terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O SENTIDO DO BATISMO

Pe. Gregório Lutz,
Nos encontros com pais e padrinhos que se preparam para o batismo de crianças, eu costumo fazer, como se faz também no início da celebração do sacramento, a pergunta: Por que vocês querem que seus filhos e afilhados sejam batizados? As respostas que recebo, são as mais diversas: Queremos que nosso filho seja cristão; ou: não queremos que fique pagão, ou: a criança não batizada fica facilmente doente; os outros filhos nossos são todos batizados; é costume dos católicos batizar as crianças; o batismo apaga o pecado original; no batismo nos tornamos filhos de Deus; recebemos a vida eterna.

Todas estas respostas e muitas outras possíveis dizem algo que é certo, embora cada uma aponte uma finalidade ou um efeito mais ou menos central e essencial do batismo. Quem nos pode melhor dizer o que Deus nos dá no batismo, é a Sagrada Escritura do Novo Testamento.
Jesus mesmo fala de novo nascimento da água e do Espírito. São Paulo diz que o batismo é um morrer e ser sepultado do velho homem, do homem do pecado, para ressuscitar do banho batismal um homem novo que vive no Espírito, que nos é dado no batismo. O batismo nos dá, portanto, uma nova vida. Uma outra imagem que São Paulo usa, é a do Corpo de Cristo, que é a Igreja. Pelo batismo nos tornamos membros deste corpo, da Igreja. Na primeira carta de São Pedro lemos que os batizados formam um edifício espiritual, que eles são um sacerdócio régio, para oferecer sacrifícios espirituais. Todos estes textos bíblicos nos dizem  que o batismo não é apenas um rito externo, mas que nele acontece e é levada a efeito a nossa salvação.

Devemos também lembrar que o batismo não é um rito mágico que produz automaticamente um efeito espiritual. Ele supõe a fé, é, como todos os sete sacramentos, um sacramento de fé. Quando no Novo Testamento se fala de batismo, pensa-se normalmente em batismo de pessoas adultas, que se converteram ao cristianismo e aderiram a Cristo, que lhes foi anunciado. Mas já no tempo dos apóstolos deve ter havido batismos também de crianças pequenas, por exemplo, quando toda uma casa ou família foi batizada. Em séculos posteriores o batismo de crianças tornou-se  sempre mais comum. Mas então os pais eram pessoas de fé, e supunha-se que eles transmitissem sua fé a seus filhos e filhas. Ao passo que um adulto é batizado, quando já tem fé, nas crianças que foram batizadas pequenas, ela deve ser despertada e alimentada depois do batismo. Assim, em todo caso, o batismo é sempre sacramento da fé, da fé em Jesus Cristo e na Santíssima Trindade, em cujo nome fomos batizados, para sermos novas criaturas, filhos e filhas do Pai do céu, irmãos e irmãs de Jesus Cristo e templos do Espírito Santo.
Perguntas para reflexão pessoal ou em grupos:
1. Você que é pai ou mãe, padrinho ou madrinha: por que quis (quer) batizar seu filho(a), afilhado(a)?
2. Esta sua motivação estava fundamentada em textos da Bíblia? Em quais?
3. Por que o batismo é sempre sacramento da fé? Por que o batismo de adultos?
4. Por que batizamos crianças?


Fonte: http://www.cnbb.org.br/site/comissoes-episcopais/liturgia  Formação_liturgica_em_mutirão_III_ficha_29

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Jesus faz uma escolha no deserto pelo discernimento (Marcos 1,12-15)

Texto extraído do livro "Jesus no Evangelho de Marcos"
Autor: Pe. José Bonifácio Schmidt
Comissão da Animação Bíblica Pastoral
Arquidiocese de Porto Alegre

Leitura é um estudo: Supomos sempre que o Espírito Santo só faz coisas boas para a gente. Mas mandar alguém para o deserto não parece coisa boa, pelo contrário.  Parece e é ruim.  Lá não tem nada, falta tudo.  Tem até muitos riscos: fome, sede, frio, calor, veneno, isolamento, feras, como leão, hienas, chacais, lobos, cobras, escorpiões, etc.  E Jesus foi impelido pelo Espírito para o deserto!
Mas.  Sempre tem uma “mas”!?  Tendo sido por um tempo discípulo de João Batista (Mc 1,9), Jesus teve várias ocasiões para um silêncio muito fértil no deserto.  De fato, o silêncio é muitas vezes mais fértil do que o barulho de qualquer som.  Foi no deserto que Jesus esteve muitas vezes em oração.  Marcos até diz que foram quarenta dias de deserto (Mc 1,12s) até para lembrar os 40 anos do povo sendo educado por Deus no deserto.  Lá, com a força e iluminação do Espírito Santo Jesus soube superar as tentações de Satanás.
Para Jesus o deserto foi para vencer as tentações de Satanás.  Quando vem Satanás é preciso cuidado para conseguir vencer porque ele vem com muitas propostas que parecem muito boas.  Mas Jesus não entrou na conversa de Satanás!  De acordo com os outros evangelistas, Mateus e Lucas, as tentações de Ter, Poder e Prazer são muito fortes.  É preciso fazer um bom discernimento!  Saber o que é o melhor e  diferenciar do que só é bom.  Muitos escolhem o que é bom e deixam o que é o melhor! É uma grande pena que as pessoas só escolhem o que é bom e deixam o melhor!  Escolher o melhor!  É para isto que existimos!  É Jesus quem nos ensina a discernir o  melhor para a vida da gente neste nosso chão.  Sigamos os passos de Jesus que revela a palavra salvadora do Pai que sempre quer que escolhamos o melhor.
A prisão de João foi o sinal para Jesus ir à Galiléia e começar a sua pregação:  O Reino de Deus está presente (próximo)(Mc 1,15).  Jesus fez um discernimento da vontade do Pai no deserto e entendeu que com a prisão de João Batista tinha chegado a sua vez de pregar.  A Boa Notícia de Deus: o Reino de Deus.  Jesus entendeu: vou me deixar guiar por Deus.  Jesus fez este discernimento.
Ele propõe este reino para seus ouvintes, a grande maioria é povo sofrido sob o peso de autoridades que não queriam o bem do povo, mas o sugavam até a morte.  Jesus sabe que está andando por um caminho perigoso.  Vai encontrar muita rejeição.  Mas vai ser sinal de Deus para os pobres e infelizes.
Jesus encontrou um sentido para sua vida na doação integral ao povo que vivia uma vida muito sacrificada.  Jesus sofreu incompreensões, perseguições e muita cruz na sua vida itinerante.  Mas não desistiu.  Seguir a vontade do Pai que é uma vontade salvadora foi o objetivo da vida de Jesus dedicada totalmente aos outros.  Encontrou sentido ao dedicar a sua vida para os outros ao lhes propor o projeto do Reino de Deus.  Ainda hoje faria a mesma coisa.  Se dedicar aos outros totalmente.  Muitos encontraram com as palavras e as atitudes de Jesus um novo sentido para sua vida, um sentido de alegria, de realização, de plenificação.  E assim se converteram, isto é, mudaram de mentalidade.  Conversão é isso: mudar de mentalidade!  Assumir a mentalidade de Jesus é converter-se.  E só com a mudança de mentalidade se compreende o Reino de Deus.

Nós rezamos com frequência, no Pai nosso: “Seja feita a vossa vontade”. Somos sinceros? Reconhecemos, como Jesus, que a vontade de Deus Pai é sempre salvadora? E procuramos realmente fazer, por em prática a vontade do Pai? Aqui, parece há uma boa caminhada a ser feita. Experimentemos e vamos constatar que a vontade de Deus é de fato salvadora.  Todo o discípulo vai percebendo que o exemplo de Jesus é revelação da Palavra do Pai.

Invoquemos o mesmo Espírito que impeliu Jesus ao deserto para que Ele nos ilumine e nos conduza para descobrir a Palavra de Deus para nós hoje a partir deste texto de Marcos.

Meditação: Perguntemos o que Deus nos quer dizer através deste modo de Jesus olhar a sua vida.  Qual é a Palavra que Deus no dirige?  Nós nos perguntamos, à luz do exemplo de Jesus, qual é o sentido que nós estamos dando à nossa vida.  Jesus refletiu, rezou e encontrou com a força do Espírito Santo, um sentido à vida de total doação para o bem dos outros, sobretudo dos pobres, sofredores, doentes, escravos, mulheres e crianças.  E vivia uma vida muito alegre.
Vamos responder honestamente:  O exemplo de Jesus ao fazer escolhas conscientemente, com discernimento feito no deserto, me anima para imitar e fazer escolhas com discernimento do Espírito Santo?  No silêncio respondamos pessoalmente: o que Deus está dizendo para nós?

Oração: Sentimos algo diferente até agora?  O que sentimos? O que o texto e o que sentimos, nos faz dizer para Deus?  Cada um de nós é casa do Espírito Santo.  Ele mora no mais profundo de nós mesmos.  Vamos nos encontrar com Ele e aceitar o que Ele nos sugere?  Vamos exercitar-nos no discernimento como Jesus fez em sua vida?  A resposta depende exclusivamente de nós.  Mas cuidado!  Não vamos dizer sim ao discernimento só para agradar.  É preciso realizar, pôr em prática.

Exercitemos um “deserto” ficando quietos para que aconteça, mesmo estando juntos, um encontro com o mais profundo de nós mesmos onde está o Espírito Santo.

Contemplação:  No dia em que os cristãos católicos forem como Jesus o mundo não será mais o mesmo.  Vamos experimentar para ver se é verdade?  Se todos os cristãos forem de fato discípulos de Jesus serão também missionários.

Qual será nossa prática de hoje em diante com Jesus nos ajudando no discernimento para escolhas acertadas?  Vamos aceitar o que o Espírito nos sugere para um bom seguimento de Jesus?

Como me sinto diante deste Jesus que Marcos apresenta?

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Quaresma

Chama-se Quaresma os 40 dias de jejum e penitência que precedem à festa da Páscoa. Essa preparação existe desde o tempo dos Apóstolos, que limitaram sua duração a 40 dias , em memória do jejum de Jesus Cristo no deserto. Durante esse tempo a Igreja veste seus ministros com paramentos de cor roxa e suprime os cânticos de alegria: O "Glória", o "Aleluia" e o "Te Deum".

Na Quaresma, que começa na quarta-feira de cinzas e termina na quarta-feira da Semana Santa, os católicos realizam a preparação para a Páscoa. O período é reservado para a reflexão, a conversão espiritual. Ou seja, o católico deve se aproximar de Deus visando o crescimento espiritual. Nesse tempo santo, a Igreja católica propõe, por meio do Evangelho proclamado na quarta-feira de cinzas, três grandes linhas de ação: a oração, a penitência e a caridade.

Essencialmente, o período é um retiro espiritual voltado à reflexão, onde os cristãos se recolhem em oração e penitência para preparar o espírito para a acolhida do Cristo Vivo, Ressuscitado no Domingo de Páscoa.
Assim, retomando questões espirituais, simbolicamente o cristão está renascendo, como Cristo.

Por que a Igreja utiliza a cor roxa nesse tempo?


A cor litúrgica deste tempo é o roxo que simboliza a penitência e a contrição. Usa-se no tempo da Quaresma e do Advento.
Nesta época do ano, os campos se enfeitam de flores roxas e róseas das quaresmeiras. Antigamente, era costume cobrir também de roxo as imagens nas igrejas. Na nossa cultura, o roxo lembra tristeza e dor. Isto porque na Quaresma celebramos a Paixão de Cristo: na Via-Sacra contemplamos Jesus a caminho do Calvário

Qual o significado destes 40 dias?

Na Bíblia, o número quatro simboliza o universo material. Os zeros que o seguem significam o tempo de nossa vida na terra, suas provações e dificuldades. Portanto, a duração da Quaresma está baseada no símbolo deste número na Bíblia. Nela, é relatada as passagens dos quarenta dias do dilúvio, dos quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias de Moisés e de Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, dos 400 anos que durou a estada dos judeus no Egito, entre outras. Esses períodos vêm sempre antes de fatos importantes e se relacionam com a necessidade de ir criando um clima adequado e dirigindo o coração para algo que vai acontecer.

O Jejum

A igreja propõe o jejum principalmente como forma de sacrifício, mas também como uma maneira de educar-se, de ir percebendo que, o que o ser humano mais necessita é de Deus. Desta forma se justifica as demais abstinências, elas têm a mesma função. Oficialmente, o jejum deve ser feito pelos cristãos batizados, na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa.
Pela lei da igreja, o jejum é obrigatório nesses dois dias para pessoas entre 18 e 60 anos. Porém, podem ser substituídos por outros dias na medida da necessidade individual de cada fiel, e também praticados por crianças e idosos de acordo com suas disponibilidades.

O jejum, assim como todas as penitências, é visto pela igreja como uma forma de educação no sentido de se privar de algo e reverte-lo em serviços de amor, em práticas de caridade. Os sacrifícios, que podem ser escolhidos livremente, por exemplo: um jovem deixa de mascar chicletes por um mês, e o valor que gastaria nos doces é usado para o bem de alguém necessitado.

Qual é a relação entre Campanha da Fraternidade e a Quaresma?


A Campanha da Fraternidade é um instrumento para desenvolver o espírito quaresmal de conversão e renovação interior a partir da realização da ação comunitária, que para os católicos, é a verdadeira penitência que Deus quer em preparação da Páscoa. Ela ajuda na tarefa de colocar em prática a caridade e ajuda ao próximo. É um modo criativo de concretizar o exercício pastoral de conjunto, visando a transformação das injustiças sociais.
Desta forma, a Campanha da Fraternidade é maneira que a Igreja no Brasil celebra a quaresma em preparação à Páscoa. Ela dá ao tempo quaresmal uma dimensão histórica, humana, encarnada e principalmente comprometida com as questões específicas de nosso povo, como atividade essencial ligada à Páscoa do Senhor.

Quais são os rituais e tradições associados com este tempo?

As celebrações têm início no Domingo de Ramos, ele significa a entrada triunfal de Jesus, o começo da semana santa. Os ramos simbolizam a vida do Senhor, ou seja, Domingo de Ramos é entrar na Semana Santa para relembrar aquele momento.


Depois, celebra-se a Ceia do Senhor, realizada na quinta-feira Santa, conhecida também como o lava pés. Ela celebra Jesus criando a eucaristia, a entrega de Jesus e portanto, o resgate dos pecadores.

Depois, vem a missa da Sexta-feira da paixão, também conhecida como Sexta-feira Santa, que celebra a morte do Senhor, às 15h. Na sexta à noite geralmente é feita uma procissão ou ainda a Via Sacra, que seria a repetição das 14 passagens da vida de Jesus.



No sábado à noite, o Sábado de Aleluia, é celebrada a Vigília Pascal, também conhecida como a Missa do Fogo. Nela o Círio Pascal é acesso, resultando as cinzas. O significado das cinzas é que do pó viemos e para o pó voltaremos, sinal de conversão e de que nada somos sem Deus. Um símbolo da renovação de um ciclo.


Os rituais se encerram no Domingo, data da ressurreição de Cristo, com a Missa da Páscoa, que celebra o Cristo vivo.




CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=4701

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

4ª feira de Cinzas


AS CINZAS

Quando recebemos os ramos no Domingo de Ramos, os levamos para as nossas casas e as colocamos junto aos nossos crucifixos de parede e/ou junto aos nossos oratórios, mas com o tempo eles secam. Quando secam, não devemos jogá-los fora, pois foram bentos pelo presbítero. Por isso, devemos entregá-los na igreja para que sejam queimados e transformados em cinzas, a fim de serem usadas no dia de Quarta-Feira de Cinzas do ano seguinte.

O RITUAL

Na Quarta-Feira de Cinzas, os fiéis são marcados na testa com as cinzas em forma de cruz ou a recebem um pouco sobre as suas cabeças, quando o presbítero pronuncia a seguinte frase, à sua escolha: - "Lembra-te que és pó e que ao pó voltarás!" ou "Convertei-vos e crede no Evangelho!"

PREPARAÇÃO PARA A PÁSCOA

Começa na quarta-feira de cinzas a nossa preparação para a Páscoa.  Colocando cinza sobre a nossa cabeça, como sinal de penitência, isto é, como sinal de que estamos dispostos a nos alinharmos no caminho de Deus com seu projeto de justiça e paz para todos. Além disso, passamos esse dia fazendo jejum, também como sinal de penitência. Serão então quarenta dias de preparação: Quaresma…
 

O QUE CELEBRAMOS

 Quarta-feira de cinzas! Celebramos neste dia o mistério do Deus misericordioso que acolhe nossa penitência, nossa conversão, isto é, o reconhecimento de nossa condição de criaturas limitadas, mortais, pecadoras. Conversão que consiste em crer no Evangelho, isto é, aderir a ele, viver segundo o ensinamento do Senhor Jesus. Numa palavra, trata-se de entrar no caminho pascal de Jesus. “Convertei-vos, e crede no Evangelho”: é o convite que Jesus faz (cf. Mc 14,15). Esta palavra, a gente ouve, recebendo cinzas sobre a nossa cabeça. Por que cinzas? É para lembrar que, de fato somos pó!  Mas não reduzidos a pó!…

A fé em Jesus ressuscitado faz com que a vida renasça das cinzas. Quando o ser humano reconhece sua condição de criatura realmente necessitada da ação de Deus, em Cristo e no Espírito, então Jesus Cristo faz brotar vida de nossa condição mortal. Reconhecer-se assim, é entrar numa atitude pascal, isto é, de passagem com Cristo da morte para a vida.

Esta páscoa, a gente vive na conversão, através dos exercícios da oração, do jejum e da esmola ou partilha de bens e gestos solidários, no espírito do Sermão da Montanha. Páscoa que celebramos na Eucaristia, pela qual aclamamos Deus como aquele que, acolhendo nossa penitência, corrige nossos vícios, eleva nossos sentimentos, fortifica nosso espírito fraterno e, assim, nos dá a graça de nos aproximarmos do seu jeito misericordioso de ser, e nos garante uma eterna recompensa.


SIGNIFICADO DAS CINZAS

Desde a antiguidade, existe o costume de cobrir a cabeça com cinzas, para expressar a submissão a Deus e a decisão de mudar de vida. Foi assim que Davi se cobriu com cinzas para pedir perdão de seu adultério e mudar de vida. Foi assim que os Ninivitas se cobriram com cinzas para mostrar sua mudança de vida, após os 40 dias de pregação de Jonas. Foi assim que a Igreja exigia que os penitentes públicos – que tinham cometido homicídio, um pecado público – passassem os 40 dias da Quaresma, cobertos de cinzas, nas portas das igrejas.

A Quarta-Feira de Cinzas existe desde o século VIII, com imposição das cinzas na cabeça do cristão, para que se reconheça limitada, fraca e imperfeita, convertendo seu comportamento para Deus e mudando sua vida.

Os ramos passam pelo fogo purificador do sofrimento, do aniquilamento do egoísmo e orgulho. Essa passagem pelo fogo é Páscoa, mudança de vida e transformação de comportamento. Assim aqueles ramos ‘vitoriosos’, que simbolizaram a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, iniciando o caminho da cruz para o calvário, estão reduzidos a cinzas. Essas cinzas lembram que Deus se reduziu à morte de cruz, para nos dar a vida eterna, a libertação da morte.

As cinzas significam também, que devemos tomar consciência de nossos limites para motivar a mudança e a purificação de nossa vida. A imposição das cinzas em nossa cabeça significa, ainda, que a comunidade quer nos proteger, nos cobrir de energia e nos dar todas as forças e bênçãos de Deus.

Por isso, o rito das cinzas não pode ser para o povo uma cerimônia vazia ou de caráter mágico. Esse rito quer colocar a pessoa humana em seu verdadeiro lugar diante de Deus, dos outros e da natureza.

O rito das cinzas quer nos deixar com o coração purificado, com a cabeça despojada e desprendida, e com a vontade disposta e decidida.

O tempo, como o fogo, reduz a cinzas nossa vida exuberante. Tudo o que tem vida, com o tempo, envelhece, enfraquece, enruga, murcha, se torna pó. O grão, colocado na terra, morre para frutificar. A mortificação dos sentidos para fortalecer o espírito e o despoja-se da ambição para se voltar aos irmãos e a Deus, é o sentido das Cinzas hoje.


QUARESMA E CELEBRAÇÕES NA QUARTA-FEIRA DE CINZAS

O período da Quaresma corresponde aos quarentas dias anteriores à Semana Santa. Começa na Quarta-feira de Cinzas e vai até o sábado anterior ao Domingo de Ramos. O primeiro dia da quaresma chama-se assim, Quarta-feira de Cinzas, por causa do rito em que se deposita um pouco de cinzas (as cinzas usadas no ritual são provenientes da queima de ramos do ano anterior) na cabeça ou na fronte dos cristãos.

Para os cristãos, a Quaresma é a lembrança dos 40 dias e 40 noites que Cristo passou no deserto e também dos 40 anos que os judeus caminharam até chegarem à Terra Prometida. É o período de penitência e preparação para a Páscoa.

 
SIMBOLISMO DAS CINZAS

Cinzas: são símbolo de penitência, de luto e da finitude da matéria passada pela prova de fogo.
 
Representam simultaneamente o pecado e a fragilidade humana (livro da Sabedoria 15,10; profeta Ezequiel 28,18; profeta Malaquias 3,21). Se cobrir de cinzas é sinal público de arrependimento e forma concreta de colocar-se à prova. É manifestação pública da consciência do pecado e sua abjuração (Judite 4, 11-15; Ezequiel 27, 30), na esperança do perdão misericordioso de Deus.


NOS PRIMEIROS SÉCULOS DO CRISTIANISMO os membros da Igreja que tivessem cometido pecados gravíssimos, motivo de grande escândalo, estavam sujeitos à uma penitência pública, que podia durar semanas ou mesmo anos, segundo a gravidade da culpa.

Vinham estes descalços até a Catedral, no primeiro dia da quaresma. O bispo da cidade depois de exortá-los ao arrependimento dos pecados, os cobria com um cilício, pequena túnica com cinto ou cordão, de material áspero ou grosseiro, trazido diretamente sobre a pele e atirava-lhes uma porção de cinzas na cabeça dizendo ao mesmo tempo: "Lembra-te, ó humano, que és pó e que a pó serás reduzido." Eram jogados então fora da Igreja e não podiam mais entrar nesta enquanto não fosse cumprida a sua penitência.

No século XI, quiseram padres e leigos seguir esta prática de humilhação e penitência, reservada outrora aos pecadores públicos e notórios, e assim no Ocidente a partir do século XII o costume expandiu-se em todas as Igrejas quando os fiéis na Quarta-feira antes da Quadragésima iam receber cinzas em suas frontes.

Hoje a fórmula permanece a mesma : "Lembra-te que és pó, e ao pó hás de voltar.(Gênesis 3,19)", ou diz-se o texto do Evangelho de Jesus segundo Marcos 1,15: "Convertei-vos e crede no Evangelho".


Fontes:
Frei José Ariovaldo da Silva, OFM
Mons. Arnaldo Beltrami
Pe. Fernando Altemeyer Júnior


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O QUE É "ANO LITÚRGICO"?

É a celebração da vida de Jesus Cristo ao longo de um ano. A cada ano os cristãos revivem as etapas mais importantes da vida de Nosso Senhor: Seu nascimento, a morte, ressurreição, ascensão e o envio do Espírito Santo... No ano civil nos orientamos pelas estações (primavera, verão…), pelas festas cívicas (carnaval, Tiradentes, independência…). No Ano Litúrgico, nossa caminhada é de Fé, marcada pelos momentos fortes da vida do Senhor.

O povo da primeira Aliança, o povo Judeu, também tinha (e tem) seu Ano Litúrgico. A expressão “ANO LITÚRGICO” começou a ser usado no Século XIX, quando surgiu o movimento litúrgico Efetivado com o CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, antes de se chamar “Ano Litúrgico” recebera outros nomes, por exemplo: “Ano da Igreja” e “Ano Cristão”.

COMO SE DIVIDE O ANO LITÚRGICO?

Sendo a celebração da vida de Nosso Senhor ao longo de um ano, o “Ano Litúrgico” tem etapas:

Há dois modos de perceber a organização do Ano Litúrgico:

a) O primeiro se caracteriza por Ciclos

CICLO– é um período em que ocorrem fatos históricos importantes a partir de um acontecimento, seguindo uma determinada evolução.

1º. – O primeiro fato histórico importante da vida de nosso Salvador é seu nascimento, o Natal. Portanto, Ciclo do Natal. O fato mais importante está cercado de outros acontecimentos que o precedem e o seguem. Dessa forma, o Ciclo do Natal está composto da seguinte forma:

Advento;
Natal (com oitava);
Sagrada família;
Festa da Mãe de Deus;
Epifania; e
Batismo do Senhor.

2º. – O segundo fato histórico importante é a PÁSCOA. Temos, portanto, o Ciclo da Páscoa, assim formado:

Quaresma;
Semana Santa;
Tríduo Pascal;
Páscoa (com oitava);
Domingo da Páscoa (Ascensão); e
Pentecostes.

3º. – Temos, ainda, o período mais longo do ano, com 34 domingos, chamado de TEMPO COMUM

b) Outro modo de perceber a organização do Ano Litúrgico, é por TEMPOS:

TEMPO DO ADVENTO –4 (quatro) domingos antes do Natal.

TEMPO DO NATAL – Até o Batismo do Senhor.

TEMPO DA QUARESMA –5 (cinco) domingos, mais Semana Santa.

TEMPO PASCAL – Da Páscoa até Pentecostes.

TEMPO COMUM –34 (trinta e quatro) domingos, assim distribuídos: Da festa do Batismo do Senhor até o inicio da Quaresma; e de Pentecostes até o 34º Domingo.

QUANDO COMEÇA E QUANDO TERMINA O ANO LITÚRGICO?

O Ano Litúrgico não segue o calendário civil – começa antes e, portanto, termina antes. Sendo celebração da vida de Nosso Senhor ao longo de um ano, é lógico começar pela preparação ao seu Nascimento.

O primeiro domingo do Advento marca o inicio do Ano Litúrgico e, consequentemente, a última semana do Tempo Comum é também a última semana do Ano Litúrgico. No 34º domingo do Tempo Comum, celebra-se, todos os anos, a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. É a coroa do Ano Litúrgico que parte da “Encarnação e termina com a Glorificação”.

DOMINGO

O cristão, à semelhança dos Judeus consagrou um dia por semana À celebração dos seus mistérios, a escolha recaiu sobre o 1º. dia da semana, Dia da Ressurreição do Senhor. A Eucaristia é a celebração do domingo.

OS CICLOS DO ANO LITURGICO

a) TEMPO DO ADVENTO: Sendo um tempo de preparação para o Natal, é também um tempo, em que, por lembrança, os cristãos voltam os seus corações para a expectativa da segunda vinda de Cristo, no fim dos tempos. Esse tempo começa no dia 30 de novembro ou no domingo mais próximo.

Principais Personagens:

Profeta Isaias – Nos quatro domingos do Ano A, nos dois primeiros do Ano B.

João Batista – O Precursor aparece como figura central nos Evangelhos no 2º e 3ºdomingos dos Anos A, B e C.

José– O Novo Testamento fala pouco de José, esposos de Maria. Falando pouco, talvez queira expressar o caráter humilde e obediente desse homem de Deus.

Maria– foi a mais fiel colaboradora de Deus no seu Projeto de Salvação. Ela ocupa o espaço central nos Evangelhos do 4º domingo dos Anos A, B e C.

Observação: Não se deve esquecer que dentro do ADVENTO, há duas comemorações de Maria: 08 de dezembro – Imaculada Conceição e 12 de dezembro – N. Sª de Guadalupe.

* No Brasil, se cair no domingo a Solenidade da Imaculada Conceição tem precedência sobre aquele domingo.

b) TEMPO DO NATAL: Celebra o mistério da encarnação de Jesus, que edificou sua tenda entre nós. Começa nas vésperas do Natal, indo até o domingo depois da Epifania (ou domingo depois do dia 06 de janeiro). No domingo depois da Epifania, celebra-se o Batismo do Senhor.

c) TEMPO DA QUARESMA: Visa preparar a celebração da Páscoa. Convida-nos para a Oração, o Jejum e a Esmola. Inicia-se na quarta-feira de Cinzas até a quinta-feira da Semana Santa.

d) TRÍDUO PASCAL: Celebra a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. Começa na quinta-feira até sábado da Vigília Pascal, mãe de todas as Vigílias, porque celebra a Ressurreição de Jesus.

e) TEMPO PASCAL: Os cinqüenta dias entre o domingo da Ressurreição e domingo de Pentecostes. Esses dias têm que ser celebrados como se fosse um só dia de festa, um grande domingo.

f) TEMPO COMUM: É o mais longo tempo de celebrações litúrgicas são 33 ou 34 semanas que não se celebram nenhum aspecto especial do Mistério de Cristo. O Tempo Comum começa na segunda-feira que segue o domingo do dia 06 de janeiro e se estende até a terça-feira antes da Quaresma; recomeça na segunda-feira depois do domingo de Pentecostes e termina antes doas primeiras vésperas do 1º domingo do Advento.

CORES LITÚRGICAS

BRANCA: Simboliza vitória, paz, alegria e pureza. É usado: no Tempo Pascal e do Natal, nas Festas e memórias do Senhor (exceto na Paixão), nas festas e memórias da Virgem Maria, dos Santos Anjos e dos Santos (não sendo Mártires), na festa de Todos os Santos, São João Batista, São João Evangelista, Cátedra de Pedro, conversão de Pedro.

VERMELHO: Simboliza o fogo, sangue, amor divino, martírio. É usado: Domingo da Paixão (Ramos), Sexta-feira Santa, no domingo de Pentecostes, nas festas dos Apóstolos, Evangelistas e Santos Mártires.

ROXO: Simboliza a penitência, a expectativa. É usado na Quaresma, Advento. Pode ser usado nas Missas pelos mortos (antigamente usava-se Estola Preta).

VERDE: É a cor da esperança. É usada nas Missas do Tempo Comum.

ROSA: Simboliza alegria. Pode ser usada no terceiro domingo do Advento e no quarto domingo da Quaresma.




Referências:
BORTOLINI, José. Advento e Natal. (Coleção Por que Creio). São Paulo: Paulus.
BORTOLINI, José. Quaresma, Páscoa e Pentecostes. (Coleção Por que Creio). São Paulo: Paulus.
BORTOLINI, José. Tempo Comum. (Coleção Por que Creio). São Paulo: Paulus.
BORTOLINI, José. Tire suas Dúvidas sobre Bíblia. São Paulo: Paulus.