Era uma vez um povoado todo cinzento e triste.
Quando chovia, todo mundo usava guarda-chuvas pretos, mas só e rigorosamente pretos.
O semblante de todos era muito carregado e triste. Debaixo de um guarda-chuva preto só podia ser assim.
Certo dia, em que a chuva desabava mais forte, apareceu, como por encanto, um senhor um tanto excêntrico, que ia desafiando aquele dilúvio,usando um guarda-chuva amarelo.
Mas não só: avançava todo sorridente. Isso mesmo, ele sorria.
Alguns dos passantes, como sempre, sob guarda-chuvas negros, olhava para ele escandalizados e murmuravam:
- Que indecência, fica mesmo ridícula essa sua sombrinha amarela. Chuva é coisa séria e um guarda chuva só pode ser preto.
Outros ficaram indignados e se perguntavam alucinados
- O que lhe deu na telha a esse sujeito de querer enfrentar a chuva com um guarda-chuva amarelo? Exibicionista.
Outros ainda fizeram queixa na polícia:
- É certamente um sujeito orgulhoso, alguém que faz de tudo para aparecer. Ele se parece mesmo divertido.
De fato, não havia nada de divertido naquele país de chuva permanente e de guarda-chuvas pretos.
Só Natacha não conseguia atinar o motivo daquelas críticas e um pensamento a inculcava:
- Quando chove, guarda-chuva é guarda-chuva, preto ou amarelo, o que interessa mesmo é que guarde da chuva. E ponto final.
Um dia, ao voltar da escola, Natacha se deu conta de que havia esquecido o seu guarda-chuva preto em casa.
Deu de ombros e se meteu na chuva sem nada na cabeça, deixando que a água lhe encharcasse o cabelo.
Quis o acaso que, dai a pouco ela topasse com… isso mesmo, com o homem do guarda-chuva amarelo.
- Servida?
Natacha hesitou. Se aceitasse, seria alvo de gozação. Entretanto, acudiu-lhe o pensamento:
- Quando chove, guarda-chuva é guarda-chuva, preto ou amarelo, que importa?
Além disso, é melhor ter um guarda-chuva do que ensopar-se de água.
Aceitou e viu-se debaixo do guarda-chuva do gentilíssimo senhor.
Então compreendeu porque aquele senhor era tão feliz:
debaixo do guarda-chuva amarelo o mal tempo desaparecia.
E em um céu azul, recortado de pássaros festivos, brilhava um grande e quente sol.
Natacha ficou encantada e o senhor abriu-se para ela em um sorriso:
- Já sei, ficou encantada. Pois então, escute, explico tudo:
houve um tempo em que eu também era muito triste neste pais de chuva sem fim, eu também usava um guarda-chuva preto.
Certo dia, saindo do escritório, lá esqueci o meu guarda-chuva.
Não voltei para apanhá-lo, fui andando para a casa assim, como estava.
Eis que, enquanto caminhava, deparei-me com um senhor que me ofereceu entrar sob o seu guarda-chuva amarelo.
Como você, hesitei, tinha medo de ser diferente, de tornar-me ridículo.
Depois aceitei, porque o que mais temia mesmo era apanhar um resfriado.
E me dei conta, como você, de que debaixo do guarda-chuva amarelo o mal tempo simplesmente desaparecia.
Aquele senhor me ensinou que as pessoas, debaixo de um guarda-chuva preto, ficavam tristes e sem vontade de se comunicar.
O gotejar da chuva e o preto da sombrinha os deixavam amarrados.
Quando, de repente não o vi mais, percebi que estava segurando o seu guarda-chuva amarelo.
Ele o teria esquecido?
Tentei reencontrá-lo, mas não o vi mais.
Por isso, guardei o guarda-chuva. Desde então o tempo sempre foi maravilhoso.
- Linda história! Entretanto, não sente remorso de ficar com um guarda-chuva de um outro?
- Absolutamente não! Porque sei muito bem que ele é de todos. Também aquele homem certamente o tinha recebido de alguém.
Quando chegaram na frente da casa de Natacha, despediram-se. Imediatamente, o homem, afastando-se, desapareceu.
E a jovem se viu segurando seu guarda-chuva amarelo.
Mas, então, aquele senhor: por onde andaria?
Assim, Natacha guardou aquele maravilhoso guarda-chuva amarelo.
Também compreendeu que, mais dias, menos dias, o guarda-chuva haveria de mudar de dono.
Passaria a novas mãos, a fim de levar serenidade a outras pessoas.
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