A liturgia deste dia santo tem um tom fúnebre, porém, com
um ar de esperança, porque sabemos que a morte não tem a última palavra nos
desígnios salvíficos de Deus. O sofrimento é uma etapa para a purificação, o
inicio do resgate do povo que ao longo da sua história não quis responder ou
fazer caso do amor sem medida do eterno e sempre Senhor do céu e da terra. Hoje
como cada ano, os nossos olhares estarão somente numa coisa: na cruz, a árvore
da vida. Como já meditamos alguns domingos anteriores, onde os gregos e os
judeus não entendiam este anúncio de são Paulo: de como pode ser que da cruz
poderia sair a vida nova ou a nossa humanidade restaurada e transformada, pois
sim, porque pelo amor tudo alcança. Porque daqui sai a redenção do mundo.
Já comecei dizendo que neste dia os nossos olhares devem
estar direcionado plenamente na cruz, aí está o nosso Senhor Jesus,
crucificado, neste momento até os meus olhos começam a lacrimejar ao contemplar
nesta tarde este episódio tão cheio de compaixão e sofrimento, onde um inocente
assume os pecados da humanidade nas suas costas e derrama o seu sangue precioso
para lavar e purificar toda mancha de impureza das nossas culpas, dos nossos
pecados, das nossas omissões. Não podemos ficar somente nestes momentos da
cruz, devemos ir um pouco mais além de tudo que estamos vendo e escutando.
Na primeira leitura desta Sexta-feira Santa do profeta
Isaías (52, 13-53, 12): em um primeiro momento já nos indica a morte salvadora
de Cristo. A descrição do Servo que assume no seu próprio corpo os males da
humanidade, não deixa de ser uma das verdades mais dramáticas do Antigo
Testamento, que nós interpretamos numa chave messiânica salvadora na pessoa do
próprio Cristo: “De tal forma ele já nem parecia gente, tanto havia perdido a
aparência humana, que muitos se horrorizaram com ele […] Não fazia vista, nem
tinha beleza a atrair o olhar, não tinha aparência que agradasse. Era o mais
desprezado e abandonado de todos, homem do sofrimento, experimentado na dor […]
Eram na verdade os nossos sofrimentos que ele carregava, eram as nossas dores,
que levava às costas… Mas estava sendo transpassado por causa de nossas
rebeldias, estava sendo esmagado por nossos pecados. O castigo que teríamos de
pagar caiu sobre ele, com os seus ferimentos veio a cura para nós” (52, 14; 53,
2-5).
Hoje é o dia que nas igrejas de todo o mundo tem uma
grande assistência de fiéis, isto é porque cada uma das pessoas que participam
se identificam com estes sofrimentos do Servo de Javé. E que um ano mais a
crise econômica é a que faz com que a sociedade sofra e carregue a sua cruz cada
vez mais pesada. Porém, considero que não existe ou não aparece um mal na nossa
vida que nos ajuda a ver as coisas com outros olhos, por isso vejo como uma boa
oportunidade para que a humanidade volte o seu olhar e o seu pensamento para
Jesus, o Servo massacrado. Ele foi quem sofreu para nos libertar das ataduras
do pecado, da morte, do mal e de tudo aquilo que nos faz sofrer. Reconheçamos
de uma vez por todas que não existe vida plena sem cruzes, mas tampouco podemos
negar que se temos alguma cruz é para a nossa própria purificação.
Uma coisa é importante e que devemos entender, que neste
dia não estamos de luto, mas não deixa de ser uma celebração sombria e intensa,
onde contemplamos com fé e admiração a entrega generosa de Cristo na
solidariedade com o gênero humano. Deus nos salva assumindo ele próprio a dor
levando a cabo o seu plano salvador no meio da fragilidade do seu povo.
Aqueles que experimentaram no seu próprio corpo ser
curados por alguma doença ou alguma ferida, assim são as feridas de Jesus,
estas feridas cicatrizam tudo aquilo que foram causados pela nossa própria
liberdade, porém poderia ser que ainda existam algumas feridas provocadas pela
história e que continuam causando grandes dores na alma e no espírito, feridas
provocadas sejam por acontecimentos ou algum imprevisto da vida. Hoje é o dia da
manifestação do poder gratuito que brota deste madeiro, o madeiro santo, a
árvore da vida. Hoje é o dia que Deus manifestará na sua vida, deixemo-nos
contaminar por esta graça que o Senhor deseja realizar na sua vida. Irmãos
creiam e vocês verão as grandes graças que realizarão este rei que governa do
seu trono, a cruz pode mudar a sua vida e a sua história.
Necessitamos de cura, necessitamos que as nossas feridas
se fechem e cicatrizem para poder levar uma vida plena e assim corresponder ao
grande amor que nos teve e continua manifestando.
Pe. Lucimar, sf
Fonte: http://padrelucimar.com/sexta-feira-santa-ciclo-b-portesp/
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