ordenação; pretendo fazer um bom retiro, de uns 10 dias. Pretendo ir para um eremitério em Santa Catarina, onde eu possa me dedicar à leitura, meditação e oração. A ordenação é um momento único! Um momento de celebração litúrgica, marcado pela fé. E isso a requer recolhimento!

Quanto à celebração e comemoração da ordenação existem várias pessoas empenhadas na preparação. A ordenação ocorrerá num sábado de manhã, 05/02/2011, às 09h30 da manhã. Escolhi realizar a ordenação na minha terra natal devido ao fato de meus pais estarem já bastante idosos, e devido à comemoração dos 150 anos de fundação da Freguesia de São Pedro Apostolo. Dali partiram missionários que a mais de um século fundaram não poucas comunidades de fé no interior do Vale do Itajaí (SC). Para a paróquia se trata de uma celebração ímpar. O horário escolhido visa facilitar a participação seja de bispos, seja de sacerdotes e religiosos, seja dos fiéis. Nesse período do ano, temos temperaturas elevadas. Na parte da manhã temos temperaturas mais agradáveis.

A Paróquia de Gaspar (SC), está empenhada em preparar bem esse evento. O pároco, frei Germano Guesser (ofm), quer propiciar boa acolhida a todos que desejarem participar desse momento de graça. Existe a preocupação com hospedagem, alimentação, acolhimento para todos. Foram criadas equipes de serviço que estão empenhadas em oferecer o melhor.

Quais suas expectativas como bispo auxiliar da maior província eclesiástica do país?

Minhas expectativas são as de poder servir da melhor forma possível a Igreja presente em Porto Alegre. Vou para a cidade levando meu coração, minha mente, minha história marcados pelo espírito franciscano. Assumi a nomeação em espírito de ‘obediência e reverência ao Santo Padre’. Tenho a convicção que ser ministro do Evangelho na realidade contemporânea requer boa disposição, equilíbrio, amor pelo Evangelho e fé. É o Senhor que chama: “não fostes vós que me escolhestes; fui eu que vos escolhi...” Isto proporciona uma certa serenidade. Aquele que chama, também inspira, orienta, sustenta, corrige.

A Arquidiocese de Porto Alegre possui um bom número de sacerdotes, diáconos e seminaristas. Possui muitos religiosos e religiosas. É uma Igreja atenta à missão, e à “ad gentes”. Tudo isso está dizendo de um vigor, de uma força que a sustenta. Portanto, não se pode ter medo. O que sinto é ‘temor e tremor’. Temor porque conheço minhas limitações, fraquezas, fragilidade; tremor pelas proporções da Arquidiocese, e pelos desafios e exigências da contemporaneidade. Mais: a Arquidiocese possui sobretudo uma multidão de homens e mulheres de ‘boa vontade’, e que de tantos modos estão engajados nos diversos setores da sociedade; e ali, muitas vezes de forma discreta - senão anônima, estão empenhados em viver os valores do Evangelho! Assim, todos juntos, de mãos dadas, com o olhar voltado para aquele no qual “vivemos, nos movemos e existimos”, haveremos de nos tornar sempre mais ‘servas e servos humildes da vinha do Senhor’, engajados na obra da construção de uma “Terra sem males”.

Ao final da entrevista, o frei deixou uma bela mensagem ao povo gaúcho que lhe aguarda.

O ano de 2010 está chegando ao seu tramonto. O Natal está à porta. Natal é para nós a celebração da ternura, do aconchego, celebração da Palavra que se faz pequena; tão pequena que cabe numa manjedoura. A Palavra se fez carne, se fez criança a fim de podermos compreendê-la. Na encarnação, no Natal a Palavra assumiu um rosto: o rosto de Jesus de Nazaré. Desse homem, que como diz São Pedro nos Atos dos Apóstolos, “passou por entre nós fazendo o bem”. Nós, hoje, somos os discípulos e as discípulas desse homem! O Natal está sempre e de novo recordo este evento: O evento da Palavra que assumiu rosto humano, e que nos pede para viver em “justiça e piedade”.

Francisco de Assis queria ver com os olhos da carne como isso aconteceu. Por isso pediu a seus frades que representassem plasticamente esse evento. Nasceu assim a representação do Natal: o presépio. Hoje, em não poucas praças, lares, Igrejas continuamos a representar esse evento. Vendo com os olhos da carne, somos convocados a transpor o olhar, ou seja, perceber o que significa sermos amados por Deus. É isso que o Natal sempre e de novo quer nos recordar: Deus nos ama!

Gostaria de desejar a todos um santo e abençoado Natal. Que o menino Deus – o rosto humano de Deus – possa renascer em cada pessoa, em cada família, em cada grupo social. Que tudo aquilo que o Natal inspira – paz, harmonia, amor, serenidade, justiça, fé – possa se tornar realidade no seio de nossa sociedade.

Dia 01 de janeiro estaremos celebrando a solenidade da Mãe de Deus, padroeira da Arquidiocese de Porto Alegre. Também nesse dia estarão tomando posse os novos representantes do povo, tanto na esfera política nacional, quanto estadual. Por isso, gostaria de saudar as mulheres e os homens que se dedicam à atividade política, desejando que as virtudes da Mãe de Deus – presteza, sensibilidade para as necessidades do povo, solidariedade, atenção à tradição, oração – sejam de inspiração e de orientação para todos nós que recebemos a tarefa, o ministério de nos colocar a serviço do nosso povo atentos, especialmente, às necessidades dos mais necessitados e dos mais fracos. Que o bom Deus abençoe a todos.

Fonte: http://www.arquidiocesepoa.org.br/paf.asp?catego=11&exibir=147

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