terça-feira, 4 de março de 2014

O início da Quaresma é marcado pela imposição das cinzas.

Ao longo da Quaresma, o jejum, a oração e a esmola são sinais sensíveis da penitência com que nos preparamos para comemorar o acontecimento central da História da Salvação: a Ressurreição do Senhor, celebrada no Domingo de Páscoa.
Um rito único e tocante
A Quaresma inicia na Quarta-Feira de Cinzas. Após a Liturgia da Palavra, os fiéis participam de um rito único e tocante. Cinzas são abençoadas pelo sacerdote e cada um dos presentes aproxima-se para recebê-las em forma de cruz sobre a testa, permanecendo o resto do dia com a marca de Cristo traçada sobre suas frontes.
As cinzas como sinal de penitência
Eloquente imagem da fragilidade humana e da futilidade dos bens deste mundo, as cinzas foram desde os mais antigos tempos sinal de luto e de dor, inclusive fora do âmbito do povo de Israel. Para este, elas simbolizavam a humilhação ou a penitência do homem diante de Deus. As páginas da História Sagrada estão cheias de episódios em que os israelitas se servem das cinzas para reconhecer o nada da natureza humana diante dos desígnios do Altíssimo, antes de pedir o auxílio da onipotência divina.
Desde os primeiros tempos do Cristianismo
Desde os primeiros tempos da Era da Graça, os cristãos adotaram essa forma de manifestar a contrição e a dor, segundo é atestado por inúmeros documentos.E com o tempo, o uso da cinza foi incorporado ao rito penitencial público mediante o qual era administrado, no início da Quaresma, o Sacramento da Reconciliação.
No século XI a imposição das cinzas, antigamente reservada para os pecadores públicos, tornar-se-obrigatória para leigos e clérigos.3
A imposição das cinzas, hoje
A reforma litúrgica conciliar inseriu a cerimônia de imposição das cinzas no seio da Celebração Eucarística desse dia, embora, em caso de necessidade, possam ser administradas fora da Missa, durante uma Liturgia da Palavra.
Segundo um costume iniciado no século XII, a cinza imposta aos fiéis nesse dia é obtida pela combustão dos ramos abençoados no Domingo de Ramos do ano precedente. Isto ressalta ainda mais a futilidade das glórias deste mundo, voláteis como a cinza que o vento leva e efêmeras como os louvores dados ao Salvador ao entrar em Jerusalém, logo mudados em gritos de condenação.
Quando nos aproximamos do sacerdote para receber as cinzas ele traça sobre nossa testa de forma bem visível o sinal da Redenção, pois não devemos ocultar diante o mundo a nossa Fé cristã, nem devemos sentir vergonha em reconhecer nossa necessidade de conversão. E, enquanto o ministro de Deus as impõe, proclama uma destas duas frases bíblicas: "Lembra-te, homem, que és pó e ao pó hás de voltar" (cf. Gn 3, 19) ou "Convertei- vos e crede no Evangelho" (Mc 1, 15).
Um sacramental de grande valor
A cerimônia de bênção e imposição das cinzas não deve ser vista apenas como uma bela manifestação de fé que deita suas raízes em antigos tempos. Muito além do seu valor simbólico e histórico, ela é um sacramental por cujo intermédio a Santa Igreja intercede ante seu Divino Esposo pelos fiéis que se acolhem a esta cerimônia e implora para eles graças de penitência e conversão.
Assim, quando ao abençoar as cinzas o sacerdote pede que Deus derrame sua bênção sobre os que vão recebê-las de forma que, "prosseguindo na observância da Quaresma, possam celebrar de coração purificado o mistério pascal" ou possamos "pela observância da Quaresma, obter o perdão dos pecados e viver uma vida nova", devemos ter certeza de que, ao receber sobre nossa fronte as cinzas tornadas sagradas, Deus fortalecerá com sua graça os nossos bons propósitos para esse período de penitência.
Com as cinzas, símbolo da morte, ao longo da caminhada quaresmal, morreremos ao pecado com Cristo, e, limpos de nossas faltas, ressuscitaremos com Ele, fortalecidos para a vida nova da graça, tão bem simbolizada pelas águas regeneradoras com as quais seremos aspergidos na Vigília Pascal.
Aproveitemos mais este poderoso auxílio que Deus coloca ao nosso alcance e não tenhamos medo de fazer propósitos ousados que nos levem a uma efetiva mudança de vida. Quanto nos deveríamos sentir estimulados, diante desta convicção, a fazer um cuidadoso exame de consciência com vistas a uma boa Confissão! Estando a Santa Igreja rezando por nós, não nos faltará o auxílio necessário para chegar ao glorioso dia da Ressurreição do Senhor com uma alma inteiramente limpa e renovada.

(Revista Arautos do Evangelho, Fevereiro/2013, n. 134, p. 18-21)

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