quarta-feira, 27 de abril de 2011

Qual a pressa em beatificar João Paulo II?

Ao longo desta semana, estou oferecendo uma série diária de perguntas e respostas em preparação à beatificação do Papa João Paulo II no próximo domingo. Hoje, começamos com a questão talvez mais frequente, tanto na mídia quanto na base: qual é a pressa? Por que isso está acontecendo tão rápido, enquanto outras causas, às vezes, padecem durante séculos?

A análise é John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 25-04-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Os números sobre a causa de João Paulo II são uma questão de recorde. A beatificação ocorre seis anos e 29 dias após a sua morte no dia 2 de abril de 2005, tornando-a a beatificação mais rápida dos tempos modernos, desbancando Madre Teresa em 15 dias. Em ambos os casos, a velocidade foi possível porque o Papa renunciou ao período normal de cinco anos de espera após a morte do candidato, a fim de iniciar o processo.

Porém, se isso equivale a "pressa" está nos olhos de quem vê.

Como o padre jesuíta James Martin observou, uma vez que haja um milagre documentado, teologicamente poderíamos dizer que Deus aprova esse ritmo. Além disso, para a grande faixa da população tanto dentro quanto fora da Igreja Católica convencida de que João Paulo II foi um santo em vida e que a canonização é uma formalidade, a questão-chave não pode ser por que isso está acontecendo tão rapidamente, mas sim porque está demorando tanto.

Um estudo oficial da vida de João Paulo II que levou a um "decreto das virtudes heroicas" em dezembro de 2009, autorizando João Paulo II a ser referido como "venerável", coletou testemunhos de mais de 100 testemunhas formais e produziu um relatório de quatro volumes. George Weigel escreveu recentemente que, como resultado, os católicos têm "muito mais detalhes sobre a vida e as realizações de Karol Wojtyla, o Papa João Paulo II, do que o eleitorado norte-americano sobre a vida e as realizações de Barack Obama, ou do que o eleitorado britânico sobre a vida e as realizações de David Cameron e de Nick Clegg".

Além disso, a beatificação de João Paulo II pode ser a mais rápida dos últimos tempos, mas dificilmente será o processo mais veloz a ser registrado. Essa distinção pertence a Santo Antônio de Pádua, que morreu em junho de 1231 e foi canonizado menos de um ano mais tarde pelo Papa Gregório IX. Antônio bateu ainda seu mestre, São Francisco de Assis, que foi canonizado 18 meses após a sua morte, em outubro de 1226 (também por Gregório IX).

Na verdade, os mais inclinados a questionar a "pressa" muitas vezes têm outras razões para o sentimento ambivalente com relação a João Paulo II – o seu histórico na crise dos abusos sexuais, por exemplo, ou o teor mais "evangélico" do seu pontificado, em oposição ao espírito de reforma interna da Igreja associada ao Concílio Vaticano II (1962-1965).

Aliás, é difícil imaginar que muitos progressistas católicos estariam em pé de guerra se, por exemplo, o arcebispo Oscar Romero, de El Salvador, tivesse sido beatificado apenas seis anos após seu assassinato em 1980. O debate sobre a "rapidez" da causa da canonização, em outras palavras, está quase sempre envolto com o "quem" e o "porquê".

Dito isso, para uma instituição que normalmente pensa em séculos, seis anos e meio não deixa de ser espantosamente rápido. Certamente pode-se perguntar sobre o ritmo da beatificação sem soçobrar em dissenso teológico, ou pôr em causa a santidade de João Paulo II. Reportagens de 2008, por exemplo, sugeriam que o cardeal italiano Angelo Sodano, então secretário de Estado de João Paulo II, havia escrito à autoridade encarregada pela causa de João Paulo II para manifestar uma preferência a esperar enquanto os procedimentos de canonização estivessem em andamento para outros papas, incluindo Pio XII e Paulo VI.

Há pelo menos cinco fatores que explicam o ritmo em que as coisas estão se movendo no caso de João Paulo II.

Primeiro, o próprio João Paulo II revisou o processo de canonização, em 1983, para torná-lo mais rápido, mais fácil e mais barato, com a ideia de levantar modelos contemporâneos de santidade para um exausto mundo moderno. Apesar de João Paulo II e Madre Teresa serem os únicos em casos em que o período de espera foi dispensado, eles são apenas dois de mais de 20 casos desde 1983 em que um candidato chegou à beatificação 30 anos após a morte – uma lista que inclui uma mistura de beatos famosos (Padre Pio, Josemaría Escrivá, fundador do Opus Dei) e relativamente obscuros (Anuarita Nengapeta, uma mártir do Congo, e Chiara Badano, um membro leigo dos Focolares).

Nesse sentido, o ritmo da beatificação de João Paulo II é um subproduto natural de suas próprias políticas de santificação, que valorizam a demonstração de que a santidade está viva aqui e agora.

Em segundo lugar, supõe-se que a santidade é um processo democrático, começando com uma convicção popular de que uma determinada pessoa viveu uma vida santa e digna de ser imitada. No passado, a fama de um candidato muitas vezes se espalhava só gradualmente, mas hoje o mesmo lapso de tempo nem sempre se aplica. O papado de João Paulo II explorou habilmente duas das marcas da aldeia global de hoje: a ubiquidade das comunicações e a relativa facilidade das viagens. Como resultado, pode-se argumentar que o ritmo de sua beatificação nada mais é do que um reflexo da maior velocidade com que tudo se move no século XXI.

Em terceiro lugar, apesar das reformas de João Paulo II, a canonização continua sendo um processo complicado. Causas que se movem rapidamente tipicamente têm uma organização por trás, capaz de fornecer os recursos e a experiência para fazer o sistema funcionar. O Opus Dei, por exemplo, pôde recorrer a alguns dos melhores advogados canônicos da Igreja Católica para promover a causa do seu fundador, e os Focolares têm membros motivados com boas ligações com o Vaticano por trás da causa de Badano. No caso de João Paulo II, a infraestrutura da Igreja Católica na Polônia, assim como na diocese de Roma, estão solidamente por trás da causa, garantindo que ela não definhe por falta de apoio institucional.

Em quarto lugar, os tomadores de decisão na Igreja de hoje são em grande parte nomeados e protegidos de João Paulo II, o que lhes dá uma motivação biográfica poderosa para querer ver o seu mentor elevado à santidade durante suas próprias vidas. Essa lista inclui o próprio Papa Bento XVI; assim como o cardeal Stanislaw Dziwisz, de Cracóvia, na Polônia, e antigo secretário particular de João Paulo II, para quem manter a memória de João Paulo vivo representa uma vocação sagrada. Dziwisz completa 72 anos no dia 27 de abril, tornando a beatificação do dia 1º de maio um presente de aniversário perfeito, e não há dúvida de que ele gostaria de ver a canonização acontecendo antes que ele saia dos holofotes aos 80 anos, a idade da aposentadoria.

Em quinto lugar, há o simples fato da demanda popular. O afeto por João Paulo II continua sendo palpável ao redor do mundo, e, em muitos casos, as pessoas não estão à espera de aprovação formal para considerá-lo como um santo. A revista italiana Epoca, por exemplo, estampou a manchete "O Santo Papa" em sua capa desta semana, sem trabalhar a diferença entre beatificação e canonização.

Será que o mesmo ritmo acelerado irá impulsionar João Paulo II para a linha de chegada da canonização em tempo recorde?

Há inúmeras variáveis envolvidas, uma das quais é a necessidade de um outro milagre documentado. O caso da Madre Teresa pode ser instrutivo: embora quase todo mundo considere a sua canonização como uma conclusão prévia, sete anos e meio se passaram desde a sua beatificação em outubro de 2003, e os organizadores de sua causa ainda estão procurando por um milagre que satisfaça os testes rigorosos da Congregação para as Causas dos Santos do Vaticano.

Também é possível que isso eleve a precaução, especialmente se surgirem novas revelações sobre a resposta à crise dos abusos sexuais durante o papado de João Paulo II. Mesmo que nada disso ponha em causa a santidade pessoal de João Paulo II ou as altas conquistas do seu pontificado, alguns poderiam argumentar em favor da espera até que se diminua a sensibilidade da reação das vítimas de abuso clerical.

Finalmente, um fato marcante sobre a abordagem de Bento XVI à canonização é que, embora não tenha abrandado o ritmo das beatificações, ele mostrou uma maior paciência quando se trata de canonizações. João Paulo aprovou 1.338 beatificações ao longo de 26 anos, uma média de 51 por ano. Bento até agora assinou 789, ou 131 por ano. No entanto, Bento XVI não está canonizando com o mesmo frenesi. As 482 canonizações de João Paulo equivalem a mais de 18 por ano, enquanto as 34 de Bento até agora representam uma média anual de pouco menos de sete anos. Esse contraste pode sugerir um atraso um pouco mais longo antes que João Paulo II seja oficialmente declarado santo.

Por outro lado, os quatro fatores listados acima para explicar o rápido progresso da beatificação de João Paulo II ainda estão em seu lugar, e todos se aplicam em uma medida muito semelhante às perspectivas de uma rápida canonização.

No final, Martin pode estar certo. Se outro milagre vier rapidamente e sobreviver ao escrutínio médico e teológico usual, pode-se dizer que é Deus quem mantém João Paulo II na pista rápida.


Fonte:  http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=42699

Monsenhor Oscar Romero: Trinta anos de um martírio

Maria Clara Lucchetti Bingemer
No dia 24 de março de 1980, às 6h da tarde, o arcebispo de San Salvador, capital do pequeno país da América Central, El Salvador, celebrava missa na capela do Hospitalito, hospital de religiosas que cuidavam de doentes de câncer.  No momento da consagração, o tiro desfechado por um atirador de elite escondido atrás da porta traseira da capela atingiu o coração do pastor e matou-o imediatamente.

Calava-se assim a voz que defendia os pobres no regime cruel e sangrento que dominava El Salvador.  E Monsenhor Romero passaria a estar vivo, a partir de então, no coração de seu povo, no qual profetizou que ressuscitaria, se  o matassem.  Assim foi, assim é.  Não existe um só salvadorenho nos dias de hoje que não fale com carinho extremo de Monsenhor Romero e não reconheça nele um pai e um protetor.  E não há um cristão que não deva conhecer a vida e a trajetória deste grande bispo que é exemplar para todos aqueles e aquelas que hoje se dispõem a seguir Jesus de Nazaré.

Como homem de seu tempo, Romero é configurado pela formação que recebeu como seminarista e sacerdote.  Uma formação dada por uma Igreja pré-conciliar, onde a vivência da fé e a pratica da religião são concebidas como um tanto desvinculadas da vida real e cotidiana das pessoas.  Seu caminho será extremamente coerente com o caminho cristão nesses mais de 2000 anos de história. A fé cristã foi desde seus começos uma fé no testemunho de outros. É uma fé de testemunhas e nem tanto de textos. As testemunhas continuam sendo os melhores teóricos da fé que professamos e que desejamos comunicar.  Nesse sentido, continuam sendo os teólogos primordiais. 

Monsenhor Oscar Arnulfo Romero entra nessa categoria de testemunha e teólogo primordial.  Seu testemunho de vida e sua morte iluminaram e continuam iluminando o caminho e a vida de várias gerações.  Enquanto era padre, Oscar Arnulfo Romero era um sacerdote de corte tradicional, que exercia sua pastoral mais ao interior da Igreja, celebrando missas, distribuindo sacramentos, organizando sua diocese.   Devido a seu perfil tranqüilo e não conflitivo  foi designado pelo Vaticano como bispo no conflitivo país de El Salvador.

A segunda conversão de Monsenhor Romero, conversão à causa dos pobres e dos explorados - uma classe de maioria nas terras de El Salvador – ocorreu depois de sua nomeação para as funções de bispo. Olhando mais de perto essa conversão, podemos ver que é perfeitamente coerente com o itinerário de um homem honrado e bom, cujo coração se mantinha aberto à missão recebida e à vocação sentida no coração. E sobretudo, aberto ao Deus em quem acreditava e ao qual tinha consagrado toda sua vida , assim como ao povo ao qual prometera servir como pastor.  Desde seu posto de bispo, de autoridade eclesiástica, pôde sentir de outra maneira a miséria de seu povo e a violência dos capitalistas, que - como em muitos países do Continente - matavam ou faziam desaparecer líderes, camponeses, padres, agentes de pastoral e tantos quantos fizessem ouvir suas vozes em defesa do povo oprimido.
Monsenhor Romero foi “convertido” aos pobres e a sua causa,  a causa da justiça e da verdade,  por outra testemunha: o jesuíta P. Rutilio Grande. O Padre Rutilio fez muitas denúncias contra a situação de pobreza do povo, a insensibilidade das elites e a violência do governo. No dia 12 de Março de 1977  quando se dirigia para sua terra natal com outros cristãos para preparar uma festa religiosa, foi morto por militares, com uma rajada de metralhadora. Dom Oscar Romero afirmou que foi o exemplo do Padre Rutilio e sua morte que o convenceram a ficar firmemente ao lado dos pobres e dos injustiçados de El Salvador.

Depois da morte de seu companheiro,  Romero passou a acusar frontalmente os capitalistas, governantes, militares e ricos, responsabilizando-os por todos os males ocorridos no país. O testemunho de Rutilio mudou seu olhar sobre a história. Romero não se calou  diante das violências da guerrilha revolucionária mas tampouco diante daquelas perpetradas pelos poderes constituídos. Entendeu que seu papel de pastor – papel esse que entendia como extensivo a toda a Igreja naquele momento histórico difícil e doloroso que vivia seu país e seu povo – era levantando a voz e expondo-se, colocando-se claramente do lado dos mais fracos e oprimidos. Por isso a configuração mais vigorosa de sua ação e de sua luta em favor da justiça e da paz, em defesa dos direitos humanos,   vamos encontra-la em suas homilias dominicais, nas quais analisa a realidade da semana à luz do evangelho. Transmitidas pela rádio católica, são ouvidas em cada canto do país, dando esperança ao povo e suscitando o rancor dos capitalistas.


 Ao mesmo tempo em que conclamava a todos à plena responsabilidade eclesial, denunciava a acomodação e a alienação de muitos com relação a sua responsabilidade eclesiástica e histórica. Eclesialidade e cidadania para ele são inseparáveis.

"Uma religião de missa dominical, mas de semana injusta, não agrada ao Senhor. Uma religião de muitas rezas e tantas hipocrisias no coração, não é cristã. Uma Igreja que se instala sozinho para estar bem, para ter muito dinheiro, muita comodidade, mas que se esquece do clamor das injustiças, não é verdadeiramente a Igreja de nosso divino Redentor" (04/12/1977).

Fiel a sua leitura da história  iluminada pelo evangelho do Jesus, sabia também e inseparavelmente, que assumir essa visão e essa vivência de Igreja leva consigo sérias conseqüências.  A mais séria, mais dolorosa, mas também a mais luminosa e consoladora é a perseguição.

Já nos primórdios do cristianismo os discípulos entenderam, de acordo a ensinamentos do próprio mestre, que seriam perseguidos se permaneciam fiéis em seu proceder e em seu testemunho.  O mundo os odiaria como tinha odiado a Jesus e os perseguiria implacavelmente.  Ao invés, se eram aplaudidos e elogiados pelos capitalistas e as instâncias ricas da sociedade deveriam ficar muito desconfiados.  Isso significaria que seu testemunho era débil e não  seguia fielmente as pegadas do Mestre e Senhor, a quem deveriam aspirar assemelhar-se.  Assim entendeu Monsenhor Romero a cascata de ameaças, perseguições e sofrimentos que se abateu sobre ele e a Igreja salvadorenha que o acompanhava e apoiava e procurou inspira-la com sua palavra e seu carinho de pastor.

"Quando nos chamarem de loucos, embora nos chamem de subversivos, comunistas e todas as ofensas que assacam contra nós, sabemos que não fazem mais que pregar o testemunho ‘subversivo’ das bem-aventuranças, que anima a todos para proclamar que os bem-aventurados são os pobres, bem-aventurados os sedentos de justiça, bem-aventurados os que sofrem" (11/05/1978).

Assim também a Igreja, se seguir seriamente a seu Senhor, não pode ser aplaudida e aclamada por todos. A perseguição real e a disposição a sofrê-la é e sempre foi a “verificação mais clara do seguimento do Jesus”.   Monsenhor Romero sabe e a isso convoca abundante e eloqüentemente a seus fiéis.

"Uma Igreja que não sofre perseguições, e que está desfrutando dos privilégios e o apoio da burguesia, não é a verdadeira Igreja de Jesus Cristo" (11/03/1979).

Os dias do pastor estavam contados. Ele sabia. E o dizia claramente.  São conhecidas de todos nós o sem número de vezes em que anunciou sua morte próxima.  Fazem-nos recordar os anúncios da Paixão feitos por Jesus do Nazaré e que os evangelhos recolhem. Com muita clareza, afirmava: “Se nos cortarem a rádio, se nos fecharem o jornal, se não nos deixam falar, se matarem todos os sacerdotes e até o arcebispo, e fica um povo sem sacerdotes, cada um de vocês deve converter-se em microfone de Deus, cada um de vocês deve ser um mensageiro, um profeta”.

Duas semanas antes de sua morte, em uma entrevista ao jornal Excelsior, do México, disse: “Fui freqüentemente ameaçado de morte. Devo lhe dizer que, como cristão, não acredito na morte sem ressurreição: se me matarem, ressuscitarei no povo salvadorenho. Digo isso sem nenhuma ostentação, com a maior humildade. Como pastor, sou obrigado, por mandato divino, a dar a vida por aqueles que amo, que são todos os salvadorenhos, até por aqueles que me assassinem. Se chegarem a cumpri-las ameaças, a partir de agora ofereço a Deus meu sangue pela redenção e ressurreição do Salvador. O martírio é uma graça de Deus, que não me sinto na situação de merecer, entretanto, se Deus aceitar o sacrifício de minha vida, que meu sangue seja semente de liberdade e sinal de que a esperança se transformará logo em realidade. Minha morte, se é aceita Por Deus, que seja pela liberação de meu povo e como testemunho de esperança no futuro. Pode escrever: se chegarem a me matar, desde já eu perdôo e benzo aquele que o faça”.

Na homilia de 23 de março de 1980, um dia antes de morrer,  ele se dirige explicitamente aos homens do exército, da Guarda Nacional e da Polícia: “Frente à ordem de matar seus irmãos deve prevalecer a Lei de Deus, que afirma: NÃO MATARÁS! Ninguém deve obedecer a uma lei imoral (...). Em favor deste povo sofrido, cujos gritos sobem ao céu de maneira sempre mais numerosa, suplico-lhes, peço-lhes, ordeno-lhes em nome de Deus: cesse a repressão!”.

Serão as últimas palavras do bispo ao país. No dia seguinte, é assassinado por um franco-atirador, enquanto reza a missa. Selou seu testemunho com sangue, como Jesus e todos os mártires cristãos. Entretanto, sua morte não pode ser desconectada de sua vida.  Foi o selo coerente desta.  Para entender o alcance da morte de Mons. Romero e afirmar que é realmente um martírio importa lançar os olhos sobre o modo como viveu.  É o modo como viveu, sua história de vida que ilumina e faz com que sua morte cobre todo  sentido.  E vice –versa.  Sua morte confirma e legitima todo aquilo pelo que lutou em vida.
A fé de Monsenhor Romero, como fé de uma autêntica testemunha, tem que alimentar nossa fé aqui e agora.  Em que pontos pode alimentá-la e fortalecê-la principalmente?

1. A fé de Monsenhor Romero chama a uma conversão pessoal.  Chama-nos a ser testemunhas mais coerentes no sentido de mais atentos à história e seus signos para ver onde há dor, onde há sofrimento, onde há necessidade para estar aí, consolando, atendendo, testemunhando, como verdadeiros seguidores e discípulos de Jesus Cristo.  Se formos cristãos de missa dominical e de semana injusta, estamos muito longe do Jesus do Nazaré e do testemunho de Monsenhor Romero.

2. A fé de Mons. Romero enquanto  homem de Igreja nos chama a construir uma Igreja que seja aberta aos desafios e solicitações de hoje.  Uma Igreja acolhedora e servidora dos pobres, tendo-os sempre como prioridade inescapável de sua agenda; uma Igreja aberta às diferenças – de genero, de raça, de etnia; uma Igreja aberta ao diálogo com o mundo, e com as outras tradições com vistas a construir juntos os grandes valores que o mundo necessita mais que tudo: justiça, paz e solidariedade.

3. A fé de Mons. Romero nos ensina que nossa Igreja, se for essa Igreja que ele viveu e pregou e que anunciou com sua vida e sua morte, terá necessariamente que ser perseguida.  Temos que ser uma Igreja que não procure aplausos e aprovações gerais e totalizantes, mas que aceite a incompreensão, a contradição e a perseguição e o conflito como provas constitutivas e coerentes com a veracidade de nosso seguimento de Jesus.

4. A fé de Mons. Romero nos diz que importa nem tanto anunciar o Cristianismo como uma religião feita de normas morais, formula dogmáticas e rituais sem fim, mas sim como um caminho de vida, e vida em abundância para todos.  Por isso, trata-se muito mais de fé e nem tanto de religião.  Muito mais de caminho e nem tanto de estabilidade e instituição.

5. A fé de Mons. Romero nos ensina que o Reino é uma proposta para todos e terá que colocar-nos ao lado de todos que desejam construí-lo.  Mas a Igreja é uma proposta para aqueles que se dispõem a tomar a sério  seu Batismo e aceitar suas implicações, que são sofrer e morrer pelo povo.  Por isso, terá que dar sua vida construindo o Reino para todos, mas fazer Igreja com aqueles que realmente querem seguir a Jesus Cristo com todas as suas conseqüências.  Enquanto o Batismo seja um bem de consumo posto a disposição de todos, parece que não conseguiremos construir a Igreja segundo o sonho de Jesus. 



Fonte:http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp.cod_noticia=14663&cod_canal=44noticia=14663&cod_canal=44

‘El Salvador está preparado para a canonização de Oscar Romero’

Autoridades da Igreja católica de El Salvador informaram que estão preparadas para a canonização do assassinado arcebispo Oscar Arnulfo Romero, considerado um mártir do povo, pelo trabalho social que costumava realizar a favor de diferentes setores da população.

A reportagem é do jornal guatemalteco Prensa Libre, 25-04-2011. A tradução é do Cepat.
 “O país está preparado, porque uma das razões pelas quais se retardou [sua beatificação] era o fato de que o país estava muito polarizado”, disse o arcebispo auxiliar de San Salvador, Gregorio Rosa Chávez.
Acrescentou que Mons. Romero é “o primeiro santo pela internet”, devido à grande difusão de sua história por meio da Rede.

Recordou uma visita que o prelado fez a uma escola de uma determinada localidade em que disse aos estudantes que para muitos ele era um monstro, o culpado de todos os males do país, ao passo que para outros “o pastor que caminha com o seu povo”.

“O fato de que o processo esteja indo devagar serviu para preparar o povo para esta grande notícia”, afirmou.

Na opinião do hierarca católico, o caso do mons. Romero está praticamente concluído, já que se demonstrou que é mártir e que sua pregação era aquela ensinada pela Igreja.

“Falta ver qual é o momento oportuno. E podem nos dar a surpresa a qualquer momento, porque as investigações estão concluídas”, garantiu.

domingo, 24 de abril de 2011

PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR

Na Páscoa, nós cristãos renovamos uma alegria antiga de dois mil anos. Uma alegria narrada no evangelho, prorrompida diante de um túmulo procurado e encontrado vazio.

Aquele dia longínquo parecia destinado à tristeza e ao luto, por causa da morte do Senhor Jesus. De repente se encheu de alegria!

Maria Madalena, de manhã muito cedo, foi ao sepulcro para chorar um morto, e  não o encontrou.  Pedro e João correram também eles e encontraram faixas dobradas em um ângulo, o sudário bem dobrado, e de Jesus nenhum traço. Então se lembraram quando Jesus os tinha advertido sobre a sua ressurreição.

Daquele momento começou a se realizar o programa do Salvador, o seu projeto, a Boa Notícia que ele nos trouxe. Nós sabemos, o seu projeto é a resposta de Deus aos pessimistas e aos sem coragem. É o projeto sobre o homem que Deus elaborou e Jesus nos revelou: o Reino de Deus. Algo que começa a realizar-se aqui e agora, está presente já, mas ainda não se completou, pois ele se prolonga e completará fora do tempo e do espaço, no mistério de Deus.

A notícia é: Deus é Pai e nos ama como filhos. O projeto é: Jesus veio para nos salvar, como irmão e amigo, porque “amigo é aquele que dá a vida pelo amigo”. O programa para nós é um estilo de vida novo, que ele veio inaugurar e nos ensinar. E nós cristãos somos solicitados a fazer nosso.

Jesus veio ao mundo para suscitar um movimento de pessoas orientadas ao bem, a Igreja, e há dois mil anos solicita sobre a terra a cooperação dos homens. Convoca em torno de si os seus discípulos, nós os cristãos. E nos confia uma missão no mundo. Mas muitos cristãos não vivem sempre no modo cristão.

Há os que com certa freqüência tomam distância da Igreja. Participam da vida da comunidade eclesial talvez somente nas grandes ocasiões, Natal, Páscoa, núpcias.

Às vezes certos cristãos tomam distância  também de nosso Senhor. O Senhor Jesus nos convidou à amizade com ele, a uma intimidade profunda, que consiste em querer-lhe bem, senti-lo vizinho, falar-lhe com a oração. E nós nos esquecemos.

Às vezes entre nós e Deus se ergue um muro que parece insuperável: o pecado. Assim Jesus veio ao mundo para suscitar um movimento de pessoas orientadas ao bem; encontra a boa vontade de alguns; a frieza, a não-disponibilidade de tantos outros. Como é humano tudo isso. A Igreja o sabe desde sempre. Ela se auto-define “santa e pecadora”, Santa e sempre necessitada de perdão e de correção. Esta é a verdadeira Igreja. E assim também somos nós, cada um de nós. Por isso a festa da Páscoa é precedida de um tempo de preparação, a Quaresma, que consiste em primeiro lugar em um sério exame de consciência.

O cristão olha dentro de si e se descobre pecador. Certamente, não um Hitler com milhões de delitos. Mas talvez tenhamos feito sofrer quem está perto de nós, talvez sejamos superficiais, egoístas, preguiçosos. E nós, quem sabe, quantas vezes nos dispomos ao bem e depois deixamos que sejam os outros a partir e realizá-lo.

A preparação para a Páscoa passa através do arrependimento e o perdão. Pedir perdão é um ato de sinceridade e de verdadeiro amor a Deus. E daí revigorados, dispostos, decididos a ocupar com amor o próprio lugar na comunidade cristã. O próprio lugar em meio aos outros, aos próprios caros, aos amigos, no trabalho. Levando a sério a Páscoa, a alegria de ter encontrado o Cristo ressuscitado contagia nossas existências. Através do perdão ressurgimos com ele que nos perdoa, prontos para uma nova vida.

Eis a novidade do túmulo vazio: com a morte de Jesus nada está terminado. Com sua ressurreição tudo recomeçou e recomeça. Hoje, como ha 2000 anos passados, toma consistência o programa, o projeto, a Boa Notícia que Jesus nos trouxe com sua vida e sua Palavra.

O cristão que vive em si a ressurreição do Senhor chega a ter, sobre si e sobre as pessoas que o circundam, um olhar diverso, original, que em vão procuraremos em outras concepções de vida. É uma visão rica de valores, dignificante, enobrecida pelo saber que somos todos irmãos porque filhos do único Pai celeste.

Desejamos uma santa Páscoa, portadora de muita paz interior, na sua família e no meio de todos com os quais convivem.


Cardeal Geraldo Majella Agnelo


quinta-feira, 21 de abril de 2011

MISSA DA CEIA DO SENHOR - 5ª feira santa

É a missa em que se celebra última ceia de Jesus com seus apóstolos e também quando Ele institui a Santa Eucaristia.

No início da noite da primeira Quinta-feira Santa, Jesus quis comer a ceia pascal com seus discípulos; deu também, como Mestre, um exemplo belíssimo de humildade lavando-lhes os pés. Foi durante esta refeição que nosso Salvador instituiu seu próprio memorial, a sagrada Eucaristia!

O Sacrossantum Concilium (no 47), nos diz:

Na última ceia, na noite em que foi traído, nosso Salvador instituiu o sacrifício eucarístico de seu corpo e sangue. Fez isto para perpetuar o sacrifício da cruz pelos séculos, até que volte, e, assim, confiar à Igreja, sua amada esposa, o memorial de sua morte e ressurreição: sacramento de amor, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal, em que Cristo é consumado, o espírito é saciado de graça e nos é dado o penhor da futura glória.

Portanto, a Eucaristia é o sacramento de amor por excelência, é o sacramento da unidade que nos une a Cristo na caridade.

Quando nos reunimos em família, pensamos logo numa refeição, num almoço ou num jantar, pois esse acontecimento nos une mais fortemente, os laços familiares tornam-se mais estreitos. Pode haver expressão maior de unidade do que numa refeição em família ou mesmo compartilhada com os amigos?

A Eucaristia é refeição. Cristo nos convida a partilhar com Ele a refeição em que Jesus se faz comida e bebida para nos fortalecer espiritualmente.

O evangelista João relata o último discurso de Jesus em que Ele diz: “Desejei ardentemente comer esta refeição pascal convosco”. Nesse dizer de nosso Senhor há uma profunda alegria. Entre os judeus, a ceia da Páscoa era sempre esperada como uma hora de grande alegria, pois eles relembravam a saída do povo judeu do Egito, lugar de escravidão e morte. A Páscoa instituída por Moisés era celebrada todos os anos como a festa máxima do calendário religioso judaico. Páscoa judaica, que quer dizer “passagem” era, e é ainda hoje, a celebração da libertação do povo da escravidão do Egito para a liberdade na terra prometida onde corre leite e mel. Cristo aproveita-se da festa da Páscoa para se oferecer ao Pai como Vitima perfeita, o Cordeiro, aquele que tira o pecado do mundo. Ele transforma a Páscoa judaica, não apenas na libertação de um povo do jugo da escravidão, mas liberta a humanidade de uma escravidão maior, mais profunda, que a afasta do Pai e causa a verdadeira morte. Ele nos liberta da escravidão do pecado que traz a morte eterna.

A Páscoa cristã tem profunda ligação com a Páscoa judaica, tanto que na missa da Ceia do Senhor, a primeira leitura (Ex 12, 1-8.11-14) nos traz o relato do Antigo Testamento no que diz respeito à Páscoa judaica, são instruções dadas por Moisés sobre como ela deveria se desenrolar, que animal deveria ser sacrificado ao cair da tarde, como deveria ser consumido, enfim todo um ritual. Esta Páscoa relatada na primeira leitura prefigura a Páscoa de Cristo e o banquete pascal (a Eucaristia) que Ele instituirá.

Instituindo a Eucaristia e passando por sua paixão, morte e ressurreição, Jesus quis mostrar que Ele era o cumprimento das profecias e das figuras do Antigo Testamento, que era o verdadeiro Cordeiro Pascal, que com seu derramamento de sangue e sua morte, salvaria definitivamente seu povo e toda a humanidade. Ao transformar pão e vinho em seu próprio Corpo e Sangue, estabeleceu o rito pascal da Igreja.

Na segunda leitura (1Cor 11, 23-26) Paulo nos relata a última ceia e como Cristo instituiu a Eucaristia. É considerado o relato mais antigo da instituição, por isso, é colocado nesta missa, pois é de particular interesse e valor. Ele nos indica que por volta de 57 d.C. a tradição litúrgica da Santa Eucaristia já estava firmemente estabelecida. A Igreja primitiva já testemunhava sua fé na presença real de Cristo no sacrifício da Eucaristia: “Isto é o meu corpo que é para vós”. Nessa época a Igreja já tinha consciência de que celebrar a Eucaristia era obedecer à ordem de Jesus: “Fazei isto em memória de mim”. A exemplo da Igreja primitiva, atualmente a Igreja celebra a Eucaristia não apenas como o memorial de Cristo, mas também anunciandos o seu retorno no fim dos tempos.

O Evangelho desta missa (Jo 13,1-15) nos relata o lava-pés dos discípulos. Este Evangelho nos mostra o tema do amor fraterno, intimamente ligado à Eucaristia, pois ela é o “sacramento do amor”. Celebrar o sacrifício da missa é nos comprometer com o amor e o serviço aos irmãos. É seguir a doutrina de amor que Cristo nos ensinou. O gesto de Jesus ao lavar os pés dos discípulos, os espantou. O Mestre lavando os nossos pés? Como pode ser isso? Mas Jesus realiza com este gesto uma lição de amor e de serviço: “Eu não vim ao mundo para ser servido, mas para servir! Vendo o espanto dos discípulos, nosso Senhor diz: “Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais”.

Nesta missa, evocando este gesto de Jesus, doze pessoas são escolhidas para representar os apóstolos. São colocadas à vista de todos no presbitério e o presidente da celebração, usando um avental, pega uma toalha, derrama água e lava os pés de cada um dos representantes dos apóstolos. Depois os enxuga. Durante esta cerimônia o grupo de canto entoa alguns cantos tradicionais que evocam o momento em que o Mestre lava os pés de seus apóstolos. Nesses cantos é comum aparecer as seguintes palavras proferidas por Cristo: “Eis que eu vos dou um novo mandamento, deixo, ao partir, nova lei: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei”.

A missa da Ceia do Senhor, além da instituição da Santa Eucaristia, nos transmite a mensagem do serviço mútuo. A lavagem dos pés dos discípulos simbolizou profundamente o ato supremo de Jesus de serviço amoroso a toda humanidade, a ponto de chegar ao sacrifício da sua própria vida em expiação dos nossos pecados. Nesse sentido, Cristo deseja que o sigamos até mesmo nas menores coisas, e também se necessário dar nossas vidas por sua causa.

Ao final desta missa somos convidados a continuar em adoração a Jesus Eucarístico por um determinado tempo que, geralmente vai até a meia-noite. É o que chamamos de vigília eucarística. Ela tem por finalidade evocar a própria vigília de Cristo no jardim do Getsêmani, onde Jesus foi tomado de grande tristeza diante do sofrimento que passaria: “Ó Pai se for possível afaste de mim este cálice, mas que não se faça a minha vontade e sim a tua”. Lembremos aqui as palavras de Jesus que convida os três discípulos a vigiar e orar com Ele... Quando volta, encontra os três dormindo... Como?... “Não fostes capazes de vigiar comigo por uma hora!” (Mt 26, 38.40).

Que possamos fazer de nossa vida uma verdadeira Eucaristia!



terça-feira, 19 de abril de 2011

QUINTA-FEIRA SANTA

A Quinta-feira Santa corresponde ao último dia da Quaresma e nos introduz no Tríduo Pascal. Esse dia nos prepara finalmente para a Páscoa, iniciando a celebração pascal. 

Assim como Jesus enviou seus discípulos, dando uma ordem: “Ide preparar-nos a Páscoa para comermos” (Lc 22,8), também, nesse dia, nos preparamos para a celebração da Páscoa. Devemos nos preparar espiritualmente neste dia que nos introduz no mistério pascal de Cristo.

Na Quinta-feira Santa, celebram-se duas missas: 


uma delas ocorre na catedral, é a conhecida missa dos santos óleos, onde se procede a bênção do óleo do batismo e dos enfermos e a consagração do óleo do crisma; é também uma missa que evoca a unidade da Igreja em torno do Bispo e do Papa. Sacerdotes de demonstração de unidade. É a Igreja, corpo de Cristo, onde Cristo é a cabeça.

A outra missa ocorre nas paróquias e ordens religiosas da diocese, é a missa da Ceia do Senhor; quando Jesus, na primeira Quinta-feira Santa, instituiu a Eucaristia e também instituiu o sacerdócio. Portanto, além da celebração da Ceia do Senhor, também se dá destaque ao tema do sacerdócio, pois ambos os temas estão forte e intimamente ligados.

Na missa da manhã, missa do crisma ou dos santos óleos, que ocorre exclusivamente nas catedrais, o bispo diocesano é o presidente da celebração e também o consagrador dos óleos. Como já se mencionou acima, temos o povo de Deus reunido junto ao bispo, presbíteros, diáconos e seminaristas numa participação ativa em torno da mesa eucarística, todos juntos, numa única oração, junto do altar como sinal de unidade da Igreja. Na pessoa do bispo, cabeça da Igreja local, rodeado pelos presbíteros e representantes das ordens religiosas, temos a concelebração da Eucaristia na unidade e na fraternidade. A participação do povo de Deus nessa missa é de grande importância pois, a Igreja fica incompleta sem a presença dos leigos e leigas. Aqui também se expressa a manifestação da Igreja hierárquica. Em estreita proximidade da Páscoa do Senhor, os óleos do batismo (ou dos catecúmenos) e dos enfermos são abençoados solenemente, estes, depois serão usados nos sacramentos do Batismo e Unção dos Enfermos, respectivamente. O óleo do crisma é consagrado. A ele se adiciona uma essência perfumada, pois o cristão, pelo sacramento da Crisma, ao receber esse óleo na fronte, deve exalar o perfume de Cristo pelo seu testemunho de vida e seguimento do Evangelho. O óleo do crisma é também usado na realização do sacramento da Ordem, quando um diácono se torna padre; suas mãos são ungidas para que possam, pelo poder do Espírito Santo e imposição de suas mãos sacerdotais, transformar as espécies do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Cristo. Quando um padre é escolhido para bispo, na sua sagração, novamente esse óleo do crisma será agora, derramado sobre sua cabeça, ungindo-o para o episcopado.

Como vimos, pelo uso dos santos óleos, os sacramentos citados têm intima ligação com a Páscoa. Mesmo aqueles que não usam dos óleos sagrados, também unem-se intimamente à Páscoa, à ressurreição de Cristo, pois todos, nos conduzem à promessa de ressurreição assegurada por Ele.

A segunda missa, a missa vespertina, quando Jesus na última ceia nos transmitiu o mistério da Eucaristia, também instituiu o sacerdócio cristão. Essa missa nos transmite uma verdadeira catequese sobre o sacerdócio ministerial, assim como o sacerdócio geral dos fiéis recebido pelo Batismo, pois, “Jesus Cristo fez de nós um reino de sacerdotes para Deus Pai”, é o que nos diz a antífona da entrada. Há um único sacerdócio: o de Jesus Cristo, o sacerdócio ministerial e o geral dos fiéis é participação nesse único sacerdócio de Cristo. Ele é o nosso Mediador e Sumo-Sacerdote. O profeta Isaias (Is 63,1-3.6.8-9) e o evangelista Lucas (Lc 4,16-21) referem-se a esse sacerdócio de Jesus: “O Espírito do Senhor repousa sobre mim, porque ele me ungiu”. Nesta missa há a renovação das promessas sacerdotais, pois os padres, mediante o sacramento da Ordem, participam de modo único do sacerdócio de Cristo. A eles é conferido o poder de remir os pecados, transformar pão e vinho do Corpo e Sangue do Senhor. São de modo especial, administradores dos sacramentos, mestres e pastores da Igreja. Eles são escolhidos por Deus para irem à frente do povo exercendo a caridade, alimentando-os com a Palavra de Deus e restaurando-os com os sacramentos. Por isso, devemos constantemente, orar ao Pai pelos nossos padres, pois não é fácil para eles viverem sob as exigências de sua vocação. Nossa oração e nosso apoio são, portanto, fundamentais.

A missa vespertina da Ceia do Senhor dá início ao Tríduo Pascal. Tríduo nos passa a idéia de preparação. É, portanto, a preparação para a festa da Páscoa, da Ressurreição, da vida nova! Nestes três dias mais sagrados, a partir da Quinta-feira Santa, celebramos e meditamos a crucificação, sepultamento e ressurreição de Cristo. São dias em que refletimos tanto o lado sombrio como o lado radiante do mistério salvífico de Cristo.

Jesus, na última ceia, disse aos apóstolos: “Vós vos entristecereis, mas a vossa tristeza se transformará em alegria” (Jo 16, 20). Jesus refere-se aqui à tristeza da perda do Mestre, à tristeza de presenciar os sofrimentos impostos a Cristo durante seu julgamento e condenação à morte. O apóstolo João, aquele que Jesus amava, vivenciou de perto, junto de Maria Santíssima esse sofrimento. Uma mulher em trabalho de parto, nos expressa muito bem o sofrimento a que Jesus se refere no versículo citado: as dores do parto geram profundo sofrimento, mas depois, essas mesmas dores geram a alegria por um novo ser humano ter nascido! “Se o grão de trigo cai na terra e não morre, permanece apenas um simples grão; mas se morre, produz abundante colheita” (Jo 12,24).

O sofrimento em si mesmo não é bom. Mas o sofrimento, sob o ponto de vista cristão, é positivo. Cristo na cruz verdadeiramente sofreu, mas seu sofrimento não foi em vão, foi um sofrimento redentor que libertou toda a humanidade das amarras do pecado e da morte. Nosso caminhar deve ser iluminado pelos ensinamentos de Cristo e também pelos seus exemplos de caridade e fraternidade. Cristo nos ensina que a vida substituiu a morte. Que a cruz é o caminho da ressurreição.

No Tríduo Pascal, celebramos e meditamos o modelo e programa ensinado por Cristo que nós, batizados devemos seguir em nossas próprias vidas.


sábado, 16 de abril de 2011

Domingo de Ramos

O Domingo de Ramos abre por excelência a Semana Santa. 

              Relembramos e celebramos a entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém, poucos dias antes de sofrer a Paixão, Morte e Ressurreição. 

              Este domingo é chamado assim porque o povo cortou ramos de árvores, ramagens e folhas de palmeiras para cobrir o chão onde Jesus passava montado num jumento. Com folhas de palmeiras nas mãos, o povo o aclamava “Rei dos Judeus”, “Hosana ao Filho de Davi”, “Salve o Messias”... E assim, Jesus entra triunfante em Jerusalém despertando nos sacerdotes e mestres da lei muita inveja, desconfiança, medo de perder o poder. Começa então uma trama para condenar Jesus à morte e morte de cruz.
  
              O povo o aclama cheio de alegria e esperança, pois Jesus como o profeta de Nazaré da Galiléia, o Messias, o Libertador, certamente para eles, iria libertá-los da escravidão política e econômica  imposta cruelmente pelos romanos naquela época e, religiosa que massacrava a todos com rigores excessivos e absurdos. 

            Mas, essa mesma multidão, poucos dias depois, manipulada pelas autoridades religiosas, o acusaria de impostor, de blasfemador, de falso messias. E incitada pelos sacerdotes e mestres da lei, exigiria de Pôncio Pilatos, governador romano da província, que o condenasse à morte.  

              Por isso, na celebração do Domingo de Ramos, proclamamos dois evangelhos: o primeiro, que narra a entrada festiva de Jesus em Jerusalém fortemente aclamado pelo povo; depois o Evangelho da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, onde são relatados os acontecimentos do julgamento de Cristo. Julgamento injusto com testemunhas compradas e com o firme propósito de condená-lo à morte. Antes porém, da sua condenação, Jesus passa por humilhações, cusparadas, bofetadas, é chicoteado impiedosamente por chicotes romanos que produziam no supliciado, profundos cortes com grande perda de sangue. Só depois de tudo isso que, com palavras é impossível descrever o que Jesus passou por amor a nós, é que Ele foi condenado à morte, pregado numa cruz.

              O Domingo de Ramos pode ser chamado também de “Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor”, nele, a liturgia nos relembra e nos convida a celebrar esses acontecimentos da vida de Jesus que se entregou ao Pai como Vítima Perfeita e sem mancha para nos salvar da escravidão do pecado e da morte. Crer nos acontecimentos da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, é crer no mistério central da nossa fé, é crer na vida que vence a morte, é vencer o mal, é também ressuscitar com Cristo e, com Ele Vivo e Vitorioso viver eternamente. É proclamar, como nos diz São Paulo: ‘“Jesus Cristo é o Senhor”, para a glória de Deus Pai’ (Fl 2, 11). 


http://www.koinonialivros.com.br/massarote/domingo_ramos/domingo_ramos.html 

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O significado do Domingo de Ramos

A atitude das pessoas contemporâneas de Jesus, que o festejaram na sua entrada em Jerusalém e depois o abandonaram à mercê de seus algozes, se assemelha, muitas vezes, a atitudes de cada um de nós que louvamos a Cristo e nos enchemos de boas intenções para seguir os seus ensinamentos e, ao primeiro obstáculo, nos deixamos levar pelo desânimo, ou pelo egoísmo, ou pela falta de solidariedade e, mais uma vez, alimentamos o sofrimento de Jesus.

A Festa de Ramos com hosanas e saudações, prefigura a vitória de Cristo sobre a morte e o pecado, mas a hora definitiva ainda chegará. Jesus vai ao encontro da paixão com plena consciência e aceitação livre. Tem o poder de solicitar legiões de anjos que venham em seu auxílio, mas renuncia ao uso deste poder. Ele veio trazer a paz ao mundo, escolhe o caminho da humildade, a vontade do Pai se realizando.

Jesus entra em Jerusalém em clima de festa. Parece que Ele quer mesmo isso porque arma a cena que reproduz direitinho a profecia de Zacarias (o rei dos judeus virá como rei pacífico, montado num jumentinho, não numa montaria de guerra). É aquela aclamação. O povo festejava na expectativa de ter finalmente o prometido descendente de Davi, que ia reconduzir Israel a uma situação de vitória até maior do que as glórias idealizadas do passado. "Hosana ao filho de Davi", clamavam. E a lembrança das promessas feitas à dinastia de Davi alimentava certa imagem do Messias. O problema é que essa imagem de Messias poderoso, invencível, não ia combinar bem com o que aguardava Jesus pouco tempo depois.

Entre a entrada festiva como rei em Jerusalém e o deboche da flagelação, da coroação de espinhos e da inscrição na cruz (Jesus de Nazaré, rei dos Judeus), somos levados a pensar: Que tipo de rei o povo queria? E que tipo de rei Jesus de fato foi?

O povo ansiava por um Messias, mas cada um o imaginava de um jeito: poderia ser um rei, um guerreiro forte que expulsasse os romanos, um “ungido de Deus” capaz de resolver tudo com grandes milagres... É verdade que havia também textos que falavam no Messias sofredor, que iria carregar os pecados do povo. Mas essa idéia tão estranha não tinha assim muito apelo. Talvez o povo pensasse como muita gente de hoje: “de sofredor, já basta eu, quero alguém que saiba vencer”.

Deus, como de costume, exagera na surpresa. O Messias, além de não vir alardeando poder, entra na fila dos condenados. Para quem não olhasse a história com os olhos de hoje, não haveria muita diferença entre as três cruzes no alto do monte Calvário.

Domingo de Ramos é o portal de entrada da Semana Santa. 

Para as comunidades cristãs, esta semana maior sempre será um confronto com o problema do mal no mundo. Muito sofrimento. Além das catástrofes naturais, há no mundo muita opção de morte, desde a violência da guerra, o terrorismo, a violência urbana, a morte pela fome e as deficiências até a violência contra a própria natureza.Qual a saída? A guerra preventiva para vencer o terrorismo com o terrorismo? A imposição da idolatria do capital contra o império do mal?  Ou a saída, certamente a mais difícil, não será a da proposta do Evangelho, que passa pelo mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor? 

Muitas vezes Jesus caminha ao nosso encontro e nós não o reconhecemos. Tenhamos a coragem de viver estes dias da Paixão meditando os sofrimentos de Cristo, que são os nossos sofrimentos para vencermos a morte na alegria da Ressurreição.

Dom Eurico dos Santos Veloso

 http://www.cnbb.org.br/site/artigos-dos-bispos/dom-eurico-dos-santos-veloso/2763-o-significado-do-domingo-de-ramos

quinta-feira, 14 de abril de 2011

As galinhas também amam

Poucas pessoas acreditam que um pé de alface sofre quando seu vizinho de horta é arrancado e devorado, ainda vivo, em uma salada. No outro extremo, ninguém duvida que uma mãe se preocupa e compartilha o sofrimento de seu filho. Apesar de a palavra amor fazer pouco sentido quando usada fora do contexto das relações entre seres humanos, a empatia - definida como a capacidade de um animal de ser afetado e compartilhar o sofrimento de outro membro da sua espécie - foi demonstrada em muitos mamíferos.

A reportagem é de Fernando Reinach, biólogo, e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 14-04-2011.

Para os estudiosos do comportamento animal, a empatia existe quando é possível demonstrar que um indivíduo, ao observar o sofrimento ou desconforto de um outro indivíduo, desenvolve reações semelhantes às de quem está sofrendo sem que as causas desse sofrimento estejam presentes. Ratos que observam seus filhotes sendo ameaçados por um predador desenvolvem reações semelhantes às apresentadas pelos filhotes ameaçados.

Quando imobilizamos um bezerro, seu coração bate mais rápido, e a quantidade de adrenalina no seu sangue aumenta. Se a vaca, mãe do bezerro, observar a imobilização do filhote, seus batimentos cardíacos e a concentração de adrenalina também aumentarão, indicando que ela compartilha e está "preocupada" com o destino da cria. A descoberta da empatia entre mamíferos foi um dos argumentos usados para forçar os criadores de porcos e bovinos a adotar práticas "humanitárias" durante a criação e o abate desses animais.

Nas aves, cujo cérebro é muito mais simples do que o dos mamíferos, a empatia nunca havia sido demonstrada. Os cientistas acreditavam que o comportamento de uma galinha ao chamar os pintinhos no terreiro ou cobrir seus filhotes com as asas era totalmente automático e instintivo, não havendo a possibilidade dos sentimentos de um animal contagiar o outro por meio da observação visual. Agora isso mudou: foi demonstrado que uma galinha, ao observar o desconforto de seus pintinhos, sofre alterações metabólicas e comportamentais.

Trinta e duas galinhas foram estudadas nas semanas seguintes ao nascimento de suas ninhadas de pintinhos. O comportamento das galinhas foi analisado em quatro condições experimentais. Em todos os casos, os animais foram colocados em um pequeno cercado dividido ao meio por uma placa de vidro. De um lado ficava a galinha e do outro, os pintinhos. No primeiro experimento, os animais simplesmente ficavam separados. No segundo experimento, além de separados, uma pequena mangueira soprava "pufes" de ar a cada 30 segundos sobre as penas da galinha, o que causa um pequeno desconforto no animal (os pintinhos não eram incomodados). No terceiro caso, o ar era soprado em "pufes" sobre os pintinhos e a galinha não era incomodada. No quarto experimento, somente o barulho do ar era ouvido a cada 30 segundos, mas o ar não agitava as penas de nenhum deles.

Durante o tempo em que os animais ficavam em cada uma dessas situações, os cientistas mediram o batimento cardíaco das galinhas (usando monitores remotos), a temperatura da crista da galinha e de seus olhos (usando câmaras digitais sensíveis à temperatura) e o comportamento das galinhas (filmando todo o experimento e analisando as imagens).

O que foi observado é que, nas situações controle (sem ar assoprando ou somente com o barulho do ar), nenhum dos parâmetros medidos se alterou. Galinhas e pintinhos ficaram felizes, um observando o outro através da parede de vidro. Mas quando o ar soprava sobre a galinha, a temperatura dos olhos e das cristas da galinha mãe diminuía (uma indicação de estado de alerta). Ela parava de ciscar, tomando uma postura de cabeça levantada, também um sinal de alerta, mas seus batimentos cardíacos não se alteravam. O mais interessante foi o resultado obtido quando a galinha não estava sendo incomodada, mas simplesmente observava o ar soprando sobre os pintinhos. Nesse caso, a temperatura dos olhos e da crista também diminuíam, a postura de alerta ficava mais frequente e, além disso, os batimentos cardíacos ficavam mais rápidos e menos regulares. A galinha também emitia com mais frequência o piado típico de "venham para perto, pintinhos".

Os cientistas acreditam que isso demonstra que as galinhas mães, ao observarem visualmente o que estava acontecendo com os pintinhos, tiveram uma reação semelhante à que apresentavam quando eram incomodadas pelo mesmo tipo de estímulo. Isso demonstra que existe algum tido de empatia entre as galinhas e seus pintinhos.

Esta é a primeira vez que o "sentimento" de empatia e "preocupação" é formalmente demonstrado em aves. Tudo indica que as aves são capazes de uma forma primitiva de amor. A descoberta de que uma galinha é capaz de sofrer ao observar o sofrimento de outros membros de sua espécie é um bom argumento para quem defende melhores condições de criação e abate para os milhões de frangos que são produzidos, mortos e devorados pelo Homo sapiens a cada semana.

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=42417

domingo, 10 de abril de 2011

Por uma Igreja que pensa

Por uma Igreja que pensa - Pe. Zezinho, scj

Leitores que não preparam as leituras.
Cantores que não ensaiam os cantos.
Coroinhas que não ensaiam sua parte.
Sacerdotes que não preparam seus sermões.
Catequistas que não lêem os documentos da Igreja.

Pregadores que não leram o catecismo.
Cantores desafinados que insistem em liderar os cantos da missa.
Músicos sem ritmo e sem ensaios que tocam alto e errado.
Cantores que dão show de uma hora
sem perceber que a guitarra e o baixo estão desafinados.
De quebra, também um dos solistas...

Autores que não aceitam corrigir seus textos e suas letras,
antes de apresentá-los a milhões de irmãos na fé.
Cantores que teimam em repetir uma canção
cuja letra o bispo já disse que não quer que se cante mais.
Párocos que permitem que qualquer um lidere as leituras e o canto.
Párocos que permitem qualquer canção, mesmo se vier errada.

Sacerdotes que ensinam doutrinas condenadas pela Igreja,
práticas e devoções com ranços de heresia ou de desvio doutrinário.
Animadores de programas católicos com zero conhecimento de doutrina.

*** Parecemos um hospital que, na falta de médicos na sala de cirurgia,
permite aos secretários, porteiros e aos voluntários bem intencionados que operem o coração dos seus pacientes.

Há católicos aconselhando, sem ter estudado psicologia.
Há pregadores receitando, sem conhecer a teologia moral.
E há indivíduos ensinando o que lhes vem na cabeça,
porque, entusiasmados com sua fama e sua repercussão,
acham que podem ensinar o que o Espírito Santo lhes disse naquela hora.

Nem sequer se perguntam se de fato era o Espírito Santo que lhes falou
durante aquela adoração, ou aquela noite mal dormida!

Está faltando discernimento na nossa Igreja!
Como está parece a casa da mãe Joana,
onde todos falam e apenas uns poucos pensam no que falam.
Uma Igreja que não pensa acaba dando o que pensar!


Data da publicação: 20/07/2010

sábado, 9 de abril de 2011

Amigos da Bíblia 7 - O evangelho de João

O evangelho de João

O evangelho de João é também chamado de quarto evangelho. Ele é posterior aos evangelhos sinóticos (Mc, Mt e Lc). Sua estrutura difere muito dos demais. É um evangelho bastante espiritual. João apresenta Jesus de forma preexistente (Jo 1,1-17). Ele diz: “No princípio era o Verbo, o Verbo estava em Deus e o Verbo era Deus” (Jo 1,1). Jesus, o Verbo, era Deus e estava desde o princípio. Estava como Verbo, mas ele resolveu se encarnar na história dos humanos.

João apresenta seu evangelho se desenvolvendo em duas semanas. Logo no primeiro capítulo ele começa a contar dias, como no Gênesis 1. Ele descreve o início da ação de Jesus (Jo 1,19ss) e depois diz: “No dia seguinte” (Jo 1,29). O mesmo ele repete em Jo 1,35 e em Jo 1,43. Nas bodas de Caná ele diz: “ três dias depois”, ou “no terceiro dia” (Jo 2,1ss). Está ali iniciando a primeira semana e nela Jesus age criando o homem novo. A primeira semana culmina com a ressurreição de Lázaro (Jo 11). Em Jo 12 ele inicia a segunda semana. “Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia” (Jo 12,1). Esta segunda semana culmina no sábado santo, quando Jesus está na sepultura (Jo 19,38ss).

Agora acabou a velha realidade. Com a ressurreição de Jesus inicia a nova semana, ou seja, o domingo sem ocaso. “No primeiro dia da semana, Maria Madalena vai ao sepulcro (Jo 20,1). É no primeiro dia da semana que Maria Madalena encontra o ressuscitado e o testemunha aos apóstolos (Jo 20,18). Ainda é no primeiro dia da semana, à tarde que Jesus aparece aos discípulos; “À tarde deste mesmo dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas...! (Jo 20,19ss). Foi neste primeiro dia que Jesus assopra o Espírito Santo sobre os apóstolos e lhes dá a missão de continuar a sua obra pelo mundo. Tomé, o incrédulo, não participou do primeiro dia e por isto não chegou à fé no ressuscitado (Jo 20,24). Oito dias depois, portanto, novamente no primeiro dia da semana, a comunidade estava reunida e Tomé estava com a comunidade e o milagre acontece: no primeiro dia ele pode proclamar: “meu senhor e meu Deus” (Jo 20,28). Agora é o primeiro dia que não termina ou o domingo sem ocaso. Neste dia acontece a Igreja, isto é, a adesão a Jesus pela fé, mesmo sem ter visto.

Concluindo

Jesus fez muito mais do que está escrito nos evangelhos (Jo 20,30 e Jo 21,25). João se valeu de uma parte e dispôs esta parte numa redação lógica para apresentar Jesus como aquele que veio para recriar o homem novo. A obra de Jesus se completa com a paixão, morte e ressurreição. Agora iniciou a nova realidade. O ressuscitado pede a adesão pela fé, pois assim a sua obra continua através da história. Muitas outras idéias poderiam ser destacadas no quarto evangelho, mas devido ao espaço ficamos por aqui. Noutras ocasiões estudaremos partes dos evangelhos, e provavelmente também do evangelho segundo S. João.

Frei Bruno Glaab


sábado, 2 de abril de 2011

“Aprendi”...


Aprendi
que eu não posso exigir o amor de ninguém,
posso apenas dar boas razões para que gostem de mim
e ter paciência, para que a vida faça o resto.
Aprendi
que não importa o quanto
certas coisas sejam importantes para mim,
tem gente que não dá a mínima
e eu jamais conseguirei convencê-las.
Aprendi
que posso passar anos construindo uma verdade
e destruí-la em apenas alguns segundos.
Aprendi
que posso usar meu charme por apenas 5 minutos...
depois disso, preciso saber do que estou falando.
Eu aprendi...
Que posso fazer algo em um minuto
e ter que responder por isso o resto da vida.
Aprendi
que por mais que se corte um pão,
cada fatia continua tendo duas faces...
e o mesmo vale para tudo
o que cortamos em nosso caminho.
Aprendi
Que vai demorar muito para me transformar
na pessoa que quero ser... 
e devo ter paciência.
Mas aprendi também,
que posso ir além dos limites que eu própria coloquei.
Aprendi
que preciso escolher entre
controlar meus pensamentos ou ser controlado por eles.
Aprendi...
Que os heróis são pessoas
que fazem o que devem fazer “naquele” momento, independentemente
do medo que sentem.
Aprendi
que perdoar exige muita prática
e que há muita gente que gosta de mim,
mas não consegue demonstrá-lo.
Aprendi...
Que nos momentos mais difíceis,
a ajuda veio justamente daquela pessoa
que eu achava que iria tentar piorar as coisas.
Aprendi
que posso ficar furiosa.
Tenho direito de me irritar, mas não tenho o direito de ser cruel.
Aprendi
e repasso ao mundo,
que jamais posso
dizer a uma criança que seus SONHOS SÃO IMPOSSÍVEIS,
pois seria uma tragédia para o mundo
se eu conseguisse convencê-la disso.
Eu aprendi
que meu melhor amigo vai me machucar de vez em quando...
E que eu tenho que me acostumar com isso.
Aprendi
que não é o bastante ser perdoada pelos outros...
eu preciso me perdoar primeiro.
Aprendi que,
não importa o quanto meu coração esteja sofrendo,
o mundo não vai parar por causa disso.
Eu aprendi...
Que as circunstâncias de minha infância são responsáveis
pelo que eu sou,
mas não pelas escolhas que eu faço quando adulto.
Aprendi que,
numa briga, eu preciso escolher de que lado estou,
mesmo quando não quero me envolver.
Aprendi
que, quando duas pessoas discutem, não significa que elas se odeiem;
e quando duas pessoas não discutem,
não significa que elas se amem.
Aprendi que,
por mais que eu queira proteger os meus filhos,
eles vão se machucar e eu também.
Isso faz parte da vida.
Aprendi
que a minha existência
pode mudar para sempre, em poucas horas,
por causa de gente que eu nunca vi antes.
Aprendi
também que diplomas na parede não me fazem
mais respeitável nem mais sábia.
Aprendi
que as palavras de amor perdem o sentido,
quando usadas sem critério.
E que amigos não são apenas para guardar no fundo do peito,
mas para mostrar que são amigos.
Aprendi
que certas pessoas vão embora da nossa vida
de qualquer maneira, mesmo que desejemos
retê-las para sempre
Aprendi, afinal
que é difícil traçar uma linha entre ser gentil,
não ferir as pessoas, e saber lutar pelas coisas em que acredito.
Enfim, eu aprendi
que ainda tenho muito
a aprender em minha vida.