segunda-feira, 30 de abril de 2012

Jesus é o Bom Pastor (Jo 10,11-18)

Coleção A Palavra na Vida 147/148
Autores: Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino
Publicações CEBI
Mais informações no endereço vendas@cebi.org.br
SITUANDO
Jesus é o Bom Pastor que veio para que todos tenham vida em abundância! O discurso sobre o Bom Pastor traz três comparações ligadas entre si: Jesus fala do pastor e dos assaltantes (Jo 10,1-5); Jesus é a porteira das ovelhas (Jo 10,6-10); Jesus é o Bom Pastor (Jo 10,11-18).
Temos aqui um outro exemplo de como foi escrito o Evangelho de João. O discurso de Jesus sobre o Bom Pastor (Jo 10, 1-18) é como um tijolo inserido numa parede já pronta. Com ele a parede ficou mais forte e mais bonita. Imediatamente antes, em Jo 9,40-41, João falava da cegueira dos fariseus. A conclusão natural desta discussão sobre a cegueira está logo depois, em Jo 10,19-21. Ora, o discurso sobre o Bom Pastor foi inserido aqui, porque, como veremos, ensina como tirar esse tipo de cegueira dos fariseus.
COMENTANDO
João 10,1-5: 1ª comparação: entrar pela porteira e não por outro lugar.
Jesus inicia o discurso com a comparação da porteira: "Quem não entra pela porteira mas sobe por outro lugar é ladrão e assaltante! Quem entra pela porteira é o pastor das ovelhas!" Naquele tempo, os pastores cuidavam do rebanho durante o dia. Quando chegava a noite, levavam as ovelhas para um grande redil ou curral comunitário, bem protegido contra ladrões e lobos. Todos os pastores de uma mesma região levavam para lá o seu rebanho. Um porteiro tomava conta de tudo durante a noite. No dia seguinte, de manhã cedo, o pastor chegava, batia palmas na porteira e o porteiro abria. O pastor entrava e chamava as ovelhas pelo nome. As ovelhas reconheciam a voz do seu pastor, levantavam e saiam atrás dele para a pastagem. As ovelhas dos outros pastores ouviam a voz, mas elas não se mexiam, pois era uma voz estranha para elas. De vez em quando, aparecia o perigo de assalto. Ladrões entravam por um atalho ou derrubavam a cerca do redil, feita de pedras amontoadas, para roubar as ovelhas. Eles não entravam pela porteira, pois lá havia o guarda que tomava conta.
João 10,6-10: 2ª comparação: Jesus é a porteira.
Os ouvintes, os fariseus (Jo 9,40-41), não entenderam o que significava "entrar pela porteira". Jesus então explicou: "Eu sou a porteira das ovelhas. Todos os que vieram antes de mim eram ladrões e assaltantes". De quem Jesus está falando nesta frase tão dura? Provavelmente, se referia a líderes religiosos que arrastavam o povo atrás de si, mas que não respondiam às esperanças do povo. Não estavam interessados no bem do povo, mas sim no próprio bolso e nos próprios interesses. Enganavam o povo e o deixavam na pior. Entrar pela porteira é o mesmo que agir como Jesus agia. O critério básico para discernir quem é pastor e quem é assaltante, é a defesa da vida das ovelhas. Jesus pede para o povo não seguir as pessoas que se apresentam como pastor, mas não buscam a vida do povo. É aqui que ele disse aquela frase que até hoje cantamos: "Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância!" Este é o critério!
João 10,11-15: 3ª comparação: Jesus é o bom pastor.
Jesus muda a comparação. Antes, ele era a porteira das ovelhas. Agora, é o pastor das ovelhas. Todo mundo sabia o que era um pastor e como ele vivia e trabalhava. Mas Jesus não é um pastor qualquer, mas sim o bom pastor! A imagem do bom pastor vem do AT. Dizendo que é o Bom Pastor, Jesus se apresenta como aquele que vem realizar as promessas dos profetas e as esperanças do povo. Veja por exemplo a belíssima profecia de Ezequiel (Ez 34,11-16). Há dois pontos em que Jesus insiste: (1) Na defesa da vida das ovelhas: o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas. (2) No mútuo reconhecimento entre pastor e ovelhas: o Pastor conhece as suas ovelhas e elas conhecem o pastor. Jesus diz que no povo há uma percepção para saber quem é o bom pastor. Era isto que os fariseus não aceitavam. Eles desprezavam as ovelhas e as chamavam de povo maldito e ignorante (Jo 7,49; 9,34). Eles pensavam ter o olhar certo para discernir as coisas de Deus. Na realidade eram cegos. O discurso sobre o Bom Pastor ensina duas regras como curar este tipo bastante frequente de cegueira: 1) Prestar muita atenção na reação das ovelhas, pois elas reconhecem a voz do pastor. 2) Prestar muita atenção na atitude daquele que se diz pastor para ver se o interesse dele é a vida das ovelhas, sim ou não, e se ele é capaz de dar a vida pelas ovelhas. Certa vez, na festa da tomada de posse de um novo bispo, as "ovelhas" colocaram uma faixa na porta da igreja que dizia: "As ovelhas não conhecem o pastor!" As "ovelhas" não foram consultadas. Advertência séria para quem nomeia os bispos.
João 10,16-18: A meta onde Jesus quer chegar: um só rebanho e um só pastor.
Jesus abre o horizonte e diz que tem outras ovelhas que não são deste redil. Elas ainda não ouviram a voz de Jesus, mas quando a ouvirem, vão perceber que ele é o pastor e vão segui-lo. É a dimensão ecumênica universal.

ALARGANDO
A Imagem do Pastor na Bíblia
Na Palestina, a sobrevivência do povo dependia em grande parte da criação de cabras e ovelhas. A imagem do pastor guiando suas ovelhas para as pastagens era conhecida por todos, como hoje todos conhecem a imagem do motorista de ônibus. Era normal usar a imagem do pastor para indicar a função de quem governava e conduzia o povo. Os profetas criticavam os reis por serem maus pastores que não cuidavam do seu rebanho e não o conduziam para as pastagens (Jr 2,8; 10,21; 23,1-2). Esta crítica dos maus pastores foi crescendo na mesma medida em que, por culpa dos reis, o povo acabou sendo levado para o cativeiro (Ez 34,1-10; Zc 11,4-17).
Diante da frustração sofrida com os desmandos dos maus pastores, aparece a comparação com o verdadeiro pastor do povo, que é o próprio Deus: "O Senhor é meu pastor e nada me falta" (Sl 23,1-6; Gn 48,15). Os profetas esperam que, no futuro, Deus venha, ele mesmo, como pastor guiar o seu rebanho (Is 40,11; Ez 34,11-16). E esperam que, desta vez, o povo saiba reconhecer a voz do seu pastor: "Oxalá ouvísseis hoje a sua voz!" (Sl 95,7). Esperam que Deus venha como Juiz que fará o julgamento entre as ovelhas do rebanho (Ez 34,17). Surgem o desejo e a esperança de que, um dia, Deus suscite bons pastores e que o messias seja um bom pastor para o povo de Deus (Jr 3,15; 23,4).
Jesus realiza esta esperança e se apresenta como o Bom Pastor, diferente dos assaltantes que roubam o povo. Ele se apresenta também com o Juiz do povo que, no final, fará o julgamento como um pastor que sabe separar as ovelhas dos cabritos (Mt 25,31-46). Em Jesus se realiza a profecia de Zacarias que diz que o bom pastor será perseguido pelos maus pastores, incomodados pela denúncia que ele faz: "Vão bater no pastor e as ovelhas se dispersarão!" (Zc 13,7). No fim, Jesus é tudo: é a porteira, é o pastor e é o cordeiro!
 
CEBI - Centro de Estudos Bíblicos
www.cebi.org.br

domingo, 8 de abril de 2012

PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DE JESUS

A última noite da Semana é a chamada Vigília Pascal, ou Sábado de Aleluia, normalmente celebrada na noite ou madrugada do Domingo de Páscoa. Esta festa é móvel e se celebra no primeiro Domingo depois da lua cheia do outono.


Páscoa, do latim paschalis, deriva da palavra hebraica Pessach, passagem.  A Páscoa de Cristo é sua passagem da morte na cruz para a ressurreição.  É sua vitória plena e definitiva sobre a morte e todos os males.  Desse modo, a ressurreição de Jesus mudou totalmente  a história da humanidade e de cada ser humano.  A Páscoa é o mistério unificador de toda a nossa fé cristã, sendo, assim, a principal festa da Igreja.


Com este nome designamos a festa judaica da saída do povo do Egito conduzido por Moisés, celebrada anualmente na primeira lua cheia depois do outono, no hemisfério sul, com a ceia pascal e o cordeiro imolado, ervas e pão ázimo.


Simboliza também a festa cristã da Ressurreição de Jesus de Nazaré no ano 30 da era cristã, celebrada cada ano durante o tríduo pascal, da Quinta-feira ao Domingo da Semana Santa, sempre no Domingo após a lua cheia depois do início do outono no hemisfério sul, com a Festa Eucarística Solene durante a chamada Vigília Pascal, com inúmeras leituras bíblicas, celebração do fogo novo, velas e Círio Pascal, água e batismo de adultos, pão consagrado na missa solene e o canto do Hino em latim "Exultet".


Se observarmos o caminho que já fizemos até este hoje, foram quarenta dias que a nossa Santa Mãe Igreja, com toda a sua pedagogia e experiência, queria transmitir e incentivar que todos os seus filhos tivessem uma oportunidade de preparar-se espiritualmente para celebrar esta eucarística com o coração totalmente reconciliado e agradecido, a festa mais importante do calendário litúrgico cristão, a Páscoa, a Ressurreição, o memorial pelo qual recordamos a passagem da morte à vida. Jesus venceu a morte, a morte já não tem poder sobre o amor, sobre o bem ou sobre a salvação, dom de Deus para a humanidade.


Nesta noite, na vigília pascal, a emoção estava à flor da pele, tudo nos estava falando, foi uma celebração cheia de simbolismo que já se explicava por si mesmo. Ao ler todos os textos tanto do AT quanto do NT, com o objetivo de também fazer memória de todos os momentos da intervenção de Deus na história do seu povo, do qual podemos considerar como História de Salvação, e hoje seguimos lembrando estes momentos com grande satisfação, porque esta História de Salvação continua, porque o Senhor Ressuscitado não deixa de se fazer presente na história de cada um de nós. Uma história construída pela presença de grades interrogantes, dúvidas, cruzes, caídas, pecados, etc., porém, no final será esta história da intervenção de Deus na nossa vida que temos que anunciar aos nossos contemporâneos, o objetivo não é de fazer com que eles tenham mais fé ou que sejam mais fervorosos, mas deixar claro que tudo isso foi graças a um coração aberto às manifestações misericordiosas de Deus.


A história de cada cristão deve estar marcada e selada pela Ressurreição de Jesus. Falar da Ressurreição não é um tema fácil, principalmente neste mundo que vivemos, onde todos querem saber ao milímetro de tudo, sobre como foi, como passou, que ocorreu e comprovar para que não sejam enganados por uma fé psicológica, sentimentalista ou uma fé da prosperidade, mas apesar de tudo isso ainda resta espaços para as dúvidas. A nossa fé não pode ficar dependente de como se interpreta para poder alcançá-la, uma coisa é importante, ter uma experiência profunda e real do ressuscitado. Assim, poderemos ser testemunhas com crédito, mas e a verdade é que não temos testemunhos que vieram e presenciar tais acontecimentos, com isso quero dizer-vos que o único que nos relata o evangelho deste Dia Santo é o testemunho das mulheres e dos discípulos que relataram ao chegar e encontraram o sepulcro vazio: ‘encontramos os panos postos no chão’ e também o ‘sudário’. Isso foi suficiente para crer que o Filho de Deus, o Messias, Jesus, tinha ressuscitado dos mortos. Ali estava a o ‘Santo Sudário’, neste momento os seus olhos se abriram à fé e começaram a entender tudo aquilo que Jesus tinha explicado sobre ‘ressuscitar dos mortos’.


Na passagem evangélica de são João (20, 1-10) nos diz que entraram ‘viram e creram’, a partir deste episódio podemos também fazer as nossas perguntas: Pois será que não acreditavam quando estavam com Jesus? A resposta é que acreditavam, porém, não entendiam o que Jesus queria dizer com tais palavras. Agora as coisas já começam estar mais do que clarividentes pela falta de fé daqueles homens que necessitavam de algum sinal para seguir em frente como seguidores de um Galileu: ‘ele andou fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo diabo; pois Deus estava com ele’, como já nos afirmava a primeira leitura (Atos dos Apóstolos 10, 34.37-43).


Cristo ressuscitou!
Páscoa é vitória da vida sobre a morte.  Vitória de Jesus e nossa também.  É sua vitória plena e definitiva sobre a morte e todos os males.  Desse modo, a ressurreição de Jesus mudou totalmente a história da humanidade e de cada ser humano.


Páscoa significa “passagem”.  A morte de cada pessoa é sua Páscoa, a passagem deste mundo para o Pai.
A Páscoa nasceu com a Igreja e a Igreja nasceu da Páscoa.
Todo domingo “dia do Senhor” é Páscoa e toda Eucaristia é memorial do mistério pascal.


A cor branca, própria do Tempo Pascal, lembra a vitória do Cordeiro imolado, vencedor da morte e do mal, trazendo a paz.
A cruz vazia ou só com um lençol branco recorda que a cruz é o começo de nova era.
O cordeiro é o símbolo religioso mais antigo da Páscoa.  Simboliza Cristo chamado de Cordeiro de Deus por João Batista.
O Círio Pascal aceso na Vigília e em todas as celebrações do Tempo Pascal, é associado à luz, e é símbolo dão Ressuscitado.
O ovo (explorado pelo comércio, se for de chocolate) é símbolo da vida, é a maior célula que existe.
O coelho não é símbolo religioso de Páscoa.
A Colomba ou Pomba Pascal também não é símbolo religioso, mas comercial.


Os 4 evangelistas são unânimes em afirmar que as mulheres foram as primeiras anunciadoras da Ressurreição do Senhor.


A missa da Vigília é a verdadeira missa do Domingo de Páscoa. As outras missas durante o domingo são prolongamento da Vigília e mantém o clima pascal festivo.


Hoje, você e eu, somos convidados a dar testemunhos daquilo que este homem, realizou e continuará realizando nas nossas vidas. Se Jesus foi fiel até os últimos dias da sua vida, assumindo todas as consequências, suportando o peso dos nossos pecados e graças a Ele podemos dizer que as portas do céu já estão abertas para todos os que acreditam Nele.


Pe. Lucimar, sf



sábado, 7 de abril de 2012

Vigília Pascal – Sábado Santo

"Durante o Sábado santo a Igreja permanece junto ao sepulcro do Senhor, meditando sua paixão e sua morte, sua descida à mansão dos mortos e esperando na oração e no jejum sua ressurreição (Circ 73).  No dia do silêncio: a comunidade cristã vela junto ao sepulcro. Calam os sinos e os instrumentos. É ensaiado o aleluia, mas em voz baixa. É o dia para aprofundar. Para contemplar. O altar está despojado. O sacrário aberto e vazio.


No Sábado Santo não há nenhuma liturgia oficial. As igrejas estão vazias. Os altares desnudos. Os tabernáculos abertos e vazios. As velas apagadas. O silêncio invade todos os ambientes. É uma experiência de tristeza e atitude de espera. Tudo para lembrar que Cristo desce à mansão dos mortos e assume o destino e a limitação do ser humano. Ele é solidário até o fim e faz a descida da morte, entra no seu mistério, para sair vitorioso e abrir para todos um caminho de luz e esperança. Sábado Santo é dia de recolhimento, de encontro com o Ressuscitado, na oração e na contemplação. É preparação para liturgia da Vigília Pascal, a grande festa, a mãe de todas as vigílias e a fonte de todas as liturgias. Aí encontramos um sentido para a vida e ressuscitamos com Cristo para uma vida nova.


A Cruz continua entronizada desde o dia anterior. Central, iluminada, com um pano vermelho com o louro da vitória. Deus morreu. Quis vencer com sua própria dor o mal da humanidade. É o dia da ausência. O Esposo nos foi arrebatado. Dia de dor, de repouso, de esperança, de solidão. O próprio Cristo está calado. Ele, que é Verbo, a Palavra, está calado. Depois de seu último grito da cruz "por que me abandonaste?", agora ele cala no sepulcro. Descansa: "consummantum est", "tudo está consumado". Mas este silêncio pode ser chamado de plenitude da palavra. O assombro é eloqüente. "Fulget crucis mysterium", "resplandece o mistério da Cruz".


O Sábado é o dia em que experimentamos o vazio. Se a fé, ungida de esperança, não visse no horizonte último desta realidade, cairíamos no desalento: "nós o experimentávamos… ", diziam os discípulos de Emaús.


É um dia de meditação e silêncio. Algo parecido à cena que nos descreve o livro de Jó, quando os amigos que foram visitá-lo, ao ver o seu estado, ficaram mudos, atônitos frente à sua imensa dor: "Sentaram-se no chão ao lado dele, sete dias e sete noites, sem dizer-lhe uma palavra, vendo como era atroz seu sofrimento" (Jó 2,13).


Ou seja, não é um dia vazio em que "não acontece nada". Nem uma duplicação da Sexta-feira. A grande lição é esta: Cristo está no sepulcro, desceu à mansão dos mortos, ao mais profundo em que pode ir uma pessoa. E junto a Ele, como sua Mãe Maria, está a Igreja, a esposa. Calada, como ele. O Sábado está no próprio coração do Tríduo Pascal. Entre a morte da Sexta-feira e a ressurreição do Domingo nos detemos no sepulcro. Um dia ponte, mas com personalidade. São três aspectos - não tanto momentos cronológicos- de um mesmo e único mistério, o mesmo da Páscoa de Jesus: morto, sepultado, ressuscitado:


"...se despojou de sua posição e tomou a condição de escravo…se rebaixou até se submeter inclusive à morte, quer dizer, conhecesse o estado de morte, o estado de separação entre sua alma e seu corpo, durante o tempo compreendido entre o momento em que Ele expirou na cruz e o momento em que ressuscitou. Este estado de Cristo morto é o mistério do sepulcro e da descida à mansão dos mortos. É o mistério do Sábado Santo em que Cristo depositado na tumba manifesta o grande repouso sabático de Deus depois de realizar a salvação dos homens, que estabelece na paz o universo inteiro".

Vigília Pascal é a noite santa da ressurreição do Senhor.  É celebrada depois do anoitecer do Sábado Santo e antes do amanhecer do Domingo da Ressurreição.  Reunimo-nos para celebrar a páscoa de Jesus: sua passagem da morte para a vida.  Ele ressuscitou – esse é o grande anúncio nesta noite santa.  A Ressurreição de Jesus é o milagre do começo da vida, vida nova a partir da morte.  A cor litúrgica é o branco.

O Círio Pascal, aceso com o fogo novo, luz que surge nas trevas, representa Cristo Ressuscitado vitorioso sobre a morte e Senhor da história, luz que ilumina o mundo.  Na vela, estão gravadas as letras gregas Alfa e Ômega, que querem dizer: “Deus é o princípio e o fim de tudo”.



A vigília pascal se realiza em quatro momento:
1 – Celebração da Luz (bênção do fogo novo, a preparação do Círio Pascal, a procissão para o interior da igreja e a proclamação da Páscoa)


2 – Liturgia da Palavra (sete leituras ao Antigo Testamento com seu salmo e oração, canto do Glória, epístola, canto do Aleluia e evangelho)
3 – Liturgia Batismal (ladainha dos Santos, bênção da água batismal, renovação das promessas do Batismo)


4 – Liturgia Eucarística (a missa prossegue da Apresentação das ofertas em diante)

Os símbolos da Vigília:
O fogo – na Bíblia é sinal da presença e ação de Deus no mundo.  Acende-se uma fogueira fora da igreja.  Este fogo representa a vida nova conseguida na ressurreição de Jesus.  Com ele acende-se o Círio Pascal e se abastece de brasas o turíbulo.
A luz – primeira criatura de Deus, condição indispensável para que haja vida.
A água – símbolo da vida.  A bênção da água ressalta presenças importantes da água na história da salvação.

O tempo pascal vai até o dia de Pentecostes, nesse dia o Círio Pascal sairá solenemente do presbitério, onde ficou todo esse tempo. A partir desse dia só será usado, nas cerimônias do Batismo e Crisma.


Sexta-feira Santa - não se celebra missa ou qualquer sacramento. É dia de silêncio e de Jejum.

A liturgia deste dia santo tem um tom fúnebre, porém, com um ar de esperança, porque sabemos que a morte não tem a última palavra nos desígnios salvíficos de Deus. O sofrimento é uma etapa para a purificação, o inicio do resgate do povo que ao longo da sua história não quis responder ou fazer caso do amor sem medida do eterno e sempre Senhor do céu e da terra. Hoje como cada ano, os nossos olhares estarão somente numa coisa: na cruz, a árvore da vida. Como já meditamos alguns domingos anteriores, onde os gregos e os judeus não entendiam este anúncio de são Paulo: de como pode ser que da cruz poderia sair a vida nova ou a nossa humanidade restaurada e transformada, pois sim, porque pelo amor tudo alcança. Porque daqui sai a redenção do mundo.


Já comecei dizendo que neste dia os nossos olhares devem estar direcionado plenamente na cruz, aí está o nosso Senhor Jesus, crucificado, neste momento até os meus olhos começam a lacrimejar ao contemplar nesta tarde este episódio tão cheio de compaixão e sofrimento, onde um inocente assume os pecados da humanidade nas suas costas e derrama o seu sangue precioso para lavar e purificar toda mancha de impureza das nossas culpas, dos nossos pecados, das nossas omissões. Não podemos ficar somente nestes momentos da cruz, devemos ir um pouco mais além de tudo que estamos vendo e escutando.


Na primeira leitura desta Sexta-feira Santa do profeta Isaías (52, 13-53, 12): em um primeiro momento já nos indica a morte salvadora de Cristo. A descrição do Servo que assume no seu próprio corpo os males da humanidade, não deixa de ser uma das verdades mais dramáticas do Antigo Testamento, que nós interpretamos numa chave messiânica salvadora na pessoa do próprio Cristo: “De tal forma ele já nem parecia gente, tanto havia perdido a aparência humana, que muitos se horrorizaram com ele […] Não fazia vista, nem tinha beleza a atrair o olhar, não tinha aparência que agradasse. Era o mais desprezado e abandonado de todos, homem do sofrimento, experimentado na dor […] Eram na verdade os nossos sofrimentos que ele carregava, eram as nossas dores, que levava às costas… Mas estava sendo transpassado por causa de nossas rebeldias, estava sendo esmagado por nossos pecados. O castigo que teríamos de pagar caiu sobre ele, com os seus ferimentos veio a cura para nós” (52, 14; 53, 2-5).


Hoje é o dia que nas igrejas de todo o mundo tem uma grande assistência de fiéis, isto é porque cada uma das pessoas que participam se identificam com estes sofrimentos do Servo de Javé. E que um ano mais a crise econômica é a que faz com que a sociedade sofra e carregue a sua cruz cada vez mais pesada. Porém, considero que não existe ou não aparece um mal na nossa vida que nos ajuda a ver as coisas com outros olhos, por isso vejo como uma boa oportunidade para que a humanidade volte o seu olhar e o seu pensamento para Jesus, o Servo massacrado. Ele foi quem sofreu para nos libertar das ataduras do pecado, da morte, do mal e de tudo aquilo que nos faz sofrer. Reconheçamos de uma vez por todas que não existe vida plena sem cruzes, mas tampouco podemos negar que se temos alguma cruz é para a nossa própria purificação.


Uma coisa é importante e que devemos entender, que neste dia não estamos de luto, mas não deixa de ser uma celebração sombria e intensa, onde contemplamos com fé e admiração a entrega generosa de Cristo na solidariedade com o gênero humano. Deus nos salva assumindo ele próprio a dor levando a cabo o seu plano salvador no meio da fragilidade do seu povo.


Aqueles que experimentaram no seu próprio corpo ser curados por alguma doença ou alguma ferida, assim são as feridas de Jesus, estas feridas cicatrizam tudo aquilo que foram causados pela nossa própria liberdade, porém poderia ser que ainda existam algumas feridas provocadas pela história e que continuam causando grandes dores na alma e no espírito, feridas provocadas sejam por acontecimentos ou algum imprevisto da vida. Hoje é o dia da manifestação do poder gratuito que brota deste madeiro, o madeiro santo, a árvore da vida. Hoje é o dia que Deus manifestará na sua vida, deixemo-nos contaminar por esta graça que o Senhor deseja realizar na sua vida. Irmãos creiam e vocês verão as grandes graças que realizarão este rei que governa do seu trono, a cruz pode mudar a sua vida e a sua história.

Necessitamos de cura, necessitamos que as nossas feridas se fechem e cicatrizem para poder levar uma vida plena e assim corresponder ao grande amor que nos teve e continua manifestando.
Pe. Lucimar, sf


Fonte: http://padrelucimar.com/sexta-feira-santa-ciclo-b-portesp/



quinta-feira, 5 de abril de 2012

Na Quinta-feira santa se celebra a Ceia do Senhor, ou seja, a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio com a tradicional cerimônia do Lava-pés.

Já começamos os três dias mais intensos de todo o ano litúrgico e principalmente da fé cristã: na liturgia fazemos o memorial de todos os gestos mais significativos, gestos da salvação, da doação total. Em todo mundo são os dias que mais se fazem procissões lembrando os últimos momentos da vida de Jesus, são últimos porque já o ‘veremos’ tal qual ele é, porém, o veremos transformado num corpo glorioso. A sua presença será pela substância do pão e do vinho, pelo qual se fez presente na liturgia, na história, na vida de todos aqueles que deixam um espaço no seu interior, aqui é por onde ele se fará presente quando queremos porque está por dentro.


Hoje, Quinta-Feira Santa, começamos o primeiro dia do Tríduo Pascal, uma celebração solene e grandiosa, marcada pelo seu contexto dramático da aproximação da paixão e morte do Senhor. É o dia marcante por excelência da despedida e do amor extremo que se fez servo humilde e generoso.


São muitas as características resumidas neste grande dia. Pode ser que cada ano digamos a mesma coisa, porém, cada ano temos alguma coisa nova e outra forma de expressar as graças de Deus que ao longo do ano experimentamos. Os principais pontos que nos fazem refletir e ao mesmo tempo dar uma resposta de fidelidade a tão grande amor de Jesus.


- O Dia do amor fraterno.
Hoje ressoa na comunidade o mandamento novo, o mandamento do amor, do amor “como eu vos amei”. “Amou-vos até o extremo”, até o inimaginável, até fazer-se servo e escravo em pleno trabalho considerado humilhante e próprio de escravos (lavar os pés). “Dei-vos o exemplo”. “lavei-vos, também vós deveis lavar-vos os pés uns dos outros”. Se trata de uma proclamação do mandamento do amor realizado não com palavras, mas com o gesto prático -que entra pelos olhos - do serviço. Amar é servir. Somente ama quem serve. As obras são gestos concretos de amor.


- É o dia da Instituição da Eucaristia.
O lava pés que nos conta o santo evangelho de são João é o caráter da “instituição da Eucaristia” também citados nos demais evangelhos. Para são João, de algum modo têm o mesmo sentido. A Eucaristia expressa e constitui o sacramento do amor, também de uma maneira “visível” (tal como manifesta todos os demais sacramentos, como “sinal da presença de Deus”). Jesus “parte e reparte” o pão e o vinho, e diz: “Fazei isto em memória de mim”, ou seja; para lembrar-nos (para guardar este gesto concreto) fazei isto; ou também: partir e repartir a sua própria existência será a forma para melhor seguir e dar testemunho e assim fazer memória de forma visível. “Celebrar” a Eucaristia, a fração do pão, sempre será muito mais que “ouvir a missa”: “cada vez que comemos deste pão… anunciamos a morte do Senhor até que ele venha”.


- Também é o dia da Instituição do sacerdócio.
A tradição nos diz que foi neste dia. Está claro que Jesus não instituiu a vida sacerdotal. De fato o Novo Testamento não utiliza esta palavra, porém, ao aplicá-la a Jesus e ao Povo de Deus como conjunto, jamais podemos aplicá-la a uma pessoa individual; somente a partir do século IV que começaria a ser introduzida no vocabulário cristão. O que Jesus deixou foram discípulos e apóstolos. O que conhecemos hoje como “clero”, isto é, uma parte que era diferente, em quanto estados privilegiados… tudo isso vai totalmente contra aquilo que o Evangelho nos ensina. Encontramos um apoio em Jesus, foi no ministério ordenado do serviço à comunidade cristã, que reproduz e da continuidade a sua presença no meio da comunidade.


Tendo em mente que a nossa liturgia deste dia abre caminho para uma maior compreensão e interioridade do mistério que celebramos já faz dois mil anos. Na primeira leitura do livro do Êxodo (Ex 12, 1-8.11-14), se trata de um texto que já nos está preparando para o que iremos ouvir no santo Evangelho: a ceia pascal é a melhor festa que o povo judeu poderia fazer como memória pela grande libertação de Deus, do amor de Deus para com o seu povo. Também foi a que Jesus celebrou com os seus amigos antes de doar-se pelos seus gestos e palavras um sentido novo: o memorial da sua Páscoa.


O novo sentido dado por Jesus é aquele que realizamos cada vez que celebramos a Eucaristia, fazendo-lhe presente nos altares de todas as igrejas do nosso mundo, Jesus se doa por inteiro cada dia, como vítima pelos nossos pecados para conduzir-nos a Deus. Nós, os ministros da graça, não somos dignos de realizar este gesto da presença real no Santíssimo Sacramento do altar, porém, a ordem do Senhor está acima do que somos como seres humanos: “Este dia será para vós um memorial em honra do Senhor, que haveis de celebrar por todas as gerações, como instituição perpétua. Este dia” (Ex 12,14). Na segunda leitura (1 Cor 11, 23-26) afirma o que já celebramos com toda a convicção: “todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha” (v. 26).


Agora já podemos compreender o sentido da cena evangélica (Jo 13, 1-15) e voltando um pouco ao que dizia no começo da nossa reflexão sobre as três instituições fundamentais da Quinta-feira Santa: o amor fraterno; instituição da Eucaristia e do sacerdócio. Jesus nos quer deixar algo fundamental e ao mesmo tempo de grande valor para que façamos o seu memorial lembrando e valorizando que tudo isso foi por amor e obediência àquele que o teria enviado. Esta é a hora, o momento da sua agonia, da sua paixão e sofrimento pela humanidade que não quis corresponder a tão grande amor manifestado na história do seu povo. Esta também é a nossa história, quantas vezes Deus se apresentou na nossa vida e fechamos o coração, porém este Deus não se cansa de nós


Depois daquela última ceia, depois de todas aquelas emoções a flor da pele: foi uma eucaristia com sabor de despedida, o lava pés. E as últimas recomendações sobre o amor e o perdão: “Amai-vos, perdoai-vos como eu vos amei e perdoei”. Logo depois de deixar escrito o seu testamento com aquele pedaço de pão partido e daquele pouco de vinho, Jesus necessita orar, estar sozinho com o seu Pai. Somente Deus poderia lhe consolar.


Meus queridos, aproveitemos este dia para adorar e estar em oração com o Senhor presente no Santíssimo Sacramento do altar, assim podemos resgatar o grande valor do amor de Jesus de não nos deixar sozinhos pelo mundo.
Pe. Lucimar, sf

Fonte: http://padrelucimar.com/quinta-feira-santa-ciclo-b-portesp/