domingo, 31 de julho de 2011

O Dízimo e a Fé


O dízimo não é imposto, taxa, pagamento, contribuição, porque ele não precisa; não é resto do que sobra que oferecemos, mas nosso dízimo é exatamente a resposta da fé, do amor, obediência e reconhecimento; pois tudo o que somos e que temos, vem d’Ele.

O dízimo é uma atitude de fé. É consciência de que uma parte dos nossos rendimentos é de Deus e, conseqüentemente, da comunidade. Por isso, ele é devolvido para manutenção da Paróquia, sustento das celebrações, sacerdote, bispo, seminários, das missões e da ação social da Igreja.

O dízimo significa o exercício da fé. Mas, só haverá compreensão do seu verdadeiro espírito e sentido, quando acontecer de forma pessoal uma experiência profunda, diante da essência e o mistério do Criador, quanto à “partilha”.

A partilha é uma resposta de amor à Palavra de Deus. É um caminho que direciona o homem à experiência do dízimo.

Além da sua devolução, seria necessário que cada um entendesse profundamente esses ideais de Deus: “reinar partilha e igualdade no seio do povo e na Igreja”. Esse é o projeto e propósito de Deus, para a humanidade e sua Igreja.

O segredo da partilha está na fé, na obediência da Palavra de Deus, e no desejo de se ver um mundo renovado, um povo, uma comunidade, uma Igreja, viva e alegre (At 2,42-47; At 4,32-35; 1Tim 6,17-19).

Se nosso coração ainda não se abriu de verdade na CONTRIBUIÇÃO DO DÍZIMO é preciso pedir fé e sabedoria que vem d’Ele.

É preciso pedir fé total, sem reservas, que penetre no coração, no pensamento, na maneira de julgar as coisas divinas e humanas.

É preciso pedir uma fé que seja forte, que não teme os problemas, a oposição daqueles que contestam, a atacam, a recusam e a negam. Mas, que nossa fé resista do desgaste, da crítica, que ultrapasse as dificuldades espirituais e temporais, permanecendo constantemente firme no Senhor Jesus.

Enfim, só entenderemos o valor e a dimensão da partilha “do dízimo”, quando nossa fé for viva, alegre, autêntica, atuante, envolvida da caridade, justiça, humildade, paz, dócil à Palavra de Deus e alimento da nossa esperança.

Diante do contexto da fé, que o dízimo possa nos educar mais ao amor, a misericórdia, justiça e ao plano da partilha. Seremos assim mais generosos e Deus será mais generoso conosco.

Com a proteção de Deus, as bênçãos de Jesus, iluminados pelo Espírito Santo, seremos um só povo (Jo 17,21); para o bem do próprio povo; pois o dízimo que devolvemos a Deus, doamos a nós mesmos “o povo amado e querido de Deus”.

sábado, 30 de julho de 2011

As 3 dimensões do Dízimo


O dízimo é a retribuição a Deus de uma parte de tudo o que Ele nos dá.
O dízimo contempla estas 3 dimensões:

01- Dimensão religiosa: o dízimo deve suprir com recursos, todas as necessidades direta ou indiretamente ligadas ao culto e aos seus ministros. Gastos com o templo - construção e manutenção, salário do padre e dos funcionários, encargos, energia elétrica, água, telefone, impressos, paramentos litúrgicos, velas, vinho, hóstias, equipamentos de som e audiovisuais, etc.

02- Dimensão social: o dízimo deve suprir as necessidades dos irmãos mais necessitados da comunidade, atendidos pelas pastorais sociais. As nossas pastorais sociais cuidam da promoção do ser humano e neste seu trabalho de misericórdia e compaixão resgatam a dignidade dos irmãos assistidos.

03- Dimensão missionária: o dízimo deve sustentar financeiramente as ações de evangelização da comunidade exercidas dentro e fora do território da paróquia. Nesse mesmo compromisso de fidelidade a Deus, somos convocados a proclamar o Evangelho a todos os povos.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Dízimo



O que é o Dízimo?

Dízimo é a devolução a Deus, através de nossa comunidade, de uma parcela de todos os nossos rendimentos em forma de ação de graças pelo muito que d’Ele recebemos.

Tudo o que temos e somos vem de Deus. Nós somos apenas meros administradores do que recebemos de sua infinita bondade. Por isso, contribuir com o Dízimo é obedecer a um preceito do Senhor: “Trazei o Dízimo ao Templo do Senhor” (Ml 3,10).

Eu tenho obrigação de contribuir com o Dízimo?

Sim. O Dízimo é um compromisso seu, individual e intransferível, com Deus, com a Igreja e com os pobres. É uma obrigação assim como amar a Deus e aos irmãos. O amor não é imposto, a contribuição do Dízimo também não pode ser. Deve ser a própria consciência de quem ama a Igreja que determina a obrigação de ser Dizimista.

Onde devo contribuir com o Dízimo?

O Dízimo pertence a Deus, e se pertence a Deus eu devo levá-lo à Igreja onde participo, onde eu celebro a minha fé com os irmãos da comunidade. Como está escrito: “Então, ao lugar que o Senhor, vosso Deus, escolheu para estabelecer nele o seu nome, ali levareis todas as coisas que vos ordeno: vossos holocaustos, vossos sacrifícios, vossos dízimos, vossas primícias e todas as ofertas escolhidas que tiverdes prometido por voto ao Senhor” (Dt 12,11). O Dízimo é participação e se eu participo da minha comunidade não há porque entregar em outro lugar.

Quanto devo contribuir com o Dízimo?

Você deve contribuir com o Dízimo aquilo que o seu coração manda. Um coração agradecido saberá discernir entre 1 e 10% sobre tudo aquilo que ganhar. São Paulo escreve: “Dê cada um conforme o impulso do seu coração, sem tristeza nem constrangimento. Deus ama quem dá com alegria” (2 Cor 9,7). Como Deus é bom! Ele lhe dá tudo. Tudo o que você tem vem de Deus e a Ele pertence. Seu dinheiro, seus bens, sua vida, sua família, etc...Ele apenas quer a sua resposta de amor e generosidade que deve se manifestar na comunidade.

O dízimo é a devolução a Deus, daquilo que já é de Deus.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Oração do Dizimista


Recebe Senhor, o meu Dízimo!

Não é uma esmola, porque não sois mendigo.

Não é uma simples contribuição, porque não precisais dela.

Esta importância representa Senhor, meu reconhecimento, amor e participação na vida da comunidade.

Pois tudo o que tenho: a vida, a família, a natureza, os rendimentos... recebi de Vós!

Muito obrigada (o) por tudo, Senhor. Amém!



Hino do Ano Vocacional Arquidiocesano 2011-2012

Hino do Ano Vocacional

Arquidiocese de Porto Alegre/RS

Agosto 2011 / Agosto 2012

Letra e música: Frei Turra

quarta-feira, 27 de julho de 2011

10 Razões porque sou dizimista em minha comunidade


1. Sou Dizimista porque reconheço os dons de Deus em minha vida (2Cor 9,7);

2. Porque manifesto minha gratidão a Deus por tudo! (1Cor 4,7);

3. Porque procuro retribuir ao meu próximo (Lc 17,16);

4. Porque creio no que Deus diz através da Escritura (Ml 3,10; Lc 21,1-4);

5. Porque sou filho de Deus, n’Ele confio e espero (Mt 6,25-31);

6. Porque deixo de ser egoísta, à medida que partilho com os outros (Lc 12,16-21; 1Pd 4,8);

7. Porque creio na vida comunitária fraterna, onde Deus está (Mt 18,20);

8. Porque levo a sério a Palavra de Deus, que é Pai das misericórdias (Mt 25,40);

9. Porque Jesus tranqüiliza-me, dando-me a certeza de que é meu grande amigo (Jo 14,1-5; Mt 25,34);

10. Porque desejo ver o Evangelho pregado com eficácia, a Comunidade crescendo e Deus sendo glorificado! (Mt 28,19-20; Mc 16,15).




quarta-feira, 20 de julho de 2011

Amigo, Um Ensaio

Difícil querer definir amigo.
Amigo é quem te dá um pedacinho do chão, quando é de terra firme que você precisa, ou um pedacinho do céu, se é o sonho que te faz falta.

Amigo é mais que ombro amigo, é mão estendida, mente aberta, coração pulsante, costas largas.
É quem tentou e fez, e não tem o egoísmo de não querer compartilhar o que aprendeu.
É aquele que cede e não espera retorno, porque sabe que o ato de compartilhar um instante qualquer contigo já o realimenta, satisfaz.
É quem já sentiu ou um dia vai sentir o mesmo que você.
É a compreensão para o seu cansaço e a insatisfação para a sua reticência.

É aquele que entende seu desejo de voar, de sumir devagar, a angústia pela compreensão dos acontecimentos, a sede pelo "por vir".
É ao mesmo tempo espelho que te reflete, e óleo derramado sobre suas águas agitadas.
É quem fica enfurecido por enxergar seu erro, querer tanto o seu bem e saber que a perfeição é utopia.
É o sol que seca suas lágrimas, é a polpa que adocica ainda mais seu sorriso.

Amigo é aquele que toca na sua ferida numa mesa de chopp, acompanha suas vitórias, faz piada amenizando problemas.
É quem tem medo, dor, náusea, cólica, gozo, igualzinho a você.
É quem sabe que viver é ter história pra contar.
É quem sorri pra você sem motivo aparente, é quem sofre com seu sofrimento, é o padrinho filosófico dos seus filhos.
É o achar daquilo que você nem sabia que buscava.

Amigo é aquele que te lê em cartas esperadas ou não, pequenos bilhetes em sala de aula, mensagens eletrônicas emocionadas.
É aquele que te ouve ao telefone mesmo quando a ligação é caótica, com o mesmo prazer e atenção que teria se tivesse olhando em seus olhos.
Amigo é multimídia.

Olhos... amigo é quem fala e ouve com o olhar, o seu e o dele em sintonia telepática.
É aquele que percebe em seus olhos seus desejos, seus disfarces, alegria, medo.
É aquele que aguarda pacientemente e se entusiasma quando vê surgir aquele tão esperado brilho no seu olhar, e é quem tem uma palavra sob medida quando estes mesmos olhos estão amplificando tristeza interior.
É lua nova, é a estrela mais brilhante, é luz que se renova a cada instante, com múltiplas e inesperadas cores que cabem todas na sua íris.

Amigo é aquele que te diz "eu te amo" sem qualquer medo de má interpretação: amigo é quem te ama "e ponto".
É verdade e razão, sonho e sentimento.
Amigo é pra sempre, mesmo que o sempre não exista.

Amigo, Um Ensaio
(Marcelo Batalha)





sábado, 16 de julho de 2011

Viver em Comunidade: Joio e trigo crescem juntos (Mt13,24-30)

Reflexão partilhada por Frei Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino, sobre o Evangelho que muitas igrejas lerão neste domingo, cuja temática central é a Parábola do Joio e do Trigo, intitulado “Viver em comunidade: joio e trigo crescem juntos”, o texto convida-nos a ficarmos atentos para a prática de nossas comunidades frente à prática de Jesus Cristo. Tanto na sociedade como na comunidade e na vida de todos nós existe tudo misturado: qualidades boas e incoerências, limites e falhas.
::SITUANDO::
O capítulo 13 traz o Sermão das Parábolas. Mateus omitiu a parábola da semente que germina sozinha (Mc 4,26-29), ampliou a discussão sobre o porquê das parábolas (Mt 13,10-17) e acrescentou as parábolas do joio e do trigo (Mt 13,24-30), do fermento (Mt 13,33), do tesouro (Mt 13,44), da pérola (Mt 13,45-46) e da rede (Mt 13,47-50). Junto com as do semeador (Mt 13,4-11) e do grão de mostarda (Mt 13,31-32), são ao todo sete parábolas!
Estamos aqui no centro do Evangelho de Mateus. O coração deste centro é a parábola do joio e do trigo. É nela que aparece a recomendação mais importante para as comunidades da época.
Durante séculos, por causa da observância das leis de pureza, os judeus tinham vivido separados das outras nações. Este isolamento marcou a vida deles. Mesmo depois de convertidos, alguns continuavam nesta mesma observância que os separava dos outros. Eles queriam a pureza total. Qualquer sinal de impureza devia ser extirpado em nome de Deus. “Não pode haver tolerância com o pecado”, diziam estes. Mas outros como Paulo ensinavam com a Nova Lei de Deus trazida por Jesus estava pedindo o contrário! Eles diziam: “Não pode haver tolerância com o pecado, mas deve haver tolerância com o pecador!” 
A comunidade deve vencer a tentação de querer excluir os que pensam de modo diferente. Este é o pano de fundo da parábola do joio e do trigo.
::COMENTANDO::
Mateus 13,24-26: A situação: joio e trigo crescem juntos. A palavra de Deus que faz nascer a comunidade é semente boa, mas dentro das comunidades sempre aparecem coisas que são contrárias à palavra de Deus. De onde vêm? Esta era a discussão.


Mateus 13, 27-28a: A causa da mistura que existe na vida. Um inimigo fez isso. Quem é este inimigo? O inimigo, o adversário, Satanás ou diabo (Mt 13,39), é aquele que divide, que desvia. A tendência de divisão existe dentro de cada um de nós. O desejo de dominar, de se aproveitar da comunidade para subir e tantos outros desejos interesseiros são divisionistas, são do inimigo que dorme dentro de cada um de nós.


Mateus 13, 28b-30: A reação diferente diante da ambiguidade. Diante dessa mistura do bem e do mal, alguns queriam arrancar o joio. Pensavam: “Se deixarmos todo o mundo dentro da comunidade, perdemos nossa razão de ser! Perdemos a identidade!” Queriam expulsar os que pensavam de modo diferente. Mas esta não é a decisão do Dono da terra. Ele diz: “Deixa crescer juntos até a colheita!”
O que vai decidir não é o que cada um fala e diz, mas o que cada um vive e faz. É pelo fruto produzido que Deus nos julgará.
A força e o dinamismo do Reino se manifestam na comunidade. Mesmo sendo pequena e cheia de contradições, ela é um sinal do Reino. Mas ela não é dona do Reino, nem pode considerar-se justa. A parábola do joio e do trigo explica a maneira como a força do Reino age na história. É preciso ter paciência e aprender a conviver com as contradições e as diferenças, mesmo tendo uma opção clara pela justiça do Reino.


::ALARGANDO::
O ensino em parábolas
A parábola é um instrumento pedagógico que usa o quotidiano para mostrar como a vida nos fala de Deus. Torna a realidade transparente e faz o olhar da gente ficar contemplativo. Uma parábola aponta para as coisas da vida, e por isso mesmo, é um ensinamento aberto, pois das coisas da vida todo o mundo tem alguma experiência.
O ensinamento em parábolas faz a pessoa partir da experiência que tem: semente, sal, luz, ovelha, flor, mulher, criança, pai, rede, peixe, etc. Assim, ele torna a vida quotidiana transparente, reveladora da presença e da ação de Deus. Jesus não costumava explicar as parábolas. Geralmente, terminava com esta frase: “Quem tem ouvidos ouça” (Mt 11,15; 13,9.43).  Ou seja, “É isso! Você ouviram! Agora tratem de entender!” Jesus deixava o sentido da parábola em aberto e não o determinava. Sinal de que acreditava na capacidade do povo de descobrir o sentido da parábola a partir da sua experiência de vida. De vez em quando, a pedido dos discípulos, ele explicava o sentido (Mt 13,10.36). Por exemplo, os versículos 36-43 trazem a explicação da parábola do joio e do trigo. Ela mostra como se fazia catequese naquele tempo.
As comunidades se reuniam e discutiam as parábolas de Jesus, procurando saber o que ele queria dizer. Assim, pouco a pouco, o ensinamento aberto de Jesus começava a ser afunilado na catequese da comunidade que aceitava apenas uma explicação da parábola. Ela não tinha a mesma confiança de Jesus na capacidade do povo de entender as coisas do Reino.
Tanto na sociedade como na comunidade e na vida de todos nós existe tudo misturado: qualidades boas e incoerências, limites e falhas. Nas nossas comunidades se reúne gente que vem de vários cantos do Brasil, cada um com a sua história, com a sua vivência, a sua opinião, os seus anseios, as suas diferenças. Tem pessoas que não sabem conviver com as diferenças. Querem ser juiz dos outros. Acham que só elas estão certas, e os outros errados.
A parábola do joio e do trigo ajuda a não cair na tentação de querer excluir da comunidade os que não pensam como nós. Na parábola do joio e do trigo, tirada do “Sermão das Parábolas”: os empregados representam certos membros da comunidade. O dono da terra representa Deus. Vamos prestar atenção nas atitudes dos empregados e na reação do dono da terra.


Texto extraído do livro “Travessia: Quero misericórdia e não sacrifício”
Círculos Bíblicos sobre o Evangelho de Mateus
de Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino
Publicado pelo Centro de Estudos Bíblicos.
Coleção a Palavra na Vida - Volume 135/136  
Travessia, segundo os autores, é o que viveram os discípulos e as discípulas de Jesus, quando ele os enviou a passar para o outro lado do mar. Travessia feita na escuridão da noite, remando contra o vento. É o que estavam vivendo as comunidades para as quais Mateus escreveu o seu evangelho. Travessia saindo dos sacrifícios para a misericórdia. É o que todos vivemos neste final de milênio. Travessia cheia de incertezas, buscando novos horizontes. A Boa Nova de Jesus, transmitida por Mateus, é uma luz da parte de Deus para nos ajudar na travessia e recriar, entre nós, a comunidade que Jesus sonhou como amostra do Reino de Deus. Este livro tem três partes desiguais. A primeira traz uma chave geral para o Evangelho de Mateus. Ela abre a porta. A segunda traz uma série de 25 encontros do mesmo evangelho. Ela faz você andar pela casa toda. A terceira traz uma sugestão de celebração. Ela junta o pessoal da casa para fazer festa.
Número: PNV135/136
Editora: CEBI
Número de páginas: 108

quarta-feira, 13 de julho de 2011

MOMENTO DE REFLEXÃO

Conta a lenda que um monge, próximo de se aposentar precisava encontrar um sucessor. 

Entre seus discípulos, dois já haviam dado mostras de que eram os mais aptos, mas apenas um poderia sucedê-lo.


Para sanar as dúvidas, o mestre lançou um desafio para colocar sabedoria dos dois à prova.


Ambos receberam alguns grãos de feijão que deveriam colocar dentro dos sapatos, para então empreenderem a subida de uma grande montanha.


Dia e hora marcados, começa a prova.


Nos primeiros quilômetros, um dos discípulos começou a mancar.


No meio da subida, parou e tirou os sapatos. As bolhas em seus pés já sangravam, causando imensa dor.


Ficou para trás, observando seu oponente sumir de vista.


Prova encerrada, todos voltam ao pé da montanha para ouvirem do monge o óbvio anúncio.


Após o festejo, o derrotado aproxima-se e pergunta ao seu oponente como é que ele havia conseguido subir e descer com os feijões nos sapatos:


- Antes de colocá-los no sapato, eu os cozinhei - foi a resposta.


Carregando feijões ou problemas, há sempre um jeito mais fácil de levar a vida.


Problemas são inevitáveis. Já a duração do sofrimento é você quem determina.


APRENDAMOS A COZINHAR OS NOSSOS FEIJÕES...

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Conheça o novo príncipe herdeiro do catolicismo

A última quarta-feira pode ter sido o momento máximo do calendário litúrgico desta semana, devido à Festa dos Santos Pedro e Paulo, mas a terça-feira, 28 de junho de 2011, marcou um "crescendo" de um tipo diferente: o dia em que a loteria informal que conduz ao próximo conclave começou oficialmente.


A análise é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 01-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.


Para ser claro, nenhum susto de saúde estourou em torno do Papa Bento XVI, e não há nenhuma outra razão para acreditar que seu papado está chegando ao fim (como eu afirmo às vezes brincando, a maquinaria alemã é construída para durar!). No entanto, na terça-feira, o pontífice fez um movimento pessoal que não é apenas importante por direito próprio, mas também possui implicações óbvias para favorecer as perspectivas papais.


No dia 28 de junho, o Papa Bento XVI nomeou o patriarca de Veneza, de 69 anos, cardeal Angelo Scola, como o novo arcebispo de Milão.


Em um nível, é tentador ler isso como um movimento lateral. Veneza, na verdade, produziu três papas no século XX (Pio X, João XXIII e João Paulo I) em comparação aos dois de Milão (Pio XI e Paulo VI), por isso não é como se a transferência de Scola para a Sé de Ambrósio o tirasse da escuridão. Entre os íntimos, ele já era considerado um peso-pesado eclesial pesado e um futuro pretendente de alto nível.


No entanto, Milão é, bem, sui generis. É uma das poucas dioceses que impõem seu ritmo, como Paris ou Westminster ou Nova York, cujo ocupante automaticamente se torna um ponto de referência em todo o mundo. Também é a primeira sede na Igreja italiana, e, dada a relação especial entre a Itália e do papado, é provavelmente justo dizer que a maioria dos papas veem Milão como uma das mais importantes nomeações que eles terão que fazer.


Como resultado, Milão não é apenas um cargo – é um voto de confiança papal único e uma plataforma para a liderança global. Os observadores da Igreja geralmente assumem que, quando um papa envia alguém para Milão, ele o está apontando como um possível sucessor. Bento XVI não é ingênuo. Ele é consciente desse cálculo, o que significa que, no mínimo, ele tem bastante confiança em Scola a ponto de colocá-lo em um lugar onde o papado é uma possibilidade real.


A partir de agora, Scola será o parágrafo inicial de cada notícia especulativa sobre o próximo conclave, e tudo o que ele fizer ou disser será examinado com um olho na eleição papal. Com efeito, Scola se torna o novo cardeal Carlo Maria Martini, que, durante seu próprio mandato como arcebispo de Milão de 1980 a 2002, era visto em geral como o primeiro papável da Igreja.
O fato de que Martini não tenha sido eleito ao papado é, obviamente, um fator de advertência sobre os perigos do prognóstico. No entanto, isso não altera a questão de que as palavras e as ações de Martini carregaram um peso extra durante duas décadas por causa de seu status como um perceptível papa-em-espera, e agora o mesmo poderá ser dito sobre Scola.

* * *

Eu publiquei um perfil de Scola antes da nomeação para Milão no NCR. Para aqueles não familiarizados com ele, aqui está o que vocês deveriam saber: se você gosta de Bento XVI, você vai adorar Scola. Mesmo que não goste, você vai achar difícil não se encantar com ele. Ele é uma versão de língua italiana do papa, extrovertido, otimista, notavelmente autêntico.


(Em um esforço bastante desajeitado para expressar tudo isso, o jornal The Telegraph, do Reino Unido, publicou a manchete: "Cardeal pró-Vaticano presidirá a Igreja de Milão". Eu sei o que eles quiseram dizer, mas não posso deixar de perguntar: quais seriam, exatamente, os cardeais "anti-Vaticano"?)
A congruência entre Scola e Bento remonta pelo menos a quatro décadas, à Páscoa de 1971, quando os dois homens se conheceram pela primeira vez em um restaurante às margens do Rio Danúbio.


Na época, Scola estava estudando na Universidade de Friburgo, enquanto Ratzinger havia recentemente se juntado ao corpo docente da recém-fundada Universidade de Regensburg, na Baviera. Os dois homens compartilhavam uma paixão por pensadores católicos como Hans Urs von Balthasar e Henri de Lubac, que ajudaram a inspirar a ampla maioria progressista do Concílio Vaticano II (1962-1965), mas que se preocuparam mais tarde que o "bebê eclesial" estava sendo jogado fora junto com a água do banho. Scola, mais tarde, viria a publicar livros-entrevista com ambas as figuras.


Ratzinger foi um dos cofundadores da revista teológica Communio, e Scola atuava como editor italiano. Durante os anos 1980, Scola se tornou um consultor-chave de Ratzinger na Congregação vaticana para a Doutrina da Fé, enquanto, ao mesmo tempo, lecionava no Instituto João Paulo II para o Matrimônio e a Família, na Universidade Lateranense, de Roma. Nesse tempo, Scola se estabeleceu como um estudioso reconhecido internacionalmente em antropologia moral.


Outra conexão entre Scola e Bento vem por meio do movimento Comunhão e Libertação, fundado pelo falecido monsenhor italiano Luigi Giussani. Durante décadas, o Comunhão e Libertação foi visto como um rival conservador ao sistema liberal dominante na Igreja italiana. Scola estava entre os primeiros discípulos de Giussani, e há boatos que sugerem há muito tempo que Scola deixou o seminário de Milão para ser ordenado na pequena diocese de Teramo, em 1970, por causa da controvérsia em torno do movimento.


O lendário Mons. Lorenzo Albacete, a face pública do Comunhão e Libertação nos Estados Unidos, conheceu o movimento por meio de Scola em 1993. Ele disse que Scola o impressionou por ser uma extraordinária combinação de ortodoxia doutrinal e de gosto pela vida.


"Eu havia me encontrado com muitos padres que eram animados, livres, espontâneos, compreensivos, que queriam partilhar a vida das pessoas em todos os seus aspectos, mas que tinham problemas com os ensinamentos da Igreja", disse Albacete em uma entrevista de 2005. "Por outro lado, eu me encontrei com padres que aceitavam os ensinamentos da Igreja, mas de uma forma subserviente. Eles eram rígidos, enfadonhos e medrosos".


Em Scola, no entanto, Albacete disse ter encontrado o que estava procurando.


"Ele não estava se rebelando contra a Igreja", disse Albacete. "No entanto, ele era o padre mais livre e mais espontâneo que eu já havia conhecido".


De sua parte, Bento XVI sempre teve uma afeição especial pelo Comunhão e Libertação. Ele via a profunda fé cristológica de Giussani como um antídoto a uma tendência na década de 1960 e 1970 de transformar o cristianismo em uma força política inspirada pela ideologia marxista. Os sinais de estima papal são quase onipresentes, incluindo o fato de que as mulheres consagradas que administram a casa papal de Bento XVI são retiradas do Memores Domini, um grupo afiliado ao Comunhão e Libertação.


Como resultado de sua história compartilhada, Scola sente há muito tempo uma lealdade especial por Bento XVI. Quando o pontífice estava sob fogo cruzado da mídia global em 2010, relacionado ao seu papel na crise dos abusos sexuais, Scola fez referência publicamente a esses ataques como uma "humilhação iníqua" (só para garantir que todos compreendessem, seu assessor de imprensa enviou uma tradução em inglês das observações do cardeal).

* * *

Embora Bento e Scola respirem o mesmo ar intelectual e teológico, eles são personalidades diferentes, no entanto.


De um lado, Bento cresceu em um ambiente católico razoavelmente homogêneo na Baviera pré-guerra, enquanto o meio do qual Scola cresceu era mais diversificado. Seu pai era motorista de caminhão e socialista, que encorajou o filho a ler o L'Unità , um jornal italiano de esquerda e secular que muitas vezes é considerado bastante anticlerical (até hoje, Scola credita o L'Unità por tê-lo apresentado à vida afetiva).


Quando jovem, Scola estudou com Emanuele Severino, o filósofo contemporâneo mais importante da Itália, na Universidade Católica do Sagrado Coração, em Milão (na guilda filosófica, Severino é considerado um "neoparmenidiano", o que eu nem vou tentar definir). Ao longo dos anos, Severino repetidamente entrou em confronto com as autoridades da Igreja, e, em 1970, a Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano declarou seu pensamento como "incompatível com o cristianismo", por causa de sua crença na "eternidade de todo o ser" – o que, dentre outras consequências, torna obsoleta a ideia de um Deus Criador.


Apesar de tudo isso, Severino recentemente lembrou Scola como um estudante brilhante, que ganhava as notas máximas que ele podia receber, e descreveu calorosamente vários encontros com o cardeal ao longo dos anos.


"Ele é um homem que também é capaz de entusiasmar, e digo isso com convicção: além de ser um intelectual de alto calibre, tem traços de simplicidade e de naturalidade que não são fáceis de encontrar nos homens da Igreja", disse Severino.


(A propósito, Severino rebateu as indicações de que os laços de Scola com o Comunhão e Libertação serão um problema em Milão: "Francamente, eu não o vejo fechado no papel de animador de um movimento, com todo o respeito por esse movimento: a sua estatura intelectual é superior e vai além", disse.)


Até hoje, os interesses de Scola são extremamente vastos. Por exemplo, ele diz que, de longe, seu livro favorito é o romance modernista O homem sem qualidades, escrito no início do século XX pelo austríaco Robert Musil. Situado entre o declínio do Império Austro-húngaro, o livro é comparado geralmente com as obras de Franz Kafka e de Thomas Mann – em outras palavras, um exemplo certamente não piedoso como de costume.


Em termos de temperamento, Scola é mais do estilo "bom companheiro" do que Bento XVI. Entre outras coisas, ele tem uma afiada esperteza midiática. A principal assessora de mídia de Scola, uma leiga chamada Maria Laura Conte, é bem conhecida entre as equipes de imprensa do Vaticano pelo seu estilo alegre e proativo, muitas vezes se oferecendo para disponibilizar seu chefe – um forte contraste com a cautela com que muitos prelados e seus subordinados veem a imprensa.


Entre os limites políticos e teológicos, Scola tem uma reputação de ser não clerical, despretensioso e em nada indiferente. Em Veneza, por exemplo, ele deixou reservadas as manhãs de quarta-feira para atender quem o queria ver, quer eles tivessem ou não marcado o encontro.


Ao longo dos anos, as prioridades de Scola como um líder também tendem a ser bastante ad extra, ou seja, comprometidos com o mundo fora da Igreja. Uma de suas causas tem sido a sua Fundação Oasis, lançada em 2004 para promover a solidariedade entre os cristãos no Oriente Médio e o diálogo com o mundo islâmico.


Na verdade, Scola não recebe apenas revisões universalmente positivas. Um proeminente movimento liberal católico da Itália, o Noi Siamo Chiesa emitiu uma declaração sobre a sua transferência para Milão expressando "amargura e desilusão entre aqueles que acreditam na reforma da Igreja".


"Essa nomeação é o produto de uma imposição de cima, que deixa perplexa grande parte da diocese", disse o comunicado. "Vemos o retorno, como bispo, de quem, a seu tempo, não foi aceito como padre".


(Dada a rivalidade histórica entre o Comunhão e Libertação e as correntes progressistas de Milão sob Martini, a nomeação de Scola é um fato especialmente amargo para muitos liberais milaneses.)


A nomeação Scola, afirma a declaração, "confirma o escasso espírito de comunhão eclesial de quem guia a Igreja, que quer impor uma orientação única a qualquer custo e em todos os lugares. É a linha de quem quer congelar o Concílio".


Ame-o ou odeie-o, no entanto, Scola está agora firmemente instalado como o Príncipe Herdeiro do catolicismo. Independentemente do que possa acontecer em um futuro conclave, será fascinante ver como ele escolherá gastar esse capital político no aqui-e-agora.


Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=44950

domingo, 10 de julho de 2011

Andrés Torres Queiruga: Repensar a Cristologia e a Criação

Dentro dos Eventos Comemorativos aos 25 anos da ESTEF, o teólogo espanhol Andrés Torres Queiruga, estará em Porto Alegre.


Professor no Instituto Teológico Compostelano da Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), Andrés Torres Queiruga é um dos mais produtivos e instigantes teólogos da atualidade.

Nos dias 19, 20 e 21 de setembro, apresentará uma série de conferências sobre Cristologia e Criação.

As atividades serão realizadas das 8 às 11:30h e das 14 às 17:30h

O evento é aberto a toda a comunidade e tem como destinatários principais estudantes e professores de Teologia.

Investimento: R$ 60,00

As vagas são limitadas. Clique aqui e baixe a Ficha de Inscrição

Angelo Scola, arcebispo de Milão: o anti-Martini

Hoje, 28 de junho, foi nomeado o novo arcebispo de Milão, Itália. Trata-se do cardeal, patriarca de Veneza, Angelo Scola


Vittorio Bellavite, coordenador italiano do movimento Noi Siamo Chiesa (Nós Somos Igreja), fala sobre a nomeação cada vez mais provável do cardeal Scola a arcebispo de Milão.


O artigo foi publicado no sítio Noi Siamo Chiesa, 25-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.


Eis o texto.


Com os artigos na imprensa destes dias, todas não desmentíveis e confiáveis (veja a nota de Gianguido Vecchi no jornal Corriere, do dia 10 e 12 de junho, e de Sandro Magister, no Espresso publicado hoje, no sítio www.noisiamochiesa.org), podemos estar certos da próxima nomeação do cardeal Scola a bispo de Milão (mas o Espírito Santo ainda poderia intervir...). São notícias passadas pelos órgãos oficiais do Vaticano para preparar a opinião pública.


A amargura e a desilusão por essa notícia nos solicitam algumas primeiras considerações breves:


1) Essa nomeação é o produto de uma imposição de cima, que deixa perplexa grande parte da diocese, que vê o retorno, como bispo, de quem, a seu tempo, não foi aceito como padre. As consultas foram realizadas em segredo, em circuitos eclesiásticos restritos: é um método que continuamos colocando em discussão (vejam-se em nossos encontros e nos nossos documentos) e que não foi usado em boa parte da história da nossa Igreja;


2) Essa nomeação – como todas as nomeações recentes para sedes cardinalícias do nosso país – também confirma o escasso espírito de comunhão eclesial de quem guia a Igreja, que quer impor uma orientação única a qualquer custo e em todos os lugares. É a linha de quem quer congelar o Concílio;


3) A história pessoal do cardeal Scola e as suas posições preconizam, para o seu episcopado, uma direta contradição com os episcopados dos cardeais Martini e Tettamanzi. Percebe-se isso imediatamente pela opinião pública católica ou não, que também adverte que essa nomeação poderia ser pouco capaz de entender o novo percurso da cidade de Milão depois das recentes eleições.


Entre os colaboradores do cardeal Tettamanzi, busca-se defender que são a diocese e as situações concretas que "fazem" o bispo, que pode ser "convertido" (como ocorreu com Dom Romero).


Mesmo com algum ceticismo, nós também queremos esperar que isso possa acontecer.


Apesar de tudo, nós estamos na Igreja porque nós somos a igreja.


Um abraço de paz,

Vittorio Bellavite


Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=44762

sábado, 9 de julho de 2011

Pastoral da Saúde

Publicado em

V JORNADA DA PASTORAL DA SAÚDE


O Centro Educacional São Camilo Sul
e o Vicariato de Porto Alegre, 
convidam para a celebração da
Festa de São Camilo de Lellis.


Tema: VIDA E SAÚDE EM PLENITUDE
 


Dia: 16 de julho

Horário: das 8:00h às 16:00h

Inscrição: R$ 10,00

Almoço comunitário: R$7,00

Informações: Centro Educacional São Camilo

Fone: 3386 9318

Saiu o semeador a semear... - Ildo Bohn Gass


Sexta-feira, 8 de julho de 2011 - 15h51min
Conforme a estrutura do evangelho segundo Mateus, os capítulos 11 e 12 descrevem a prática libertadora de Jesus de Nazaré, a partir da qual “os cegos vêem e os coxos andam, os leprosos ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados” (Mt 11,5). Essa prática provocou a oposição de autoridades que tentaram desacreditar Jesus e buscar uma forma de “levá-lo à morte” (Mt 12,1-2.14.24).

No capítulo 13, Jesus ilustra essa prática com parábolas, cuja mensagem principal é revelar a força do Reino agindo como semente que fecunda a vida em meio a projetos em conflito. Parábolas são narrativas alegóricas, figuradas, e querem transmitir uma mensagem indireta através de comparações.

Busquemos, pois, o sentido dessas figuras na parábola do semeador.

De um lado, o Reino é dom de Deus e não depende só de nossos esforços. A semente, a sua Palavra de vida, é lançada pelo próprio Deus. A ação do Espírito é como a energia do vento que sopra em todas as partes (Jo 3,8). É como a semente que germina por si só (Mc 4,26-29). E ainda, a força do Reino é comparável com a energia da semente de mostarda que, sendo “a menor de todas as sementes, cresce e se torna maior que todas as outras hortaliças” (Mt 13,32). Portanto, fazer parte da comunidade de Jesus é acreditar nessa graça de Deus que age em e através de nós.

De outra parte, acreditar nessa graça de Deus atuante em nós é uma postura de fé, que depende do nosso compromisso com o projeto de Jesus, enquanto o seguimos pelo caminho da justiça do Reino (Mt 6,33). Os frutos do Reino não dependem somente do dom de Deus, mas derivam também de nossa espiritualidade. A força do Espírito é como a chuva que desce das nuvens. Se ela cai no asfalto, ali dificilmente fará germinar vida. No entanto, se ela cair sobre a terra, tornando-a fecunda, fará brotar a vida de múltiplas formas. Para ouvir a voz do vento (Jo 3,8), para ouvir a voz do pastor e abrir a porta (Jo 10,3-4; Ap 3,20) é preciso fazer silêncio para entrar em sintonia com Deus. É a mais sublime forma de oração.

Seremos como a terra da beira do caminho quando ouvimos a palavra do Reino, mas não a compreendemos, pois logo vem o maligno e arranca a palavra semeada (Mt 13,4.19). O maligno é toda força inimiga da vida, adversária de Deus e que nos seduz, afastando-nos do caminho de Deus para colocar-nos sob a escravidão da riqueza (Mt 6,24). Como exemplos de coisas que impedem a compreensão do projeto de Deus e tentam afastar-nos do seu caminho, citemos o espírito do consumismo, do prestígio, do poder, que tenta fazer de nós pessoas alienadas, dirigidas por forças externas, impedindo a ação do Espírito divino que nos torna livres, uma vez que “o Senhor é o Espírito, e onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade” (2Cor 3,17).

Seremos como o terreno cheio de pedras (Mt 13,5-6.20-21), se ouvimos a palavra com alegria, mas logo desistimos por medo da tribulação e da perseguição de quem não quer aceitar o projeto da justiça do Reino para todas as pessoas. Nesse caso, não passamos de fogo de palha.

Seremos como o terreno entre espinhos (Mt 13,7.22), quando ouvimos a palavra, mas deixamos nos dominar pelas preocupações do mundo, pela ilusão da riqueza, por outros desejos egoístas, como o luxo, a vida fácil. Dessa forma, a palavra da boa semente não tem como produzir frutos, pois nos apegamos a falsas seguranças.

Por fim, seremos terra boa (Mt 13,8.23) quando ouvimos a palavra e a acolhemos, isto é, nos comprometemos com o projeto de Jesus. A semente germina, cresce e frutifica somente se receber a chuva do alto e se for acolhida em terra boa cá embaixo. A chuva do alto é graça, é dom. Mas acolher a semente para que dê frutos, isso está em nossas mãos.

Ildo Bohn Gass é autor de:
- As comunidades cristãs da Primeira Geração


Fonte: http://www.cebi.org.br/noticia.php?secaoId=21&noticiaId=2164

O fim do catolicismo democrático

Com a chegada de Scola a Milão, "não restou mais nada ao catolicismo democrático, nem um só representante da atual hierarquia que o represente".


A análise é do teólogo italiano Vito Mancuso, em artigo publicado no jornal La Repubblica, 29-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.


Eis o texto.


A questão não é pessoal, é política. Em nível pessoal, de fato, a figura humana e cristã do cardeal Angelo Scola merece seguramente a estima de Bento XVI e a consideração de todos os católicos italianos; é um fino intelectual, doutor em filosofia e em teologia com publicações importantes e, como patriarca de Veneza, demonstrou ser capaz de governar sem se deixar nivelar pela proveniência ciellina [do movimento Comunhão e Libertação], e penso que fará o mesmo em Milão. Mas eu dizia que a questão é política, porque se refere a uma herança de 30 anos e, mais em geral, do papel do catolicismo democrático na Itália.


Nessa perspectiva, é impossível negar que a nomeação de Scola como arcebispo de Milão soe como uma humilhação pesada, talvez a última, para o catolicismo democrático. Depois dos episcopados de Martini e de Tettamanzi, a diocese milanesa havia permanecido como o único ponto de referência nacional para aqueles católicos que ainda não esqueceram as esperanças conciliares de renovação.


Era possível escolher entre continuar nessa linha, moderá-la ou combatê-la frontalmente. A escolha de Bento XVI foi a terceira. Só assim, a meu ver, se explica a sua escolha, jamais vista na história, de transferir um patriarca de Veneza a arcebispo de Milão, visto que, de Veneza, os patriarcas sempre foram embora só para se tornarem papas (Pio X, João XXIII e João Paulo I para ficar no século XX).


Vai se produzindo, em nível eclesial, o inverso do que ocorreu em nível civil? Ou seja, que a cidade-símbolo do berlusconismo e do leguismo [da Liga Italiana] que se tornou com Pisapia a capital de um possível new deal italiano agora, em nível eclesial, de símbolo do catolicismo democrático, se torne a capital de um catolicismo conservador de marca ciellino?


O equilíbrio mostrado por Scola como reitor da Universidade Lateranense e como patriarca de Veneza, e sobretudo a sua formação intelectual, não justificam esses temores, não é preciso cair no erro de reduzir Angelo Scola ao Comunhão e Libertação. As pessoas que pensam são sempre mais do que a sua história.


Certamente, no entanto, com a saída de Tettamanzi e com a chegada ao seu posto de um bispo de formação “ciellina”, não restou mais nada ao catolicismo democrático, nem um só representante da atual hierarquia que o represente. Tempos atrás, tinham-se bispos como Lercaro em Bolonha, Pellegrino em Turim, Ballestrero em Bari e depois em Turim, Bettazzi em Ivrea, Tonino Bello em Molfetta, Giuseppe Casale em Foggia, Pietro Rossano em Roma como auxiliar, e justamente Martini e Tettamanzi em Milão, que constituíam um ponto de referência para os católicos progressistas deste país.


Com exceção de Bettazzi e Tonino Bello, nenhum deles foi um espírito particularmente inovador, nem muito menos foram produzidas dialéticas públicas, impensáveis nas hierarquias eclesiásticas italianas, que sempre estiveram entre as mais conservadoras do mundo. No entanto, se sentia que as instâncias mais abertas à mudanças encontrariam nesses bispos pelo menos uma possibilidade de serem ouvidas, de serem compreendidas como exigências reais da vida concreta, sem serem tachadas a priori como heresias.


Não era grande coisa, mas às vezes, em uma família, basta só a impressão de sermos ouvidos para mantermos o desejo de pertencimento. Hoje, não há mais nenhum assim entre os bispos das principais dioceses italianas. Aos católicos progressistas deste país foi retirada até a última possibilidade de ter um ponto de referência na hierarquia, e eu não sei se isso é realmente a vontade do Espírito Santo, que sempre amou o pluralismo, visto que inspirou quatro Evangelhos, e não só um.


Esse é o significado político da nomeação de Angelo Scola a arcebispo de Milão, e dizendo político quero prescindir totalmente da sua figura humana e intelectual, pela qual vale o que eu disse no início. Na mensagem à diocese de Milão, o cardeal Scola manifestou o seu "intenso afeto colegial" aos cardeais Martini e Tettamanzi.


Relutante até o último momento, porque não queria ser dissuadido dos estudos bíblicos, Martini chegou a Milão e se pôs a ouvir a cidade, compreendendo, de baixo, do que ela tinha necessidade: como especialista em crítica textual, leu a cidade como um antigo código bíblico e lhe deu a correta exegese, tanto que, para todos, crentes ou não, ele foi a mais alta autoridade moral nos anos difíceis do terrorismo e dos Tangentopoli [corrupção em todo o sistema político italiano nos anos 1990].


O mesmo processo ocorreu para o cardeal Tettamanzi, teólogo moral sem o mínimo ar de progressismo, que se tornou em Milão um exemplo de profecia, porque, diante do rosto mais duro e menos cristão da sociedade, nunca esqueceu a solidariedade e o apelo da Bíblia ao direito e à justiça.


Depois de um biblista e de um teólogo moral, agora é a vez de um teólogo sistemático. O intenso afeto colegial pelos seus antecessores levará o cardeal Scola a continuar na sua direção? Ou ele foi escolhido pelo papa, removendo-o de uma sede como Veneza, para agir em direção a uma clara descontinuidade? Ou o status pessoal de Angelo Scola saberá inventar algo novo?


O que é certo é que Milão, e com ela a Itália, tem necessidade de homens que acreditem no diálogo e o favoreçam.


Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=44843

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Concilium ou Communio? Um (futuro) papa na redação

Communio, a revista teológica nascida em 1974, era uma oficina que forjou boa parte da atual classe dirigente da Igreja: não só Ratzinger, mas também muitos bispos e cardeais.


A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 27-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.


A iminente nomeação de Angelo Scola a arcebispo de Milão, decisão de Bento XVI destinada a incidir consideravelmente no equilíbrio da Igreja italiana e internacional, é a confirmação da estima que o teólogo sempre gozou junto a Ratzinger, como também do fato de que, para alguns postos-chave, na Cúria Romana e nas grandes dioceses, o conhecimento pessoal do pontífice é um elemento destinado a ter influência.


Mas a chegada de Scola à diocese mais importante da Europa atesta, mais uma vez, a importância daquele cenáculo de estudiosos reunidos em torno da revista teológica internacional Communio no início dos anos 1970.


Em 1969, Paulo VI, acolhendo uma proposta do primeiro Sínodo dos Bispos, havia instituído a Comissão Teológica Internacional. Joseph Ratzinger foi chamado a fazer parte dela desde o início e, naqueles anos, se encontrou do lado daqueles que, embora afirmando sem reservas a renovação conciliar, não acreditavam que a Igreja devesse viver em um estado de "revolução permanente".


Em 1965, no momento do encerramento do Concílio Vaticano II, um grupo de teólogos que havia exercido uma notável influência sobre os trabalhos conciliares, havia fundado a revista internacional Concilium, e entre eles estava o próprio Ratzinger. Ele, no entanto, alguns anos depois, já não compartilhava mais com a postura da revista e com o fato de que a elite teológica considerava o Concílio concluído como um canteiro de obras permanente, pisando no acelerador das reformas bem além da letra do Vaticano II.


Assim, a pedido do grande teólogo Hans Urs von Balthasar, no início dos anos 1970, foram postas as bases para uma nova revista, Communio, que se apresenta como um polo de atração para todos os teólogos que se tornaram intolerantes com relação ao radicalismo da Concilium. O nome da revista é significativo: os promotores querem servir à Igreja e promover a comunhão. Entre os fundadores, está também o famoso teólogo jesuíta Henri de Lubac, futuro cardeal.


Ratzinger logo se envolveu naquela que von Balthasar definirá como uma "teia de aranha" de apoiadores internacionais da nova revista. Entre os primeiros a fazer parte dela estão também aqueles que o futuro papa define como alguns "jovens promissores do (movimento) Comunhão e Libertação". Angelo Scola é um deles.


Uma conversa à mesa


Eis como o novo arcebispo de Milão, na época estudante de teologia, recorda o primeiro encontro com Joseph Ratzinger, ocorrido durante a Quaresma de 1971, em Regensburg: "Um jovem professor de direito canônico, dois sacerdotes com menos de 30 anos estudantes de teologia e um jovem editor estavam à mesa, convidados pelo professor Ratzinger, em um típico restaurante nas margens do Danúbio que, em Regensburg, corre nem muito lento, nem muito impetuoso, e por isso pensamos no belo Danúbio Azul. O convite havia sido feito por von Balthasar para discutir sobre a possibilidade de fazer uma edição italiana daquela revista que depois se chamaria de Communio".


"Com o seu trato delicado, gestos comedidos, mas com olhos muito móveis – continua Scola –, Ratzinger nos ilustrava o menu: uma longa sequência de suculentos pratos bávaros... Parecia conhecê-los bem, já que era um habitué do restaurante. Nós, superados o embaraço inicial, como bons latinos, e além disso jovens, nos lançamos em comparações entre menus bávaros e lombardos. Eu me lembro bem que perguntei ao nosso hóspede o que ele nos aconselhava: pacientemente, ele começou a nos ilustrar cada prato da lista, levando-nos a provar mais de um para termos uma ideia da cozinha bávara. Não sem confusão, acabamos, sob o olhar benevolente e o sorriso, talvez um pouco impaciente, do nosso hóspede, a escolher uma vasta e exagerada variedade de pratos. Ratzinger fechou a lista de pedidos dizendo ao garçom algo como 'o de sempre para mim'. O garçom trouxe ao conhecido teólogo uma torrada e uma espécie de limonada. A nossa surpresa beirava o constrangimento. Com um sorriso, desta vez verdadeiramente grande e bem-humorado, o cardeal nos acalmou, exclamando: 'Vocês estão em viagem... Se eu como muito, como posso estudar depois?'. No retorno ao carro, notamos, porém, aquela frase: 'O de sempre'".


Portanto, Bento XVI conhece Scola há 40 anos. Primeiro como colaborador da Communio, depois, a partir da metade dos anos 1980, como colaborador na Congregação para a Doutrina da Fé. A revista começará as suas publicações regulares em 1974, inicialmente em alemão e em italiano, depois em muitas outras línguas, incluindo o polonês, por iniciativa do arcebispo de Cracóvia, Karol Wojtyla.


E se havia sido Paulo VI, nos últimos anos do seu pontificado, que quis nomear alguns ilustres teólogos à liderança de importantes dioceses (o caso de Ratzinger, catapultado, ainda com 50 anos, do ensino universitário à arquidiocese de Munique e, em poucos meses, criado cardeal imediatamente, é o mais conhecido), será o seu sucessor, Wojtyla, que "pescará" da ninhada da Communio muitos expoentes da nova classe dirigente da Igreja, cooptando alguns ao Colégio dos Cardeais. Um caminho percorrido também por Bento XVI, redator da revista, que se tornou papa.


Viveiro da Communio


Além de Scola, ex-reitor da Universidade Lateranense, patriarca de Veneza e agora chefe da diocese ambrosiana, provêm do viveiro da Communio os cardeais alemães Karl Lehmann (bispo de Mainz e ex-presidente da Conferência Episcopal Alemã) e Walter Kasper (presidente emérito do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos), o suíço Eugene Corecco (bispo de Lugano falecido em 1995), o brasileiro Karl Romer (ex-secretário do Pontifício Conselho para a Família), o belga André Mutien Léonard (recentemente nomeado arcebispo de Malines-Bruxelas), o chileno Jorge Arturo Medina Estévez (ex-cardeal prefeito da Congregação para o Culto Divino, que, como protodiácono, anunciou ao mundo a eleição do colega da Communio Joseph Ratzinger), o canadense Marc Ouellet (cardeal prefeito da Congregação para os Bispos), o dominicano austríaco Christoph Schönborn (cardeal arcebispo de Viena).


Em 1992, celebrando o 20º aniversário da revista, o cardeal Ratzinger havia traçado um balanço pessoal e, sem nenhuma autocelebração, havia se perguntado: "Tivemos essa coragem o suficiente? Ou, ao contrário, nos escondemos atrás de erudições teológicas para demonstrar, um pouco demais, que nós também estamos à altura dos tempos? Enviamos verdadeiramente a um mundo faminto a palavra da fé de forma compreensível e que chega ao coração? Ou talvez ficamos, também nós, muito dentro do círculo daqueles que, com linguagem especializada, brincam jogando a bola uns para os outros?".


Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=44764

quinta-feira, 7 de julho de 2011

CONVITE

Livraria Paulus convida os/as catequistas para o
Encontro de Formação: 

Data: 09/07/11

Tema: PSICOPEDAGOGIA CATEQUÉTICA
           (reflexões e vivências para a catequese conforme as idades)

Horário: das 9h às 11h

Local: Livraria Paulus - Rua Dr. José Montarury, 155 - Centro/POA

Palestrante: Pe. Jordélio Siles Ledo

Entrada franca


Nove ratzingerianos para a nova evangelização

A ideia da nova evangelização, embora tenha tido premonições na era Wojtyla, é totalmente ratzingeriana. Foi Bento XVI que quis o recém nascido Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, da qual o arcebispo italiano Rino Fisichella é presidente.


A nota é de Paolo Rodari, publicada em seu blog Palazzo Apostolico, 05-01-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.


Foi Bento XVI que insistiu na necessidade de que o cristianismo seja proposto ao nosso mundo como algo vivo, moderno, "que atravessa – disse o Papa a Peeter Seewald –, formando-a e moldando-a, toda a modernidade e que, portanto, em certo sentido, verdadeiramente a abraça".


E ainda: "Aqui é necessária uma grande luta espiritual... É importante que procuremos viver e pensar o cristianismo de tal modo que ele assuma a modernidade boa e justa e, assim, ao mesmo tempo, se afaste e se distinga daquela que está se tornando uma contrarreligião".


A um "ministério" encarregado de responder a um problema que o Papa sente como vivo em sua própria carne, são necessárias competências escolhidas. Eis, portanto, os nomes muito "ratzingerianos" dos nove cardeais que o Papa escolheu nesta quarta-feira como membros do novo dicastério:
  • Christoph Schönborn, arcebispo de Viena;
  • Angelo Scola, patriarca de Veneza;
  • George Pell, arcebispo de Sydney;
  • Josip Bozanic, arcebispo de Zagábria;
  • Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos;
  • Francisco Robles Ortega, arcebispo de Monterrey;
  • Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo;
  • William Joseph Levada, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé;
  • Stanislaw Ryko, presidente do Pontifício Conselho para os Leigos.


É inútil dizer que esses nove, junto com outros emergentes também dentro da Cúria Romana, dirão o que pensam no próximo (embora ainda distante) conclave.


Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=39615

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Ratzinger e Martini: encontro privado sobre o futuro da Igreja de Milão ou também a do mundo?

Essa é a história de como um líder da Igreja de 84 anos, muito lúcido de mente mas fatigado pelo Parkinson, quase incapaz de se manter de pé sem ajuda e privado da palavra, isto é, do seu carisma, deixou a sua cela no Aloysianum, a casa dos jesuítas em Gallarate, Itália, para se dirigir a Roma e se encontrar com o Papa Ratzinger, que desejava vê-lo.


A reportagem é de Giancarlo Zizola, publicada no jornal La Repubblica, 10-04-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.


Era quase meio-dia em uma esplêndida manhã primaveril quando o ex-arcebispo de Milão, Carlo Maria Martini entrou, neste sábado, em cadeira de rodas, no escritório de Bento XVI no Vaticano.




Muitas coisas pareciam desfavoráveis a essa audiência, do estado de saúde do cardeal à desconfiança do “entourage” pontifício, para o qual Martini continuou representando um espinho nas costas, especialmente pela sua proposta de convocar um novo Concílio.


Considera-se que, se apesar de tudo isso, o encontro "impossível" ocorreu, isso dependeu da soma de três fatores: o Papa o queria, para além dos impedimentos curiais; a urgência de algumas decisões o exigia (dentre as quais a escolha do novo arcebispo de Milão), as condições críticas do cardeal, ao qual Ratzinger está ligado pela amizade, o mereciam.


"Primeiro aprendemos, depois ensinamos, depois nos retiramos e aprendemos a calar. Na quarta fase, o homem aprende a mendigar". Fiel ao provérbio indiano, Martini não imaginava que, na idade da "mendicidade também física", um Papa fosse mendigar a ele, mesmo sabendo como a patologia de Martini poderia inibir a comunicação oral, embora nos últimos dias um retorno das forças lhe permitisse por alguns momentos formular algumas palavras, talvez com a ajuda do computador e as traduções labiais de um padre, seu terapista.


Em todo caso, essa viagem à porta de Pedro assume para Martini valor de legado, por uma vida gasta a serviço da Igreja. A atenção dos observadores foi atraída fatalmente pela questão da sucessão do cardeal Tettamanzi na mais forte diocese europeia. Uma lista de três candidatos foi formada graças à consulta por parte do núncio, Dom Giuseppe Bertello, que a ampliou também ao laicato católico de Milão.


Os nomes mais insistidos são Luciano Monari, bispo de Bréscia, Gianni Ambrosio, de Piacenza, Bruno Forte, arcebispo de Chieti, para o qual também atua a estima pessoal de Ratzinger, enquanto as candidaturas mais midiatizadas dos cardeais Ravasi e Scola não responderiam ao critério, recomendado pelo Papa, de uma idade tal que permita pelo menos dez anos de governo antes da renúncia aos 75 anos, por contarem respectivamente com 69 e 70 anos.


Esse foi um problema que tornou pertinente a consulta com o ex-pastor de Milão. Mas talvez não foi o único. Existem também os sinais de uma crise fatal da Igreja, que, na Itália, não parece conseguir se desvincular da espiral do berlusconismo.


Desde os anos 1980, Martini havia contraposto às estratégias de um catolicismo triunfante e massivo um modelo de cristianismo espiritualmente renovado e reformador. Ele não foi ouvido por Wojtyla: Ratzinger o ouvirá? Martini recém acabou de escrever no computador um livro sobre os problemas pastorais que assolam os bispos. Pode-se supor que Martini também tivesse algum motivo para bater na porta e na consciência do Papa, antes da publicação do volume.


Audiências privadas como essas não são só ricas de “pathos” e de expectativas. Denunciam também o vazio, na cúpula do sistema papal, de um órgão representativo dos bispos capaz de colaborar com o Papa no governo da Igreja universal.


Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=42297

terça-feira, 5 de julho de 2011

Martini, o cardeal com Milão no coração

Hoje [15/02] o cardeal Martini completa 84 anos. Festeja a ocorrência em seu retiro de Galarate,


A reportagem é de Marco Garzonio e publicada pelo jornal Corriere della Sera, 15-02-2011. A tradução é de Benno Dischinger.


Circundado pelos cuidados amoráveis e generosos de quem o está acompanhando na fadigosa, diuturna batalha para controlar os efeitos do mal, o Parkinson. Não obstante, sempre atentíssimo, curioso em saber de quanto acontece na Itália, no mundo, na Igreja, na cultura e na vida comum. Sabem disso os leitores do Corriere.


Aqueles que cada dia lhe escrevem confiando-lhe preocupações, dúvidas e também angústias. E, os que não ousam pegar papel e caneta, mas, em todo caso são atentos a qualquer palavra sua, a ponto de esperar o último domingo do mês para ir imediatamente ler a página central com cartas e respostas. O diálogo à distância (agora reproduzido em volume, O comum sentir, editado por Rizzoli) é a continuação ideal do estilo episcopal inaugurado por Martini em Milão e prosseguido pelos mais de 22 anos em que foi arcebispo.


Pouco após os inícios de seu ministério havia redescoberto e reintroduzido no uso litúrgico uma antiga prece: “Dá sempre ao teu povo pastores que perturbem a falsa paz das consciências”.


E sempre se mostrou fiel àquelas palavras, praticando, ele professor e estudioso de fama internacional, virtudes como a escuta, o serviço, a prece, a busca jamais paga de um sentido a dar à existência: nas escolhas fortes, importantes, sobre a vida (início e fim, bioética) e naquelas cotidianas, às voltas com as alegrias e as dificuldades, os afetos e o trabalho na cidade.


Um misto de realismo e de fé, de aposta no homem e nos destinos comuns que, no final do mandato por ter atingido os limites de idade, em 2002, lhe deram a oportunidade de confiar dois registros: aos jovens e aos administradores públicos.


Encorajou os primeiros a “atravessarem a cidade”, sem medo, como fazia Jesus, a viverem até o fundo os incômodos, as dificuldades, mas também as esperanças e os ideais, a vontade de mudar e de ser protagonistas.


Aos segundos, no discurso de agradecimento no Palácio Marino pela medalha de ouro do Município, reservou um acurado e conciso apelo na esteira do predecessor e inspirador, Santo Ambrósio. Incitou a política a “dar força e amabilidade a uma existência vivida no respeito das regras”; admoestou que “enquanto a nossa sociedade prestigiar mais os “espertos” que têm sucesso, uma água lamacenta continuará alimentando o moinho da ilegalidade”, “tolhendo estima social à honestidade” e enfraquecendo “o senso cívico”. Ele estava para partir a Jerusalém, mas a governantes, a toda a cidade, ao País deixou o empenho: “Tarefa cultural urgente é acionar um movimento de restituição de estima social e de prestígio ao comportamento honesto e altruísta, embora austero e pobre”. Como admoestação citou Ambrósio: “Quão afortunada é aquela cidadania que tem muitíssimos justos!”


Em Galarate, embora entre fadigas e impedimentos, Martini continua sendo aquele ponto de referência que não só aos milaneses, mas a toda a Igreja e à Itália ensinaram a amar e, é inútil escondê-lo, a contestar porque em seu estilo e em sua ação continuou e continua recolhendo consensos, mas também dissensos.


Recorda o papel dos Profetas do antigo Israel que estiveram entre os pontos de força do Martini cientista da Palavra bíblica, bispo, pregador de apaixonados exercícios espirituais nos ângulos mais longínquos da catolicidade. Uma Igreja profética é aquela pela qual sonhou por anos e para a qual, como confiou ao padre Georg Sporschill em Conversações noturnas em Jerusalém (editado por Mondadori), na velhice decidiu orar. Por que: qual é hoje a profecia proferida na Igreja? A resposta de Martini está em sua escolha orante.


Em solicitar a Deus e em recordar aos coirmãos e a todos que a profecia não é algo de abstrato ou para poucos, mas, na esteira precisamente do Israel da Escritura, é procurar o ponto de encontro entre o projeto de Deus e as urgências da história. Um testemunho radical, sem atender às solicitações dos poderosos nem às tentações de se deixar perder mortificados pelas dificuldades, aceitando ser pequena grei (isto é, minoria) e grão de mostarda e levedo, dispostos a pagar um preço também salgado em seguir a via de Jesus.


Como lema episcopal Martini escolheu Pro veritate adversa diligere, pela verdade amar as adversidades. Na verdade, o lema completo, tomado de São Gregório Magno, tem outro par de palavrinhas: “e ser cautelosos em relação ao sucesso”.


Em suma, uma perspectiva para ele e uma indicação de caminhada para todos. E, portanto, a ocasião para unir-se às fileiras de fiéis e de estimadores ao dizer: obrigado e muitas felicidades, Eminência!



Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=40724

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Comunhão e Libertação. Vida e obra do fundador

Amado ou contestado, Pe. Luigi Giussani, fundador do movimento Comunhão e Libertação, é indubitavelmente um protagonista do catolicismo da segunda metade do século XIX. Massimo Camisasca, um dos seus discípulos mais próximos, não pretende oferecer ainda, com o seu "Don Giussani" (Editora San Paolo) uma crônica biográfica, mas um perfil das suas idéias chaves.


A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal La Repubblica, 10-03-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.


Nascido em 1922, a sua vida se estrutura principalmente em três fases. O professor de religião no colégio símbolo de Milão, o "Berchet", durante o qual remodela a Gioventù Studentesca, surgida no âmbito da Ação Católica: o que o levará a um conflito com as autoridades eclesiásticas, desembocando em um breve exílio nos Estados Unidos sob o manto da viagem de estudos. A fundação, em 1969, de Comunhão e Libertação e a sua condução até torná-lo um dos movimentos estruturais do pontificado wojtyliano. A longa fase do Parkinson até quando falece em 2005.


Se a fase do educador na escola pública é caracterizada pela consciência que o ensino de religião não pode se limitar a um "nocionismo" religiosa, por fim sem influência, mas deve enfrentar diretamente um mundo juvenil naturalmente levado a uma mentalidade secularizada, é a fase pós-68, a mais interessante. Retrospectivamente, a contestação, rompendo com a fossilização da religião tradicional, estimulou fortemente o renascimento dos movimentos na Igreja católica. Nesse quadro, o Giussani do Comunhão e Libertação propôs elementos válidos ainda hoje no universo católico. Dá relevo ao conceito de que o cristianismo não pode se limitar à narração de um "relato", mas deve se tornar vital apenas se atualizar um "fato", um "evento" real que, no crente, deve se encarnar na "experiência" vivida em todos os âmbitos da sociedade contemporânea: trabalho, afetos, vida relacional, tempo livre. Uma concretude que se entrelaça a uma inspiração quase mística: "A liberdade – relembra Camisasca, citando o seu mestre – nasce da descoberta de que o homem está em relação com o infinito, com a origem de todo o fluxo do mundo". Nesse sentido, é inaceitável toda inércia no anúncio religioso, porque "no homem não há uma ideia inata de Deus". Deve-se chegar ao divino, ou melhor, à descoberta do "mistério" por meio de um percurso ativo, que capture coração e razão.


Entende-se então por que Comunhão e Libertação – pense-se só no Meeting de Rimini, que se tornou um encontro internacional – sempre dedicou muita atenção à cultura, à poesia, à pintura (também de artistas "pecadores" como Bacon ou Testori). No seu agir, Giussani exortou a um ecumenismo radicado nos "fragmentos de verdade" que o Concílio Vaticano II valorizou nas outras religiões. Mas há também páginas argutas sobre a autenticidade do protestantismo, geralmente negligenciado em vantagem dos ortodoxos quando se fala de ecumenismo.


Pertence à última fase da trajetória de Giussani uma tensão mística com relação a Maria, como minúsculo ponto da história humana, escolhido para a encarnação de Cristo. Mas é sobretudo o tema da "superabundante" misericórdia divina que no fim o aferra como dimensão infinita e, portanto, sinal definitivo da "essência de Deus".


Faz parte do livro uma galeria fotográfica que é documento intrigante da linguagem corpórea de Giussani. Respeitosa atenção a Paulo VI, o papa intelectual. Impulso afetuoso com relação a Wojtyla, o pontífice guia. Distância perplexa com relação ao cardeal Martini, o "diferente", tanto então como hoje.





Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=20567

sábado, 2 de julho de 2011

Óbolo de São Pedro

Uma prática muito antiga que chega até os nossos dias
Nasceu com o próprio cristianismo a prática de sustentar materialmente aqueles que têm a missão de anunciar o Evangelho, a fim de poderem entregar-se inteiramente ao seu ministério, cuidando também dos mais necessitados (Atos dos Apóstolos 4,34;11,29).
No final do século VIII, os anglo-saxões, depois da sua conversão, sentiram-se tão ligados ao Bispo de Roma que decidiram enviar, de maneira estável, uma contribuição anual ao Santo Padre. Assim nasceu o "Denarius Sancti Petri" (Esmola para São Pedro), que rapidamente se espalhou pelos países europeus.

Esta prática - como outras semelhantes - passou por vicissitudes diversas ao longo dos séculos até que foi consagrada pelo Papa Pio IX através da sua Encíclica Saepe venerabilis, de 5 de Agosto de 1871.

Esta coleta realiza-se atualmente em todo o mundo católico, coincidindo na sua maior parte com o dia 29 de Junho ou o domingo mais próximo da Festa dos Apóstolos São Pedro e São Paulo.

Chama-se Óbolo de São Pedro a ajuda econômica que os fiéis oferecem ao Santo Padre, como sinal de adesão à solicitude do sucessor de Pedro relativamente às múltiplas carências da Igreja Universal e às obras de caridade em favor dos mais necessitados.

As ofertas que os fiéis dão ao Santo Padre destinam-se a obras eclesiais, a iniciativas humanitárias e de promoção social, e também para a sustentação das atividades da Santa Sé. E o Papa, enquanto Pastor da Igreja inteira, preocupa-se também com as necessidades materiais de dioceses pobres, institutos religiosos e fiéis em graves dificuldades (pobres, crianças, idosos, marginalizados, vítimas de guerras e desastres naturais; ajudas particulares a Bispos ou Dioceses em necessidade, educação católica, ajuda a refugiados e migrantes, etc.).

Fonte: http://www.vatican.va/roman_curia/secretariat_state/obolo_spietro/documents/history_po.html