Desde os primórdios da
Igreja existiram homens e mulheres que se propuseram, pela prática dos
conselhos evangélicos, seguir a Cristo com maior liberdade e imitá-lo mais de
perto, e levaram, cada qual a seu modo, uma vida consagrada a Deus. Podemos contemplar esse caminho de oferta
radical desde o início com o testemunho dos mártires, até os tempos de hoje com
o surgimento das novas comunidades.
Quando a Igreja fala de Vida Consagrada, está falando de uma vocação,
que tem várias modalidades de vida dentro da Igreja. Seguem essa vocação os
Monges e Monjas, os Religiosos e Religiosas, das Ordens, Congregações e
Institutos Religiosos. Além desses, existem os membros dos Institutos
Seculares, bem como os consagrados e as consagradas de assim chamadas “Novas
Comunidades”, muitas das quais nasceram dentro de Movimentos eclesiais
relativamente recentes ou formam seu núcleo central. Há também a Ordem das
Virgens consagradas, restaurada por Paulo VI a partir do Concílio Vaticano II,
cujos membros não constituem comunidade de vida, mas vivem no mundo, tendo
consagrado sua virgindade a Cristo para o testemunho e o serviço na sua
respectiva diocese.
Neste
Mês Vocacional, divulguemos também esta vocação de Vida Consagrada e rezemos
por ela, porque constitui um grande tesouro na Igreja e é uma excepcional força
e serviço nas atividades da pastoral direta nas dioceses e paróquias, como
também no setor de escolas, colégios e universidades, no setor dos hospitais e
demais serviços de saúde, no setor de obras assistenciais, só para citar os
mais conhecidos.
Cada
forma de Vida Consagrada tem um carisma próprio, ou seja, seus fundadores
decidiram – e depois a Igreja os aprovou – viver um ou mais aspectos do
Evangelho de Jesus Cristo numa forma radical e ampla e ainda professar os
conselhos evangélicos da pobreza, obediência e castidade como algo próprio e
comum de todas as formas de Vida Consagrada. Assim, os fundadores lhes deram
normalmente uma Regra de Vida e Constituições ou apenas Constituições, que lhes
dão organização e normas de vida.
Quem se consagra,
escolhe ser diferente. Pela consagração, perde-se dia a dia a velha vida e se
ganha uma nova, que busca configurar-se à vida de Cristo. Para tal, tantas
perdas pessoais são necessárias para que a vida assemelhada a Cristo possa ir
nascendo em nós. Contudo, pequenas são as renúncias diante da grandeza da
oferta. Sem essa busca diária e constante pela conformação a Cristo, a vida
consagrada perde seu sentido. Cristo é o fundamento da vida consagrada. Se não
se compreende a verdadeira motivação, não existe fidelidade a Cristo nem à
consagração professada.
O Concílio Vaticano II, ao tratar da Vida Consagrada, diz: “O estado (de
vida Consagrada) constituído pelos conselhos evangélicos, embora não pertença à
estrutura hierárquica da Igreja, está contudo firmemente relacionado com sua
vida e santidade” (LG 44). “Os conselhos evangélicos da castidade consagrada a
Deus, da pobreza e da obediência se baseiam nas palavras e nos exemplos do
Senhor. São recomendados pelos Apóstolos, Santos e Padres e pelos mestres e
pastores da Igreja. Constituem um dom divino que a Igreja recebeu do seu Senhor
e por graça dele sempre conserva. A própria autoridade da Igreja, guiada pelo
Espírito Santo, cuidou de interpretar os conselhos evangélicos,
regulamentar-lhes a prática e estabelecer formas estáveis de vida” (LG 43).
A Vida
Consagrada é sobretudo um sinal. Diz o Concílio: “A profissão dos conselhos
evangélicos se apresenta como um sinal que pode e deve atrair eficazmente todos
os membros da Igreja para o cumprimento dedicado dos deveres impostos pela
vocação cristã. Como, porém, o Povo de Deus não possui aqui (no mundo) morada
permanente, mas busca a futura, o estado religioso (de Vida Consagrada), pelo
fato de deixar seus membros mais desimpedidos dos cuidados terrenos, ora
manifesta já aqui neste mundo a todos os fiéis a presença dos bens celestes,
ora dá testemunho da nova e eterna vida conquistada pela redenção de Cristo,
ora prenuncia a ressurreição futura e a glória do Reino celeste” (LG 44).
Assim, a Vida Consagrada é sinal das coisas de Deus, da nossa ressurreição
futura e da glória do Reino celeste, pois faz destas realidades sua vida já
aqui no mundo.
João
Paulo II diz: “A primeira tarefa da Vida Consagrada é tornar visíveis as
maravilhas que Deus realiza na frágil humanidade das pessoas chamadas. Mais do
que com as palavras, elas testemunham essas maravilhas com a linguagem eloquente
de uma existência transfigurada, capaz de suscitar a admiração do mundo. A essa
admiração dos homens respondem com o anúncio dos prodígios da graça que o
Senhor realiza naqueles que ama” (VC 20). “Deste modo, a Vida Consagrada
torna-se um dos rastos concretos que a Trindade deixa na história, para que os
homens possam sentir o encanto e a saudade da beleza divina”, diz o Papa (VC 20).
Exemplos de pessoas consagradas são os brasileiros: Santa Paulina, Beato Frei
Galvão e Beato José de Anchieta.
A Vida
Consagrada torna seus membros testemunhas de Cristo no mundo, sobretudo pela
prática da caridade, da solidariedade com os pobres e os excluídos e pela missionariedade.
“Há que afirmar que a missionariedade
está inscrita no coração mesmo de toda forma de Vida Consagrada”, afirma
o Papa (VC 25).
Independente do tempo e
de quais características apresenta cada forma de vida consagrada, é a profissão
dos conselhos evangélicos em um estado de vida estável reconhecido pela Igreja
que caracteriza a vida consagrada a Deus. A vida consagrada, celebrada durante
essa terceira semana do mês vocacional, é um dom e uma escolha de Deus. Ninguém
escolhe se consagrar por acaso ou para seu bel prazer; mas é o próprio Deus, em
Sua infinita bondade e misericórdia, que nos ama, nos escolhe, nos chama e nos
separa para sermos um com Ele por meio desta vocação. A vida consagrada nasce
em Cristo e deve voltar-se para Ele. Assim, não nos consagramos para nós
mesmos. Como dom e escolha de Deus, a vida consagrada precisa ser fecunda,
transbordando em frutos e graças diante de Deus, da Igreja e do mundo.
Durante
essa semana, rezemos pela fidelidade, constância e maturidade da vida
consagrada. O consagrado não nasce pronto – é preciso uma busca diária, um novo
Sim a cada dia para que quanto mais íntimo de Cristo, mais semelhante a Cristo
seja cada consagrado.
Então, que o Mês Vocacional seja uma oportunidade feliz para fazer
conhecer e amar esta vocação tão preciosa da Vida Consagrada!
Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=1563
(Dom
Cláudio Cardeal Hummes)
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